quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Pensava-me morta

Pensava-me morta. Quase morri. Bati certamente às portas da morte e, por sorte, ninguém atendeu.
Julguei-me então moribunda. Houve quem me desse a extrema-unção. Houve quem me chorasse aos pés da cama. Houve quem me tirasse medidas e até houve quem me encomendasse o caixão.
Encontrei-me adoentada, agasalhada com todos os cobertores que conheci. A cabeça a doer e o coração também. Os dias a quererem-se para lá das portadas sempre fechadas. Os lenços de papel a cobrirem o chão e a febre, sempre teimosa, a inundar-me os sonhos de imagens surreais.
E afinal... Afinal estava viva e só não me apetecia viver.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Percebi então que não nos basta o arrepio na espinha aparecer para que tudo o resto se resolva. Hoje guardo as palavras que não disse e reinvento-as de cada vez que encontro um vulto que se assemelha à última vez que te olhei, envergonhada por não ter coragem de to dizer. Hoje, busco em todos os recantos do nosso amor, as palavras que se disseram por engano, as palavras forasteiras. Procuro-as como se delas dependesse a minha salvação eterna. E mais não encontro senão um vago retrato do que nós poderíamos ter sido. E, irremediavelmente, não fomos.