segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Rios

A minha vida tem rios. Rios que correm descontrolados, agitados, cinzentos. Rios que cheiram a maresias, maresias que cheiram a distantes pescarias, onde os mares engolem os odores das águas doces dos rios.
A minha vida tem rios. De margens recortadas por mãos humanas. De dejectos descarregados nos seus leitos. De marés vazias sempre cheias. De corpos bicados por gaivotas a boiar distraídos.
A minha vida tem rios. Rios de peixes mortos a correrem poluídos. Rios vazios, rios secos e rios subterrâneos. Rios clandestinos e rios com nomes de mar.
A minha vida tem rios e eu morro de sede.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Tudo o que faço

Tudo o que faço, mede-se pelo compasso desacertado do teu relógio parado.
(daí esta minha sensação de estar sempre no mesmo lugar, estática, deixando para depois aquilo que poderia fazer)
Tudo o que faço, de nada serve, portanto.
E, tudo o que serve, de nada me faz.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Amolador II

Não quero mais esperar pelo amolador, enquanto limpo o sangue fresco das facas espetadas no teu peito, depois de mais um dia de trabalho.

O Amolador

O Amolador desce a rua na sua velhinha yeh-yeh. O seu avô ensinara-lhe a profissão que nunca quis aprender, da qual nunca soube viver. O avô, contara-lhe velhas histórias, de ruas cheias de velhas, de facas em punho, para amolar. O amolador esqueceu-se do seu avô, num lar. Nunca lhe ouviu os conselhos e nem sequer gosta da melodia que aprendeu à lareira, nessa infância distante, cinzenta e fria.