quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Falhar

Falhei, falhaste, falhámo-nos. Conjugámos verbos em tempos diferentes, concretizámos metáforas incompreensíveis e abandonámos a razão numa esquina escura dos nossos corações.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Uma questão de prevenção

Podem fornicar-me a cabeça à vontade, mas por favor usem preservativo, que eu não quero apanhar as vossas doenças mentais.
Tenho dito.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Um ano

Hoje, enquanto fazia tempo para nada ou procurava apenas uma mesa de café para ler um pouco do livro que me pesava na mala, descobri que tudo na minha vida é medido em ciclos de um ano. E isso, parecendo que não, assustou-me. Um ano é uma medida pequenina, mas que multiplicada por dez dá uma década e multiplicada por cem, dá o tempo que nunca viverei: um século.

Contudo, ano após ano, tudo se volta a repetir, tudo volta a ter que ser feito. A consulta veterinária do cão e do gato. As prendas de Natal. O eterno dilema do onde e com quem passar a consoada?. A inspecção do carro. Os aniversários que se perdem e aqueles que não se queriam perder. Os carnavais e todas as outras "festividades". O Verão e o Inverno. A Feira de Agosto e o São Martinho. O tempo dos cogumelos e o tempo das favas...

E vai ficando sempre a promessa de que para o ano é que vai ser. E de repente, olhamo-nos ao espelho e apercebemo-nos que mais um ano acabou justamente de passar por nós.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Ele virou-se para mim, e antes que eu tivesse tempo para falar, segredou bem perto dos meus lábios: somos a acefalia perfeita! E eu, pela primeira vez na minha vida, soube o que era o amor.

Nada

Não me ocorre nada para dizer. Nada para escrever. Nada para inventar. Se fosse escritora ou poetisa, teria legitimidade para argumentar que a musa foi de férias, assim que poderei eu argumentar? Nada, claro está. Nada de nada, como a canção do outro.
Um dia, quando for rica, contrato uma musa e prometo que a trato bem. Que lhe pago os ordenados a tempo e horas e que não a obrigo a ficar depois do horário de trabalho. Há-de ser uma musa muito feliz ao meu lado. Ditar-me-á muitos poemas, muitas histórias, muitas ideias. Encherei este blogue de coisas fabulosas e terei tanto para escrever, que até editarei um livro. Ou mais. Uma centena deles, traduzidos em dezenas de línguas, para que todos em todo o mundo me possam ler nos seus sofás e nas suas camas. Para que todos me possam levar para as suas escolas ou, simplesmente, debater-me nas suas mesas de café.
Mas hoje e nos tempos que se avizinham, não tenho nada para dizer, escrever ou inventar. Nada. Mesmo nada. E por isso mesmo, não se poderá esperar nada vindo de mim.

(P.S - no texto original escrevi poeta em vez de poetisa, espero que não tenham ficado ofendidos comigo, ó meus quatro digníssimos leitores!)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Sempre o céu

Olhando o céu, descubro que consigo ver muito para além do que os meus olhos vêem. Para o bem e para o mal. Ou para o mesmo de sempre.

E o último dia é exactamente como o primeiro. Estaciona-se o carro no mesmo lugar. Olha-se o espaço da mesma forma e diz-se um adeus em vez de um olá.
Tudo o resto é história. As lágrimas caem, não de tristeza mas sim devido à certeza de estarmos outra vez entregues a nós próprios e ao destino que, de quando em vez, ainda conseguimos trocar-lhe as voltas.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Último dia

Que esperar do último dia de trabalho? Aparentemente, nada. Não há despachos na secretária, o telefone não toca e ninguém parece se importar com a minha presença ou não-presença. Aparentemente, digamos.
Cheguei 35 minutos atrasada. Acho que bati o recorde dos últimos meses. Acho que só uma única vez consegui chegar mais atrasada que isso. Mas quem se importa com isso afinal? Preferível assim e sem barulho, do que certinha e a mandar bocas sobre a minha situação de falsos recibos-verdes.
Planos para um último dia? Aqui vai uma listinha de coisas que se não fizesse hoje provavelmente morria:

- Consultar os e-mails de trabalho e pessoais (já fiz);

- Ligar o messenger (foi logo a primeira!);

- Beber café (faço-o neste preciso momento);

- Ir à rua dar baixa de actividade nas finanças e na segurança social;

- Falar animada e descontraidamente com os colegas;

- Fazer cócó (depois do café vem mesmo a calhar).

Que mais esperar do último dia de trabalho? Aparentemente, nada.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Tiraste-me um macaco-do-nariz e mastigaste-o com tamanha satisfação que eu quase acreditei que me amavas.

Pupilos II

Soraia andava cabisbaixa. No recreio, todos gozavam com ela. Na sala de aula, era a menina que dava mais erros ortográficos nos ditados, era a única que ainda não tinha percebido muito bem como se faziam multiplicações com números com dois algarismos.
Cassandra, era uma criança adorável. Era amada por todos. Todos queriam brincar com ela e com as suas Barbies, até a professora. Nas aulas era sempre a primeira a meter o dedo no ar e a acertar todas as perguntas que lhe eram feitas. As notas mais baixas que tinha, desde ginástica a matemática, eram "bons mais".
Um dia Cassandra foi ter com Soraia no recreio e segredou-lhe: tu também podes ser assim como eu, basta que me acompanhes a um sítio depois das aulas. Soraia ficou desconfiada, mas não querendo dar parte fraca (e com medo que Cassandra lhe desse porrada) aceitou o convite.
No dia seguinte, Soraia chega à escola sorridente: já não precisava mais do aparelho ridiculo nos dentes nem dos óculos de massa fundo de garrafa que usava todos os dias. As suas Barbies tinham-se tornado as mais belas. A sua bicicleta, de alumínio brilhante, não mais precisaria das duas rodinhas pequeninas de apoio. As multiplicações, divisões e subtracções tinham deixado de ser problema e passado a ter uma solução rápida e certeira.
Nada voltaria a ser igual para Soraia. Cassandra tinha-lhe mostrado o caminho da luz naquela tarde solarenga de Outono. Depois das aulas, e antes que os pais dessem por sua falta para jantar, Soraia tinha sido iniciada na Pequena Loja por Cassandra e a partir daí, secretamente, iria amar o seu bibe maçónico mais do que a qualquer outro objecto do mundo, sonhando assim com o dia em que irá, como os grandes, vestir o avental e erguer a espada.

Pupilos

Ouvi dizer que lá no meu bairro há uma criança que já anda nas lides maçónicas. Tem para aí uns 6 anos e para além de ter desenvolvido uma obsessão com tudo o que é esquadros, compassos e aventais, já toda ela é esoterismos, brincadeiras de duplos significados e sinais secretos ao jogar à macaca.
Nunca pensei que os catraios tivessem consciência maçónica, nem muito menos que entretidos que estão em ser crianças soubessem que existem sociedades secretas... mas ele há razões que a própria razão desconhece!
Contou-me a vizinha (e só a mim porque segundo a própria eu sou "iluminada") que tudo começou quando a miúda, pelo Natal, pediu a Loja da Barbie e o Ken Grão-Mestre. Os pais perceberam nesse preciso momento que ela tinha um factor M e logo se apressaram a metê-la na Pequena Loja Maçónica, também conhecida pelo nome Os Pupilos da Maçonaria.
Uma vez iniciada, recebeu um babete maçónico (que os pais hoje em dia guardam com grande orgulho). Agora, que já lhe foi mostrada a luz e que já domina a verdade das coisas, já veste o avental como os crescidos.
Dizem que ela cresceu muito enquanto ser humano. Que não faz birras para ir à escola e que partilha tudo com o irmão mais novo. Diz que sonha ser uma grande arquitecta. E a verdade é que a Pequena Loja Maçónica lhe tem sido muito útil para arranjar as melhores amizades e os melhores brinquedos.

