quinta-feira, 31 de julho de 2008

O céu

Hoje vi um céu estrelado lindo enquanto viajava na parte de trás de um carro de um amigo. Um céu repleto de estrelas que me recordou a minha infância. Lembrei-me quando me metia a olhar para cima e toda a imensidão do universo me dava um sentimento maior, misto de medo e de saudades do futuro. Porém, hoje encontro-me no futuro e esse sentimento maior em nada mudou.
É engraçado, mas custa-me mais compreender o conceito de infinito do que de finito. E, isso leva-me sempre ao tema da morte. Porque recordo nestes momentos a efemeridade das coisas, especialmente das belas e daquelas que não queremos que acabem nunca.
No carro, ouve-se uma música agradável, qualquer coisa entre o jazz e a electrónica, qualquer coisa que combina bem com as paisagens escuras que passam em sequência cinematográfica e as estrelas que habitam o gigante nocturno.
Deixo-me embebedar por todo este cenário, enquanto tento abstrair-me da discussão do casal que vai à frente. Discussão estúpida, barata e sem sentido. Gostam-se, mas parece que fazem de tudo para se detestar. E eu, não entendo porque é que a maioria das pessoas que se amam fazem isso.
Imagino então uma curva apertada e inesperada em que o carro perde a aderência ao piso e se vira. A inevitável morte de um deles. E acredito que não deve haver algo mais frustrante que perder um amante no meio de uma discussão, perdê-lo sem ter tempo de pedir perdão.
Tocar aquele corpo inanimado, aquela alma ausente, fora do carro e já sem vida e sentir o peso na consciência de se ter menosprezado o melhor que se tinha. Olhar o céu, no auge da fúria das lágrimas incansáveis, e finalmente perceber a insignificância da existência humana... enquanto que no carro virado ainda toca o jazz dançável.

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