terça-feira, 1 de julho de 2008

A multa

No outro dia, estava eu toda contente a enxotar Dicas e afins da caixa do correio, quando me deparo com um postal para levantar uma carta registada, cuja única e amável coisa que dizia era GNR no remetente.
Ui, medo! Pânico! O que é que eu fiz desta vez? Roubei? Estrangulei? Fui apanhada numa falcatrua? Espera aí... eu não me meto nessas coisas, o que quererão "ELES" de mim?
Confesso que ainda me ocorreu que fosse o Rui Reininho, mas desfiz logo essa dúvida, pois ele não deve gostar de alentejanas, muito menos daquelas que nasceram em Lisboa.
Graças a isto, passei uma tarde de nervosismos e ansiedades, especulando sobre qual teria sido o meu crime: excesso de velocidade? Manobras perigosas? Duplos continuos? Atropelamento?
Chegam as 17h30 e meto-me a alta velocidade na minha bicicleta em direcção aos correios. Chego, tiro a senha e aguardo pacientemente pela minha vez. Como eu suspeitava, o Rui Reininho não gosta de alentejanas e a carta vinha mesmo do posto da GNR.
A carta era composta por 3 páginas. Não percebi nada. Da primeira página, acho q só li o assunto. Da segunda pouco percebi para além do meu nome e do valor a pagar. Até que encontrei o motivo, denominado por "descrição sumária", manuscrito pelo agente da autoridade da seguinte forma: "Porquanto no dia, hora e local acima mencionados o referido veiculo encontrava-se estacionado não respeitando a indicação dada pelo sinal (...)" blá, blá, blá. A nova geração sabe palavras giras. "Porquanto" é palavra que eu acho que nunca escrevi, a não ser hoje para contar esta história. Já estou desejosa da chegada da geração GNR com K's e X's com fartura. Aí sim vou fazer os possíveis para receber cartas registadas todas as semanas, para continuar a não perceber peva até à descrição sumária.
Fico intrigada. Leio mais acima, conforme sugere a descrição e encontro o nome da avenida onde trabalho. Estranho. Eu quase nunca estaciono ali. Melhor, eu raramente levo carro para o trabalho. Até que diante dos meus olhos aparece a matrícula do meu ex Renault 5, carro que tantas alegrias me deu mas, devido à sua morte iminente, já não me pertence há mais de um ano.
Dirijo-me ao posto da GNR e explico a situação e o senhor agente que me atende sugere, sem mais nem ontem, a apreensão imediata da viatura. Eu, que sou mais pela paz, digo que vou pensar no assunto, investigar o que se passou e logo decido o que fazer.
O rapaz, a quem eu dei o carro por ter a amabilidade de o rebocar da minha porta de casa para bem longe dali, arranjou-o, disfarçou o que havia a disfarçar e vendeu-o a uma rapariga. Segundo a repartição de finanças, a rapariga em questão registou o carro em seu nome em Agosto do ano passado.
Volto ao posto da GNR. Explico que o carro afinal já não é meu e que tenho um papel das finanças que o prova, pelo que quero devolver uma multa que só me veio parar por engano. Então, o senhor agente de serviço na recepção diz-me para eu pagar a multa e depois proceder ao envio, em carta registada, da reclamação, explicação do sucedido e exigência do reembolso do valor pago para a entidade que substitui a DGV, pois esta última não terá actualizado devidamente os dados da viatura.
Confesso que fiz uma cara semelhante àquela que faço quando vejo as caretas dos actores e actrizes dos malucos do riso quando terminam um sketch. O agente pergunta-me se eu não percebi. Claro que percebi, não entendo é porque tenho que ser eu a dispender do meu tempo e dinheiro por causa de uma coisa que eu nem sequer tenho a culpa, mas enfim...
O filho de uma colega também é GNR. Questionado sobre o assunto, sugere que eu procure a actual dona do Renault 5 e que a convide a ir ao posto comigo, a fim de resolver esta situação. Eu não a conheço e sendo a multa devido a uma infracção dela, muito duvido que ela me queira acompanhar ao posto.
Finalmente, como menina do papá que sou, faço as queixinhas todas ao meu pai. Ele, que não se faz rogado a sentir-se útil nesta sociedade, principalmente quando se trata de uma filha injustiçada, pegou na minha papelada e lá foi falar com um senhor agente da autoridade, que repudiou todas as 3 anteriores sugestões dadas pelos seus colegas e o informou que "basta" enviar uma carta ao governo civil, solicitando a regularização da situação visto o carro já não se encontrar em meu nome.
Porra, que país este!!

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