Dedicatória

A todas as pessoas que me amam e a todas as pessoas que me odeiam, aqui me encontro hoje rendida a dedicar-lhes a minha vida.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Um cliché

Só temos uma vida. Uma única, que ainda por cima não sabemos quanto dura, quando acaba. Por isso penso: porquê passá-la a fazer coisas de que não gostamos? Porquê gastar horas com pessoas que não amamos? Porquê vivermos em sítios feios? E porquê abdicarmos dos nossos sonhos?
Há coisas na nossa vida que não têm preço. Eu sei de duas: sanidade mental e satisfação pessoal. E hei-de lutar por elas até ao fim. Porque não faz sentido viver infeliz e maluquinha, só porque sim ou só porque a sociedade nos impõe. Notícia de última hora: Ninguém nos impõe nada, nós é que inventamos imposições para justificar a nossa inércia.
Esta é a minha última semana no meu trabalho. Decidi sair e não me arrependo, antes pelo contrário: estou feliz. Não tenho ainda nada em vista, mas sei que irei ter e sei que irei seguir um rumo melhor do que este que estava a seguir. Sinto a sensação de liberdade que é ter tudo em aberto outra vez.
E sinto-me tão mais viva por saber que de vez em quando ainda consigo controlar a minha própria vida!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Yes, I do.

(imagem: http://www.depechemode.com/)

Menos azul

Hoje a minha casa ficou menos azul. A minha periquita morreu. Fecha-se assim um ciclo de periquitos e gaiolas e sementes que já durava há mais de 20 anos. Há uns bons 24, julgo eu.
Tudo começou com um periquito azul-clarinho, tinha eu uns 5 anos. Pensei que tudo tinha acabado há 3 anos, quando morreu a minha favorita: uma periquita branquinha que matou o seu cônjuge e viveu feliz e cantarolante durante mais de 10 anos.
Tudo recomeçou com esta periquita azul que apenas comprei para fazer companhia a um periquito cinzento que me deixaram lá em casa. Não se deram bem, o macho foi dado e ela ficou, a perder penas e a meter ovos todas as primaveras.
Bateu a asa esta madrugada, a pobre desgraçada pequenina e azul. Diria mesmo que era uma boa periquita-poedeira. Que era simpática, nervosinha e que sofria de queda de penas. E que eu, impotente, já não sabia mais que lhe fazer.

Acabou-se a passarada lá em casa. Acabaram-se a milhentas histórias que podia contar acerca destes bichos, desde o momento em que eu, pequenina e sonhadora, olhei para uma gaiolazinha e fiquei apaixonada pelo pequenino macho azul clarinho que piava lá dentro.

Acabou-se tudo, felizmente. Porque eu não suporto mais a dor de ver estes pequeninos bichos a sofrer.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ismos

Estava eu prestes a reprovar no 12.º, quando fui ter em desespero de causa (ou então na brincadeira...) com o meu professor de filosofia e pedi-lhe clemência (leia-se: um 10), argumentando que caso ele me reprovasse eu iria passar o resto da minha vida a vender fios de missangas pelo mundo fora. Ele respondeu-me que se assim fosse me invejaria a sorte.
Passados uns tempos, volto a encontrá-lo. Na conversa de circunstância surge a tal da pergunta da praxe (ou da calhandrice) em que interessa mesmo é obter informação sobre o que eu ando a fazer e eu respondo que me licenciei e trabalho em turismo. Ele responde-me, em jeito de brincadeira ou pura filosofia de algibeira, que turismo rima com terrorismo.
Hoje, a menos de uma semana de sair de livre e espontânea vontade do meu local de trabalho, sem perspectivas de emprego e sem saber o que a vida me reserva, compreendo as suas duas respostas: Não teria sido mesmo preferível ter ido correr o mundo a vender as minhas missangas? E estudar e trabalhar numa área que não se gosta não será no fundo um acto do mais puro auto-terrorismo?
Pensem nisso, que eu também.

Vingança do Século

Meus senhores, qual é afinal a grande vingança do século XXI? Qual é o acto qual é ele que demonstra melhor o ódio sentido por um semelhante? Qual a via para eliminar para sempre alguém da nossa vida?
A melhor forma de nos vingarmos de alguém é sem dúvida utilizando ferramentas como o Hi5 ou o messenger. Apenas fica a dúvida: seremos mais odiados por quem nos bane do seu grupo de amigos do Hi5 ou, por outro lado, seremos declarados oficialmente escumalha quando bloqueados no messenger de alguém?
A verdade é que, tanto numa como noutra, somos atingidos e morremos virtualmente para esse alguém. No Hi5, nunca mais nos verão num determinado grupo de amigos, nunca mais poderemos ver o perfil da pessoa que nos baniu (caso ela o tenha restrito). No messenger, nunca mais veremos o seu bonequinho verde, nunca mais lhe iremos ler a sua frase pessoal e nunca mais lhe poderemos enviar um "oix" ou responder-lhe a qualquer coisa engraçada com um "lol".
Ficaremos mais infelizes e seremos menos um bonequinho verde, menos um amigo num perfil. Morreremos virtualmente ou faremos morrer. Contudo, fica-nos a certeza que qualquer uma das duas são armas muito mais eficazes do que as vinganças "old fashion" que usávamos nos tempos de escola, tais como a pastilha elástica no cabelo, o papel colado nas costas a dizer "chama-me estúpido" ou "dá-me pontapés no rabo" ou ainda o chamar "caixa de óculos" ao puto estúpido da carteira do lado.

terça-feira, 18 de novembro de 2008


Vozes

"Change everything you are" dizem-me as vozes que moram na minha cabeça. Tento obedecer-lhes. Torna-se difícil quando estamos tão enraízados num determinado sítio, tão apegados a determinadas coisas e pessoas... mas prometi-lhes: "i will". Elas sossegaram e responderam-me com um "you are beautiful".
Prefiro estas vozes àquelas que antes habitavam a minha cabeça. Estas pelo menos são encorajadoras e falam em inglês. Às vezes, dizem-me coisas que eu não percebo muito bem. O que me leva a nem sempre fazer aquilo que elas me ordenam. O que me leva a acreditar que não sou totalmente dependente delas.
As outras, as portuguesas, eram chatas. Mandavam-me ir comprar pão e lavar o carro. Em certos dias, quase me convenciam que o melhor era meter termo à vida. Ofendiam-me com insultos que só lembram mesmo a quem domina o calão português.
Felizmente, apareceram as vozes inglesas e, em menos de dois "fuck you", meteram as portuguesas a andar.

Recado no frigorifico

Hoje de manhã, quando saires, deixa a janela do quarto aberta e fecha com força a porta da rua. Se não o fizeres com força suficiente, é muito provável que fique aberta. Gosto muito de ti e espero encontrar-te mais logo para um café e um cigarro.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Bloqueio II

Bloqueio quando percebo que há gente, que estando num estado de total sobriedade, consegue ter exactamente as mesmas conversas estúpidas e sem sentido que eu tenho quando me encontro num estado de total bebedeira (estado esse dominado pelo álcool que me palpita nas veias e pela sensação alegorico-surrealista que o mesmo me provoca).
Tudo me leva a crer que o organismo dessas pessoas produz substâncias que têm efeitos semelhantes àqueles que o excesso de álcool provoca. Excluindo talvez os enjoos e as ressacas.

Bloqueio

Bloqueio quando leio o que os outros escrevem, seja em blogues, revistas ou livros. Se uns há que escrevem espectacularmente bem, reflectindo uma sensibilidade literária nunca vista e uma cultura fora de série, outros há que até me fazem sentir envergonhada, por tanto escreverem e nada dizerem.
Por não me sentir inserida nem num nem noutro grupo de escritores. Por não me sentir suficiente para me considerar escritora também, só posso deixar aqui esta notícia de última hora: bloqueei.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Uma certeza

Havemos de brindar com copos cheios de nada ao futuro sem hora marcada.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Contudo sei quem sou

Porque não sou mais nem menos do que as outras pessoas?
Porque me deleito com pensamentos obscenos,
Que toda a gente tem?
E porque transpiro eu embaraçada ao pensar na coisa vaga de ser descoberta nas intermitências da vergonha?
Serei mais do que os outros,
No sentido de sentir e perceber que aquilo que sou está errado?
Serei eu menos que os outros,
Ao pensar que todo o meu pensamento é leviano e descurado?
Não me compreendo esta natureza que nada me traz de novo.
Não me necessito decifrada quando eu sei que já me decifrei na pele dos outros.
Na pele, na razão e no pecado.
Daquele que mora ao lado, mas daquele que também nos arromba o coração,
Que nos parte os telhados de vidro com pedras anteriormente arremessadas por nós.
Serei eu louca e imprudente, incoerente e insuficientemente esperta nesta arte de existir?
Questionarei eu demais coisas inquestionáveis?
Barrarei eu a entrada à razão livre de explicações maiores do que aquela caixa que encerra o meu coração?
Porque me escrevo em palavras que não compreendo?
E porque me gritam em silêncio obstruções à minha felicidade?
A verdade é que eu sou um trapo.
Que é mais trapo do que aqueles que se dizem velhos em sabedorias populares.
Mas não sou nem mais nem menos do que aqueles que encontro todos os dias.
Não sou mais nem menos do que todos os outros trapos.
Sou um mero trapo.
Daqueles que nos limpam o pó, que nos tapam a loiça e que nos servem de nada.
Serei apenas diferente, por me considerar ausente na forma que o meu corpo tomou?
Por achar a minha essência longe das tarefas que desempenho,
Das gargalhadas que convoco para a mesa de café?
Por dissertar sobre meros temas que a ninguém interessam
E por compreender desconfiada aquilo que me entra pelos ouvidos?
Contudo sei quem sou.
Apesar das dúvidas, dos medos e das frustrações.
E deambulo acertadamente pela via errada da minha vida.

domingo, 2 de novembro de 2008

Ex.mo Sr. Senupe

Digam-me lá se esta fotografia não faz lembrar as fotografias oficiais dos nossos chefes de estado? Porém, a diferença não está nem na espécie animal nem na pose, mas sim no facto de eu não poder votar no Senupe nas próximas eleições.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Eu sabia que isto ia acontecer II

Eu sou uma pessoa especialmente paranóica. Não relativamente a atentados terroristas nem a invasões extraterrestres, mas sim relativamente ao paranormal.
Não acredito em espíritos e rio-me de crenças antigas sobre assombrações, visitas e outras acções levadas a cabo por entes queridos já mortos, por crianças esquartejadas em pleno mato, por noivas decapitadas em véspera de casamento e por tantos outros desgraçados do além.
Ultimamente, passo dias inteiros a pesquisar sobre quadros de meninos que choram, sobre o seu suposto autor e sobre todos os mitos que se criaram em seu torno. Culpa do post anterior. Ante-culpa do senhor Bruto e dos seus simpáticos comentários.
Resultado: sei que afinal não há só um menino a chorar, mas sim cerca de 27 diferentes. Que todos os meninos pintados escondem histórias de "horror", maldições, pactos com o diabo e mensagens subliminares nas suas próprias telas. Que o autor é um tal de um italiano chamado Bruno Amadio e que assinou todos os quadros com diferentes nomes e que eu, por muito que reflicta sobre o senhor em questão, não percebo se é um mau pintor armado em parvo ou, por outro lado, um grande humorista dos anos 70/80.
Conclusão da história: passo os dias a ver links e a rir-me a "bandeiras despregadas" (bela expressão idiomática que julgo ser a primeira vez que escrevo) e as noites de luzinha acesa para conseguir dormir em paz, pois lembro-me de todas as coisas que li durante o dia e começo a fazer filmes de terror na minha cabeça.
Contudo, hoje consegui rir-me com a minha própria paranóia: imaginei um menino que chora gigante a descer as escadas da minha casa. Assim bem ao estilo dos cabeçudos de um qualquer carnaval português. Com a sua lágrima realista e o seu arzinho de quem foi assaltado por um chupa-chupa-jacker. O pior é que à noite não vou achar muita piada à ideia e, quando tiver que passar pelas escadas e estas estiverem às escuras, vou fazer muita força para não dar a entender que estou a tremer de medo...

P.S. - Haverá sinal mais evidente de esquizofrenia do que inventar coisas que numa determinada altura fazem-nos dar gargalhadas e noutra fazem-nos ter medo? Pensem nisso...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O menino que chora

A propósito de um comentário ao "post" anterior, fiz uma pesquisa sobre o quadro do menino que chora e encontrei várias coisas interessantes, entre as quais uma teoria que diz que se invertermos o quadro poderemos ver a imagem do demónio (algo que dá alguma razão àquilo que penso sobre as criancinhas, mesmo aquelas que não consigo virar de cabeça para baixo).
Aqui está o quadro invertido, para que todos possamos ver o demónio. Uma singela homenagem a duas coisas distintas: o meu amigo Bruto que não se cansa de deixar comentários que me fazem sorrir (pelo menos!) e à casa amarela onde vivi em Beja que, entre outros detalhes demoníacos, tinha este menino a chorar no hall de entrada.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Recado num guardanapo de papel

Por aqui vai tudo na mesma: uma alma desassossegada dentro do corpo de uma criança sonhadora.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Trinquei uma maçã

Trinquei uma maçã que me soube exactamente àquelas tardes frias e solarengas de Inverno da minha infância. Do tempo em que eu saía do refeitório do ciclo a mastigar maçãs enormes para as minhas mãos e seguia em direcção de mais uma tarde livre de aulas.
Trinquei uma maçã que me soube tão bem a férias de Natal. Ao cheirinho a lareira acesa que invadia a rua onde eu morava. À cor da caruma dos pinheiros do pinhal lá de trás, onde eu ia excitada apanhar cogumelos com o meu pai.
Trinquei uma maçã que me soube àquelas brincadeiras inventadas entre a rua em que morava e o prédio da minha melhor amiga. À loja de roupa que nos oferecia bonecas de pano e cromos de uma caderneta colorida só porque insistíamos muito, com os nossos olhos meninos e essa inocência muito infantil. Muito nossa.
Trinquei uma maçã que me levou até à sala de aula onde aprendi a escrever todas as palavras que hoje sei e mais aqueles poemas que entretanto perdi, mas que eram feitos de quadras compostas por versos todos eles com a mesma métrica, para que tudo soasse como deve ser.
Trinquei uma maçã que me recordou festas de aniversário feitas por adultos, mas nunca o calor de um aniversário comemorado em pleno Agosto. De meias sandes mistas e de bolos de bolacha escrupulosamente distribuídos em cima da mesa.
Trinquei uma maçã que me fez sentir a textura das plantas daquele canteiro, de onde eu resgatava caracóis para brincarem aos reis e rainhas em casas construídas por nós, meninas arquitectas de reinos felizes.
Trinquei uma maçã que me soube à sensação de revêr a minha bisavó nas férias, que me devolveu a vontade de correr juntamente com o meu irmão em direcção daquele forno branco que ela utilizava apenas para guardar caixas de fósforos vazias, que nós obviamente transformávamos em combóios de brincar.
Trinquei uma maçã que me recordou a tia-avó que me levava o lanche à escola primária e que, depois das aulas, passeava comigo pela cidade que eu nunca gostei, mas da qual nunca esquecerei o cheiro a maresia e a flores cor-de-rosa escuras, as mesmas que nós apanhávamos e que eram um chamariz perfeito para as formigas.
Trinquei uma maçã e senti o sabor do sal que fazíamos improvisadamente no terraço a partir da água do mar que trazíamos à hora de almoço nos nossos baldes de brincadeira.
Trinquei uma maçã que me fez percorrer uma vila no meu traje emprestado de dama antiga. Que me fez pedalar na minha bicicleta vermelha juntamente com os restantes catraios do bairro, que fez os meus pés sentirem de novo o conforto das botas de borracha, as poças de água; o jogo do mundo brincado na areia com um pau; a macaca e mais o elástico.

Trinquei uma maçã que me recordou que nada volta a ser como foi.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Quando um dia tiver saudades das coisas que aos poucos e poucos fui deixando pelo caminho, é sinal que me esqueci dos motivos fortes que me fizeram um dia abandoná-las em vez de as carregar comigo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A primeira coisa não escrita por mim que aqui meto

Este comentário merece um post. Obrigada Mistress C!

"Anônimo disse...
Não podia estar mais de acordo ctg, mas isso também tu já sabes. Mas mesmo que não estivesse continuaria a entender o teu ponto de vista ou pelo menos respeitaria.Só quero ainda acrescentar que a maternidade ainda não é obrigatoria, valha-nos isso...E já agora que aqui estou,aproveito para desabafar: Sabes que acredito piamente que o amor universal é que é a grande arma humana para todas as eventualidades,inclusive para amares filhos quem não nascem do teu corpo,e temos exemplos disso todos os dias,isso sim faz-me crer que afinal ainda há alguma bondade e altruismo no ser humano. Resumindo e baralhando creio que o que faz de nós seres humanos iluminados é a nossa capacidade ilimitada de amar seja quem for, ou o que for.Com isto tudo o que eu quero dizer é que não me sinto "menos" por não querer ser mãe,ou sequer ponderar essa hipotese.... por ultimo mesmo, Sabes o que me chamam lá no trabalho os meus "filhos"? Maezinha...Terei mesmo razoes para me sentir "menor"??Mistress C"

Não vou ser pai

No seguimento do post "Não vou ser mãe", venho por este meio informar a todos quantos me lêem (dois amigos, um deles com quatro ou cinco identidades) que também não vou ser pai.
É a maior verdade de todas, apesar de saber que esta custa a acreditar a muita gente. Porque sei que houve muito boa gente a pensar: "Ela está com estas coisas de não querer ser mãe, mas se se descuida ainda é é pai!"
Pois é, sábios leitores, também não vou ser pai. E digo-o com a certeza de quem também não quer ser mãe. Não vou ser pai, por todas as coisas que me levam a não querer ser mãe (àparte, claro está, da gravidez e do parto) e mais estas:
- Não quero que o meu filho ande chateado comigo por andar a comer a mulher que ele ama (para os mais desatentos, falo do complexo de Édipo);
- Não quero passar uma vida a encontrar semelhanças dos putos com o preto que encontrei no outro dia escondido no guarda-fato do quarto;
- Não sei nem gosto de jogar futebol (muito menos com crianças);
- Não quero trabalhar uma vida inteira que nem um camelo para sustentar as minhas crias para depois, no final dos meus dias, ainda me arriscar a ouvir dizer que fui um "pai ausente";
- E, nem que me paguem, me visto de vermelho e meto umas barbas postiças no Natal.
Posto isto, digam o que disserem, pensem o que pensarem, não vou ser pai. Contudo, ainda não pus de lado a hipótese de um dia vir a ser tetra-avó. A ver vamos!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Maria Felismina
Como foste nessa
De te meteres à pressa
Na heroína?
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Não vou ser mãe

Serei eu um dia mãe? Não serei? São questões existenciais com as quais me debato há já algum tempo. Quer dizer, questões com as quais me deveria debater há já algum tempo (desde a primeira menstruação), mas que sinceramente não dou assim grande importância e, no final de contas, percebo que a resposta é tão clara como água e tão certa como estas linhas terem sido escritas por mim: não vou ser mãe.
E não tenho pena nenhuma de tal facto, antes pelo contrário: parece-me razoável e coerente decidir não ser mãe. Mais do que o contrário, pois então.

Há muita gente que me pergunta quando é que eu tenho um filho, que me tenta persuadir com a questão da idade. Mas eu, pff, estou nas tintas para isso. Se um dia mais tarde me arrepender, arrependo-me das minhas próprias decisões e não me arrependo de ter sido levada pela conversa dos outros. Amén.

Sinceramente, uma gravidez não me seduz. Não gosto de ter cuidados com dietas, álcool e tabaco. Não gosto de enjoos. Não gosto de ir ao médico. E sobretudo: não gosto de dor!...
Não era mais fácil os putos virem mesmo de Paris, trazidos pela cegonha? Quem é que foi que acabou com esta tradição e instituiu a treta dos partos naturais e mais a balela dos partos em piscinas?... (aposto que é o mesmo gajo que pediu para a Tourada ser tradição e para os actores-mortos-vivos terem o direito de comentar a vida dos outros na TV)

E o que é isso do relógio biológico? Que horas tem? Quando toca? Serve de despertador? Alguém já viu o relógio biológico? É de que cor? Usa-se no pulso ou no bolso?
Realmente, que treta de argumento é essa do apelo dado pelo dito relógio biológico? Não consigo alcançar, mas acho que há por aí gajas que argumentam isso na hora de engravidar. O engraçado é que esse objecto invísivel de relojaria só afecta quem vive à conta do marmanjo ou quem acabou de ficar efectivo na empresa onde trabalha... Estranho, não é? Será que é por não viver à pala de ninguém e por estar a trabalhar a recibos-verdes que não pressinto o meu? Ou será que o meu parou por falta de pilha ou por mera avaria? É que já vamos com quase trinta anos meus caros!!

Não me vejo confinada a uma criança. Não tenho condições nem psicológicas nem financeiras, muito menos afectivas. Acho que a grande generalidade das crianças começam a revelar-se abortos espontâneos a partir do momento em que começam a abrir a boca para falar. Acho que os miúdos são todos parentes muito próximos dos Gremlins, pequenos monstros fofinhos. Com a agravante de não serem ficção. Com a agravante de que a partir do momento em que nascem começam a depender de nós e nós, com a desculpa do amor de pais, deixamos tudo para trás das costas e passamos a viver em prol destas criaturas.
E eu, tenho tanto para viver antes que comece a ter a alucinação hormonal do tal fatal objecto de relojaria!!!


Por outro lado, detesto "Happy-families" e acho-as uma péssima publicidade para captar adeptos para essa coisa da procriação. As carrinhas familiares e os simbolos colados no vidro traseiro com avisos de "bébé a bordo" dados pelo Vitinho, assustam-me de morte. Os pais que só sabem falar dos filhos e que metem fotografias dos mesmos nos computadores de trabalho, têm os olhos às cores e andam com os braços espetados para a frente, tal e qual os zombies do Thriller do Michael Jackson, com o senão de provavelmente não saberem dar o passito de dança à "eighties"...
Os pais que fazem as vontadinhas todas aos pequenos em vez de lhes darem uma valente palmada no rabo quando os putos repetem pela terceira vez que querem ir embora ou que querem um ovo kinder, quando já lhes foi dito que não duas vezes, deviam ser processados. Na verdade, estas pequenas atitudes são as mais preponderantes no crescimento intelectual de um futuro ditador, pois criam-lhe a sensação de que tudo se pode manipular e que em todos se pode mandar.

Posto isto, não vou ter filhos. Tenho plena consciência da minha opção. Tenho plena noção de que o mundo cá fora não está para brincadeiras. Tenho a certeza absoluta que grande parte das pessoas nunca devia ter sido pai ou mãe, porque há por aí muita gente mal-educada e sem formação que já foi em tempos o bébé de alguém.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Eu sabia que isto ia acontecer

Estou a sentir-me esquizofrénica. Finalmente percebo a necessidade de se usar drogas para acalmar os nervos e sobretudo as paranóias.
1 - Neste momento, escrevo para dois blogues. Quando penso que finalmente tenho o "post" ideal para um deles, descubro que no outro esse mesmo "post" enquadrava-se perfeitamente. Conclusão: não tenho escrito nem num nem noutro e sinto um completo vazio por não conseguir dar o contributo de duas linhas a cada um deles.
2 - Tenho duas identidades no "blogger". Se aqui sou a Cristina (personalidade que, vai na volta, mais se assemelha à minha pessoa), no outro blogue sou quem eu não posso dizer e, se pensar muito no caso, sou quem eu não conheço lá muito bem.
Para além da questão "blogoesférica", tenho antecedentes de paranóia. Comecei a aceitar que tinha um problema quando percebi que não era normal acreditar que o senhor da rodoviária me tinha deixado de falar por eu ter comprado carro e, consequentemente, ter deixado de apanhar o expresso ao domingo à noite e à sexta à tarde...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Eles

Eles brincam com os teus sentimentos
Como brincam com um naco de papel enrolado nos dedos,
Ensopado na boca e amachucado no chão.

Eles brincam com as palavras que tu soletras,
Como se fossem falsas pistolas de água sempre prontas a molhar alguém.

Eles brincam com os teus secretos olhares
Simulando uma cabra-cega em recreio escolar.

Eles brincam com...

Eles brincam com...

Eles brincam com...

Eles brincam com...

Eles brincam com...

Eles brincam com...


... E tu, deixa-los brincar.

Rotina

Acordo com o telemóvel a vibrar na mesa-de-cabeceira. Ao meu lado, ele dorme satisfeito e nem dá pela minha fúria matinal. O que hei-de vestir? Penso. Penso também que estratégia utilizar para não mais chegar tarde ao trabalho; para não mais acordar ao lado dele; para nunca mais ser aquela que encontro hoje diante do espelho.
Tomo o banho de sempre, visto o mesmo de sempre. Pego numa maçã e enfio-a na mala. Prendo a mala à bicicleta. Conduzo a bicicleta até ao trabalho. Chego ao trabalho com vontade de voltar a pegar na bicicleta e rebobinar tudo até antes do telemóvel ter começado a vibrar. Mas não consigo.
Passa-se um dia de tarefas repetitivas que acentuam ainda mais a minha saturação, que me frustram. Passa-se um dia a pensar que tudo tem que mudar. Que é hoje o último dia que aqui estou e que sorrio às pessoas só por saber que é a última vez.
Mas o tempo passa, e esta segunda-feira transforma-se em sexta-feira. E este princípio do mês, transforma-se em final do mês. E este Verão, transforma-se em época natalícia. Tudo igual, sempre e para sempre. Ou por aquele tanto tempo que a mim me parece eternidade.

Acordo sobressaltada com a vibração do telemóvel na mesa-de-cabeceira. E a quem dorme ao meu lado, aparece mais um cabelo branco.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O meu olhar londrino


(Esta é uma foto que tirei numa noite de sábado e que perdi quando estupidamente formatei o cartão da máquina numa tarde de domingo. Felizmente, hoje existem programas que permitem recuperar fotos apagadas ou até mesmo fotos de cartões formatados. É a esses programas que eu deixo o meu mais sincero agradecimento)

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Pessoa

A pessoa que mais deveríamos odiar em todo o mundo (para além de certas estrelinhas pseudo-jets-portuguesas e às vezes também pseudo-portuguesas) é a nossa própria pessoa. O nosso eu. A imagem que vemos reflectida no espelho mas também nos quase extintos charcos de rua.
Nós próprios, portanto.
Somos, sem dúvida, a pessoa que mais nos odeia e que mais nos mete obstáculos na vida. Tudo o resto é conversa, são desculpas, são paranóias e manias de perseguição.
Aquela pessoa que vive dentro de nós é pior do que qualquer veneno, do que qualquer falso amigo. É dessa que devemos ter cuidado, que devemos desconfiar à partida de toda e qualquer atitude que queiramos tomar. É ela que nos faz defender o comodismo (não confundir com comunismo, que é parecido mas não inerente à pessoa auto-existente em todos nós) e que nos diz para não avançar, porque nos podemos arrepender. É ela que nos arrasta para casa e que nos submete a horas passivas de sofá, que nos mete a contar os trocos na hora de beber um copo com um amigo, que nos mete a pensar em ladrões na hora de abrir uma janela.
Faço aqui um apelo: temam-na! Contrariem-na!
.. Mas façam-me o favor de ser felizes!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Jogo...



Se a vida é um jogo, então que seja daqueles que aceitam moedas de 50 cêntimos

Translate, please!

Se há coisa que me diverte, é ir às ferramentas de idiomas do Google e inserir um endereço de um site que eu queira ver traduzido.
Modéstia à parte, aqui as Coisas Gordas e Más ficam demais. Ora vejamos:
Para quem não quer perder tempo com "clicanços" em links, aqui vai um cheirinho com a tradução fantástica do texto "Acordo":

Deal
This morning, Dr. Dog turned to me and said: "Dona, Dona, let me stay here enroscadinho blankets in your work as you go?"
To which I replied: "Yes Dr. Dog, but with two conditions: do not stick lava and the dishes!"
He agreed.

Resta-me dizer, em bom inglês: Translate it again, Sam!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Acordo

Hoje de manhã, o Dr. Cão virou-se para mim e disse o seguinte: "Dona-Dona, deixas-me ficar aqui enroscadinho nas tuas mantas enquanto tu vais trabalhar?"
Ao que eu respondi: "Sim Dr. Cão, mas com duas condições: não fazes asneiras e lavas a loiça!"
Ele concordou.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

I'm going to London!

... Ouvem-se os aplausos ensurdecedores de milhares de pessoas em êxtase e eu subo ao palco com um ramo de flores no regaço...

É com um enorme prazer que eu vou rumar até Londres. É uma viagem que há muito queria fazer e agora vejo o sonho, que desde tenra idade me comandava a vida, tornar-se realidade. Falta uma semana exacta para voar até terras de sua majestade e eu mal consigo controlar a ansiedade. Mas, como em tudo na minha vida, nada disto seria possível sem o apoio incondicional de certas pessoas. E é a elas, especialmente hoje e sobre este acontecimento, que quero agradecer do fundo do meu coração.
Em primeiro lugar, aos meus pais. Foram eles quem mais me apoiou em todas as decisões que tomei em 29 anos de vida e esta, como todas as outras, teve o seu APOIO incondicional. Pelo que sem esse mesmo apoio, esta viagem não seria a mesma. Pais, levo-os no coração!
Ao David, amigo com lugar cativo no meu coração, pela OPORTUNIDADE dada. Pela hospitalidade, pela paciência e por patrocinar já pela segunda vez o meu alojamento numa cidade europeia. David, nunca irei esquecer a tua linda casa de Amesterdão!
Ao Paulo, por todas as massagens nos pés (Quero mais! Quero mais!) e por todas as vezes que fez de meu guarda-nocturno, quando eu tremia com medo de ficar numa casa tão GRANDE sozinha. Pelo amor, pelo carinho e pela compreensão, obrigada!
Aos meus amigos, por partilharem da minha alegria sem INVEJAS nem RANCORES. Sei que eles todos queriam ir e gostava de os levar a todos, mas desta vez, só desta vez, quero fazer as coisas SOZINHA. Por saber como me compreendem e apoiam bem, havemos de beber um copo antes da partida, para nos depedirmos e eu completar a lista das encomendas!
Ao meu trabalho. Pelo ordenado que me permite pagar estes LUXOS, pela flexibilidade que me permite tirar uns dias mesmo quando o trabalho aperta, pela compreensão e apoio do director e colegas. Bem hajam!
Por último, ao meu cão e ao meu gato. Sem eles, existiam certamente dias em que eu me sentiria mal-amada. Mas com eles por perto sinto, que mesmo quando tudo corre mal, há quem goste de mim sem MESQUINHEZ, sem FALSIDADE, sem CINISMO, sem PRETENSÕES. Sois, sem dúvida, os seres mais sinceros do mundo!

... Começo a chorar, recebo o bilhete de avião, dou um enorme abraço no representante da TAP e desço o palco ao som dos mesmos aplausos ensurdecedores...

Quando eu morrer

Por favor não vás chorar para o meu funeral, que me envergonhas!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Cuecajacking

Hoje descobri a resposta a uma questão que me assombrava há já algumas manhãs: Porque raio as minhas cuecas, incluindo as minhas favoritas, andam todas a desaparecer?
Não é costume andar por aí a largar as cuecas. Normalmente ando com elas vestidas e não na mala ou no bolso de trás das calças. Nunca as abandono, porque acho que abandoná-las seria o equivalente a deixar um rim na casa de um amigo. Então porque desaparecem?
E eis que, ao levar água morna no focinho antes de ir trabalhar, se fez luz na minha cabeça: sou vítima de Cuecajacking! Quase de certeza que anda por aí alguém, que assim que desapareço ao fundo da rua, entra na minha casa e sai montado nas minhas cuecas. E daí a resposta para que as minhas favoritas estejam a desaparecer também: é que tal como nos carros, este tipo de crime só se interessa naquilo que é Topo de Gama.
Agora que descobri a causa, falta-me descobrir a solução. Será que o Governo também está a tomar medidas contra este tipo de crime organizado? Ou será que os Cuecajackers vão continuar impunes e eu não tenho outro remédio se não ir comprar mais uma remessa de 10 a 5 euros no próximo mercado municipal?

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Trela

É engraçado reparar que quando saio com a trela à rua toda a gente pensa que eu tenho cão.

Pés

Quando falo das minhas aspirações, sejam elas de que natureza, as pessoas respondem-me com osbtáculos, com problemas. É raro encontrar alguém que se limite a ouvir e a apoiar. Parece-me, às vezes, que as pessoas têm tamanha dor-de-corno que não conseguem simplesmente apoiar, transferindo essa dor para a dimensão de frases arrepiantes "E o dinheiro?", "E o trabalho?", "E depois como vais fazer?"... Bah!!
Hoje, a este propósito, disse à minha mãe que sim, que é importante ter os pés assentes na terra em todas as decisões que tomamos, mas que é errado colá-los com super-cola. Quem os cola, não se dá oportunidade de dar um pulinho de vez em quando, não sente o prazer de um pezinho de dança. Fica estático a ver o mundo a movimentar-se e só lhe ocorre meter obstáculos aos outros que pulam e dançam à sua volta.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Estagnação

Quando penso que finalmente as coisas estão a encaminhar-se na minha vida, paro e reparo que afinal continua tudo na mesma e que eu ainda não saí do mesmo lugar.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Tachos Online

- Tachos Online boa tarde, fala a Carla, em que posso ser útil?
- Estou a telefonar-lhe porque precisava de um tachinho lá para Lisboa...
- Muito bem! Poderia só dizer-me qual é a sua cunha?
- Bem, a minha cunha é o Dr. Alberto, que ainda é meu primo em segundo grau.
- Ah, o Dr. Alberto!! Perfeito!!! Então e diga-me lá que tipo de tacho lhe agradaria pela Capital?
- Bem... bom, mesmo bom, seria um tachinho que tivesse um horário porreiro, para poder levar o meu filho à escola e ir comprar o jornal e beber um cafezinho com o meu amigo Dr. João. Conhece o Dr. João? Costuma beber café lá para os lados da Trindade...
- Sim, sim, Claro, o dr. João!!
- Bem, como eu ia a dizer, que desse para isso tudo e que me permitisse de vez em quando ir de férias, pois isto de trabalhar muito cansa e depois uma pessoa precisa de fugir para o estrangeiro para desanuviar.
- E que área gosta mais? Banca? Autarquias? Construção Civil?...
- Gostaria de um local em que não tivesse que estar fisicamente, percebe?
- Compreendo, então vamos ver o que podemos fazer por si e dentro de meia-hora mandamos confirmação do seu tacho via sms. Se não agradar, só terá que voltar a contactar-nos. Pode ser?
- Sim senhora, pode ser!!
- Podemos ser úteis em mais alguma coisa?
- Ah, sim. O meu filho está a terminar o curso de higiene e segurança no trabalho...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

E depois do amor?

Será possível e pacífico que a amizade prevaleça depois do amor? Ou depois do amor só prevalecem as coisas más que fizeram com que ele chegasse ao fim?

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Saudades de me sentar aqui


A inveja

Já lá diz o povo (ou será antes a televisão?) que a inveja é uma coisa feia. E eu não podia estar mais de acordo, apesar de achar que mesmo assim há por aí invejas mais feias que outras.
Há a inveja com razão de ser e há a inveja mesquinha. A com razão de ser, embora feia como qualquer inveja, é tolerável. É aquela que temos do gajo que não tem que trabalhar para passar a vida a viajar pelo mundo fora, da amiga que namora com o sósia de uma qualquer estrela de cinema, do filho-da-mãe que conduz um porsche...
E depois há a inveja mesquinha, que para além de feia é completamente despropositada e intolerável. E é dessa especificamente que falo. Parece impossível, mas há quem tenha inveja ridícula e infundamentada de mim e das minhas pequenas coisas, de tudo quanto sou ou faço.
Para essas pessoas convém explicar que não há motivos para isso: sou licenciada e recebo o mesmo (vá, mais dez euros) que a administrativa do meu local de trabalho; estou em risco de ir para o olho da rua (tal como os restantes colegas) e como não tenho contrato nem nada, nunca terei direito a indemnização ou subsídio de desemprego; as duas únicas viagens que fiz ao estrangeiro (em 29 anos de existência!!!) foram em lowcost; a casa onde moro é da minha mãe e eu pago renda; no amor não sou feliz, se não já estava casada (casada casada, não sei bem!); entre muitas outras coisas altamente invejáveis...
Mas não me queixo, porque faço de tudo para ser feliz e para tirar o máximo partido desta única hipótese que me é dada de viver. Porque combato as contrariedades com jantares e abraços nos amigos. Porque acredito que cada porta que se fecha, obriga-nos a encontrar outra que se abra. E na impossibilidade de abrir uma porta, recorre-se ao pé-de-cabra ou salta-se pela janela, mas nunca à inveja. Porque essa não ajuda em nada. E não invejo os meus iguais, porque cada um tem aquilo que luta por. E há que lutar por tudo o que se quer, até ao fim.

Já lá diz a azulejaria tradicional portuguesa (ou será a televisão?):
SE TENS INVEJA DO MEU VIVER, FAZ COMO EU: TRABALHA!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

"Senupe", o super-cão alentejano!


Dúvida Gay II

Houve algo que eu esqueci de juntar ao 'post' sobre os nudistas fans de Madonna que em comum têm como tendência sexual a homossexualidade: Alguém me sabe explicar (para isto sim gostava de ter uma explicação plausível!!) porque é que TODOS nos primeiros 10 minutos de conversa com alguém, não resistem e perguntam de que signo é essa pessoa?
(Mais impressionante ainda é que quando a resposta não agrada, tentam saber o ascendente para justificar alguma característica evidente...)

Dúvida "freudiana"

Será que sou só eu que penso que os traumas de infância são na sua grande generalidade criados na idade adulta?

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Cunhas

Lembrei-me agora que após quase 10 anos no mercado de trabalho, todos os empregos que tive até hoje foram graças a cunhas!
Contudo todas as cunhas são unânimes e dizem - talvez numa forte necessidade de dar explicações aos ouvidos que moram nas paredes - ela (que sou eu) está aqui não por cunha, mas sim por mérito próprio!
E eu e as paredes, fingimos que acreditamos.
Isso porque sou uma gaja porreira que tem ocupado lugares porreiros, sem grandes regalias laborais ou salários. Agora fico a pensar que nem fingir que acredito consigo quando me falam de mérito próprio em altos cargos públicos e/ou políticos...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Dúvida Gay

Tenho que partilhar esta minha dúvida existencial com os poucos (mas bons!!) habitués deste blogue: Porque é que todos os gays que eu conheço (até aqueles que pensam que me convencem que são heterossexuais) gostam da Madonna e fazem nudismo?
Ou serão os nudistas que na sua grande generalidade são gays e fans da Madonna? Se calhar a verdade é que os fans da Madonna tendem a fazer nudismo e a ser gays...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

João, aquele que vai muito melhor

Um certo dia, estava eu meio-hipnotizada pela prateleira dos enlatados do supermercado, quando encontro a mãe do João e tento meter alguma conversa de circunstância: Com que então às compras, hein? Então e o João, está porreiro?
Ela, assim que me ouve perguntar pelo filho, muda logo de expressão, passando da expressão de compradora de enlatados para a expressão de mãe esperançada em algo que nunca irá acontecer: O João agora, com a sua injecçãozinha quinzenal, vai muito melhor...
Silêncio. Sorriso que se pretendia de todas as cores menos amarelo. Eu não queria saber nada disso, só queria mesmo ser... simpática. Afinal ver uma pessoa nas compras e perguntar-lhe se está às compras não é assim tão mau. Pior é perguntar-lhe pela família. Olho para o relógio e digo atabalhoadamente: Bem, está na minha hora. Gosto em ver-te. Beijinho ao João!
Hoje vi-os, mãe e filho, ao longe. Nem me aproximei com medo de fazer perguntas indevidas. Ele lia o Correio da Manhã e ria às gargalhadas. Pensei com os meus botões: é certamente dia de injecçãozinha quinzenal.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008


Não me deixes morrer aqui sozinha nesta escada fria e suja. Faz-me qualquer coisa. Leva-me. Come-me. Mas por favor não me ignores.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

O céu

Hoje vi um céu estrelado lindo enquanto viajava na parte de trás de um carro de um amigo. Um céu repleto de estrelas que me recordou a minha infância. Lembrei-me quando me metia a olhar para cima e toda a imensidão do universo me dava um sentimento maior, misto de medo e de saudades do futuro. Porém, hoje encontro-me no futuro e esse sentimento maior em nada mudou.
É engraçado, mas custa-me mais compreender o conceito de infinito do que de finito. E, isso leva-me sempre ao tema da morte. Porque recordo nestes momentos a efemeridade das coisas, especialmente das belas e daquelas que não queremos que acabem nunca.
No carro, ouve-se uma música agradável, qualquer coisa entre o jazz e a electrónica, qualquer coisa que combina bem com as paisagens escuras que passam em sequência cinematográfica e as estrelas que habitam o gigante nocturno.
Deixo-me embebedar por todo este cenário, enquanto tento abstrair-me da discussão do casal que vai à frente. Discussão estúpida, barata e sem sentido. Gostam-se, mas parece que fazem de tudo para se detestar. E eu, não entendo porque é que a maioria das pessoas que se amam fazem isso.
Imagino então uma curva apertada e inesperada em que o carro perde a aderência ao piso e se vira. A inevitável morte de um deles. E acredito que não deve haver algo mais frustrante que perder um amante no meio de uma discussão, perdê-lo sem ter tempo de pedir perdão.
Tocar aquele corpo inanimado, aquela alma ausente, fora do carro e já sem vida e sentir o peso na consciência de se ter menosprezado o melhor que se tinha. Olhar o céu, no auge da fúria das lágrimas incansáveis, e finalmente perceber a insignificância da existência humana... enquanto que no carro virado ainda toca o jazz dançável.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Férias

Estou de férias. Foram já quase duas semanas passadas de papo para o ar e ainda faltam mais umas duas até voltar ao escritório. Do trabalho não falo, deixo para uma futura postagem, pois é um tema complexo e que me aborrece nestes dias em que esqueço qual o toque do meu despertador.
Há muita gente que me critica estas férias, porque não planeei nada. Sacana que sou, não fui gastar o subsídio de férias que não recebo - três urras p´ros recibos verdes: urra! urra! urra! - numa viagem para um qualquer destino, daqueles que têm tanto de giro como de lotado.
Sinceramente, ir neste momento passar férias para (por exemplo) as ilhas gregas deve ser tão bom como depois da época balnear ir enfiar-me de carro às 9 horas da manhã de segunda-feira num dos acessos a Lisboa, preferencialmente a Ponte António Oliveira Salazar (desculpem, mas aquilo tem mais de ditadura do que de liberdade).
De facto, não planeei nada e nada tenho feito para que algo aconteça. Já fui a mais umas consultas ao fabuloso hospital do litoral alentejano, também ele com direito a uma postagem um dia destes; já fui ver e ouvir o grande leonard cohen; já dediquei uma semana à partilha de casa com a mamã; já passei dois dias de freak-surrealismos em sines no FMM e agora encontro-me confortavelmente instalada na casa de um namorado de um amigo, no Algarve.
Penso, portanto, que estou a ter um cheirinho de muitos e diversos produtos que nem a agência mais atenta, amiga e requintada do mundo me poderia inserir num mesmo pacote turístico de verão.
Quem ousaria meter família, amigos, música, freaks, droga, álcool, leonard cohen, saúde e gays todos juntos numa mesma viagem? Nem eu, se o tivesse planeado!!

A pedido de várias famílias...

Um breve resumo para os meus queridos amigos:

Todos os desenvolvimentos desse dia faziam-me crer que não iria chegar ao concerto viva... Entre outras peripécias, eram 20h e estávamos nós de carro parado antes da portagem da ponte 25 de abril porque a máquina que nunca falha decidiu aquecer com tanto arranca-pára... E um reboque-abutre queria-nos rebocar, pois sabe bem receber umas massas à pala de desgraçados como nós...
Chegámos às 21h03m ao recinto, depois de um hamburguer apressado num macdonalds em Algés, e o grande senhor já terminava a primeira música: dance me to the end of love.
Lá nos misturámos pelo público, repleto de anónimos e estrelinhas bem à moda portuguesa (políticos de esquerda-chique e pseudo-cantores) e, graças a um intervalo em que toda a gente saiu da plateia para ir buscar cerveja (ó vício maldito!!), conseguimos chegar lá bem à frente.
A voz, a postura, a simpatia, a lua, o silêncio e os aplausos pareciam perfeitos. Foi um concerto que muito significou para mim, não fosse o I'm your man o album que tocava obsessivamente no leitor de cassetes da Diane sempre que ia para a praia com a minha mãe, quando era pequenina e pouco percebia de música para além dos queijinhos frescos, onda choc e umas quantas anas farias...
Num ano em que tive oportunidade de ver Portishead, The Cure e Nick Cave, este foi sem dúvida e de longe o melhor concerto e olhem que os outros não foram nada maus!:)

sábado, 19 de julho de 2008

I'm your man - Leonard Cohen



É já daqui a umas horas que eu o vou ver. Nunca pensei que acontecesse em Algés. Sempre me imaginei num Coliseu ou num Casino a pagar uma pipa de massa. Mas Algés é para as massas. E eu não me importo.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Não me conheces, pois não?

Não me conheces, pois não? Nem tu nem ninguém, pelos vistos. Sei que é triste e que me entristece, porque penso que todos me conhecem minimamente bem para saberem do que sou ou não capaz de fazer. Penso erradamente, pois então.
Não me conheces a música favorita. Aquela que me agita e me põe a dançar. Não me conheces nua, nem que pêlos me fazem enlouquecer. Não me conheces o gosto pelos animais, pelos velhotes e por todos aqueles que não se sabem defender. Mas eu amo-os e choro em silêncio com medo de os perder.
Não me conheces as fobias, que são muito mais que o simples medo de bichos rastejantes e de temporais. Tenho medo da morte. Um medo tamanho que me mete a tremer que nem uma louca antes da injecção calmante. O medo da perda de alguém que se ama, de um pai, de uma mãe e de um irmão. De um amante. Nunca compreenderei a injustiça da mortalidade.
Não me conheces os sonhos. Não sabes quantas vezes os tenho maus e acordo transpirada nem as outras tantas em que acordo apaixonada, por um desconhecido, por um amigo, por um beijo. Não me conheces os sonhos de pequenina, de querer ser bailarina, de querer ser estilista mas também actriz.
Não me conheces as frustrações. A de não ter saído daqui. A de não ter estudado artes e outras coisas que me pareceram razoáveis na altura. A de ter tirado um curso que nada me diz e de ter um emprego que mata aos bocadinhos aquela pessoa sonhadora que ainda sobrevive dentro de mim.
Não conheces o brilho dos meus olhos quando alguém gosta de mim ou quando apenas reencontro um velho amigo. Os meus olhos brilham se vejo as estrelas deitada na areia da praia ou se consigo juntar todos aqueles que amo numa mesma mesa. Brilham e sorriem com todas as coisas pequenas que me fazem enormemente feliz.
Não me conheces a paixão pela solidão, pelo meu espaço. O conforto que me dá fechar-me no meu quarto a ler e reler todos os meus papéis, todas as minhas cartas. Ouvir compulsivamente todos os discos da minha banda favorita. Cantar e desafinar e inventar letras e palavras em inglês. Comer o que me apetece e quando me apetece. Deitar-me sozinha ou com o cão e o gato. Dormir sem horas para acordar e sem ninguém ao lado. Admirar-me ao espelho e achar que não há ninguém mais perfeito que eu. Fartar-me da solidão e encher a casa de amigos e música alta.
Mas tu não me conheces, porque se o fizesses nunca teria eu que escrever assim.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Voltas...

Há dias em que acordo de manhã e desato a trautear a música da Volta a Portugal em Bicicleta, enquanto me despacho para vir trabalhar. Estranhamente, nesses dias, tendo a vestir-me de amarelo, a trazer a bicicleta para o trabalho e a parar no supermercado para comprar isostar, pois sabe mesmo bem borrifar-me com essa bebida enquanto mando e-mails enfadonhos aos senhores doutores.

Felizmente, agora estou melhor e só me ocorre dizer: Tour de France!... Tour de France!...

Anda ver o pôr-do-sol por entre os destroços de guerra!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Fazer pela Vida

Atrás de mim oiço a voz de uma senhora chateada, como aquelas que vão refilar para a televisão por tudo e por nada, mas especialmente porque o estado lhes derruba as barracas e não lhes dá casa. O filho dela foi apanhado a conduzir sem carta. Ai que drama! Ai que drama!
O drama, propriamente dito, não foi conduzir sem carta mas sim os senhores agentes da autoridade não perceberem que uma pessoa tem que fazer pela vida. Palavras dela.
Resta-me perceber porque perdi eu tempo a tirar a carta e porque gasto eu dinheiro com os seguros, impostos, inspecções e outras balelas, se no fundo tudo isso é para andar por aí a fazer pela vida.

terça-feira, 8 de julho de 2008

A consulta

"Vamos amor!", diz-lhe ela apressada. Já falta pouco para a hora da consulta de ginecologia no Centro de Saúde. Ele pede-lhe ajuda para ajeitar a camisola. Ela ajuda-o um pouco atabalhoadamente. Não está muito interessada nisso das camisolas e das calças e mais dos peúgos e cuecas, só tem cabeça para aquela consulta. A consulta.
São oito da manhã. O movimento na rua é estranho: Há pessoas que se levantaram cedo para comprar o pão e levar os miúdos à escola, outras há que ainda não se deitaram. Nas pastelarias e cafés, os balcões estão apinhados de gente que trinca desalmadamente o pastel de nata enquanto engole a meia de leite sem qualquer tipo de sentimento. Cá fora, debaixo dos toldos, fumam-se os primeiros cigarros da manhã e contam-se histórias da noite anterior ou as últimas peripécias do filho mais pequeno.
Estas duas personagens, ele e ela, sobem apressada e alegremente a rua, compondo este cenário matinal, tornando-o ainda mais colorido e estranho. Ela vai à frente, sorrindo para tudo e para todos. Passa num toldo e pede um cigarro a um estranho que a trata por tu. Olha para trás. Lá está ele a tentar apanhar-lhe o ritmo com aquele ar de quem a discrimina por causa do vício. Discrimina-a mas nunca, mesmo nunca, a deixa de amar.
No centro de saúde, depois de muito alarido a cumprimentar todos os funcionários, desde os administrativos à classe médica, tiram finalmente uma senha e sentam-se a aguardar a sua vez. A vez dela. É hoje o dia em que tudo vai mudar, pensa para com os seus botões. Pensa nisso e em como cravar mais um cigarro.
Às dez, ouve finalmente o seu nome e entra. E pede que ele a acompanhe. "Vim aqui por causa do diafragma, Doutor. Quero tirá-lo porque quero engravidar". O médico fica incrédulo. Mas não se desfaz. Examina-a, pede-lhe que ele se retire e arranja uma forma de fingir que extrai o maldito aparelho. Aparelho que não existe, que nunca existiu. Laquearam-lhe as trompas quando teve o primeiro filho, porque souberam o que lhe esperava caso não o fizessem.
Ela sai toda contente no final da consulta. Besunta a cara do médico com tanto beijo de agradecimento. A seguir, besunta a cara dele e empurra-lhe a cadeira com o maior carinho do mundo.
Foi melhor assim. Se soubesse a verdade não suportaria, teria ataques, voltaria às crises. Assim acredita que vai conseguir ser mãe outra vez. Que ela, toxicodependente esquizofrenica, conseguirá constituir uma família com o seu namorado paraplégico, tal como os comuns mortais. E não há nada mais valioso do que a felicidade dessa ilusão.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Finalmente percebi o significado dos comentários. Até à data, confesso que não percebia muito bem porque é que existia necessidade de se comentar o que quer que fosse na internet.
Hoje, finalmente percebi! Foi o sorrizinho que esbocei timidamente, enquanto lia um comentário de um amigo, que mo disse.

Divertimentos Paixão


sexta-feira, 4 de julho de 2008

Não gosto do que escrevo. Não escrevo aquilo que gosto. Tudo o que transmito por esta via, soa-me a pouco. Não chega aos calcanhares daquilo que sinto e daquilo que quero transmitir. Por isso, tenho uma vergonha enorme de dar a conhecer este blogue a quem quer que seja.

Porque o faço então?

Amizade

Hoje apetece-me falar sobre a amizade. Um sentimento que cada vez mais me intriga. No entanto, não sei se consigo transmitir o que quero sem cair no discurso teenager de quem escreve umas frases feitas nas paredes da casa-de-banho.
Em tempos tive uma melhor amiga, daquelas a quem tudo se conta, com quem tudo se partilha. Durante anos assim foi. Unha e carne. Pré-adolescência, adolescência e idade adulta. Nada parecia ser capaz de derrubar os tão sólidos alicerces da nossa amizade.
Depois veio a maturidade (ou a falta dela). A minha amiga foi em direcção de Lisboa, à procura de algo melhor. Eu fiquei. Ainda a visitei várias vezes. Ainda lhe escrevi cartas e e-mails contando tudo e mais alguma coisa. Depois, sem perceber muito bem, ela deixou de me falar.
Dessa amizade, ficou uma ex-colega de casa e um ex-namorado dela. Pessoas que hoje muito prezo e que muito prazer me dá chamá-los de amigos, com todas as letras mas também com todo o sentimento.
Há pessoas, que apesar de algumas diferenças, provaram ter mais para dar e receber do que qualquer outra pessoa a quem eu possa apelidar de "melhor" amigo. Até porque não há melhores, há apenas pessoas que nos aceitam ou não, pessoas que demonstram o afecto mais entusiasticamente do que outras, pessoas que nos choram no ombro e outras que nos deixam chorar.
No entanto, tenho pena que nesta vaidade da super-amizade dos "melhores amigos" sejam tantas vezes neglicenciados os outros amigos, que tantas vezes dão provas mais do que suficientes da sua capacidade em honrar a amizade.

Não podemos menosprezar nenhum dos nossos amigos, porque todos são os melhores na sua maneira de ser e todos nos fazem falta, porque todos preenchem cantinhos muito especificos do nosso coração.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Hoje, foi um dia especial. Deixei cair o telemóvel dentro do galão. Retirei o telemóvel já sem vida, apliquei-lhe algumas técnicas de reanimação e, sem resultados, guardei-o desmembrado na minha mala.
Agora, está ali ao sol numa tentativa frustrada de lhe devolver vida.
O galão, por sua vez, manteve-se morninho durante todo este aparato e soube-me mesmo bem.

terça-feira, 1 de julho de 2008

A multa

No outro dia, estava eu toda contente a enxotar Dicas e afins da caixa do correio, quando me deparo com um postal para levantar uma carta registada, cuja única e amável coisa que dizia era GNR no remetente.
Ui, medo! Pânico! O que é que eu fiz desta vez? Roubei? Estrangulei? Fui apanhada numa falcatrua? Espera aí... eu não me meto nessas coisas, o que quererão "ELES" de mim?
Confesso que ainda me ocorreu que fosse o Rui Reininho, mas desfiz logo essa dúvida, pois ele não deve gostar de alentejanas, muito menos daquelas que nasceram em Lisboa.
Graças a isto, passei uma tarde de nervosismos e ansiedades, especulando sobre qual teria sido o meu crime: excesso de velocidade? Manobras perigosas? Duplos continuos? Atropelamento?
Chegam as 17h30 e meto-me a alta velocidade na minha bicicleta em direcção aos correios. Chego, tiro a senha e aguardo pacientemente pela minha vez. Como eu suspeitava, o Rui Reininho não gosta de alentejanas e a carta vinha mesmo do posto da GNR.
A carta era composta por 3 páginas. Não percebi nada. Da primeira página, acho q só li o assunto. Da segunda pouco percebi para além do meu nome e do valor a pagar. Até que encontrei o motivo, denominado por "descrição sumária", manuscrito pelo agente da autoridade da seguinte forma: "Porquanto no dia, hora e local acima mencionados o referido veiculo encontrava-se estacionado não respeitando a indicação dada pelo sinal (...)" blá, blá, blá. A nova geração sabe palavras giras. "Porquanto" é palavra que eu acho que nunca escrevi, a não ser hoje para contar esta história. Já estou desejosa da chegada da geração GNR com K's e X's com fartura. Aí sim vou fazer os possíveis para receber cartas registadas todas as semanas, para continuar a não perceber peva até à descrição sumária.
Fico intrigada. Leio mais acima, conforme sugere a descrição e encontro o nome da avenida onde trabalho. Estranho. Eu quase nunca estaciono ali. Melhor, eu raramente levo carro para o trabalho. Até que diante dos meus olhos aparece a matrícula do meu ex Renault 5, carro que tantas alegrias me deu mas, devido à sua morte iminente, já não me pertence há mais de um ano.
Dirijo-me ao posto da GNR e explico a situação e o senhor agente que me atende sugere, sem mais nem ontem, a apreensão imediata da viatura. Eu, que sou mais pela paz, digo que vou pensar no assunto, investigar o que se passou e logo decido o que fazer.
O rapaz, a quem eu dei o carro por ter a amabilidade de o rebocar da minha porta de casa para bem longe dali, arranjou-o, disfarçou o que havia a disfarçar e vendeu-o a uma rapariga. Segundo a repartição de finanças, a rapariga em questão registou o carro em seu nome em Agosto do ano passado.
Volto ao posto da GNR. Explico que o carro afinal já não é meu e que tenho um papel das finanças que o prova, pelo que quero devolver uma multa que só me veio parar por engano. Então, o senhor agente de serviço na recepção diz-me para eu pagar a multa e depois proceder ao envio, em carta registada, da reclamação, explicação do sucedido e exigência do reembolso do valor pago para a entidade que substitui a DGV, pois esta última não terá actualizado devidamente os dados da viatura.
Confesso que fiz uma cara semelhante àquela que faço quando vejo as caretas dos actores e actrizes dos malucos do riso quando terminam um sketch. O agente pergunta-me se eu não percebi. Claro que percebi, não entendo é porque tenho que ser eu a dispender do meu tempo e dinheiro por causa de uma coisa que eu nem sequer tenho a culpa, mas enfim...
O filho de uma colega também é GNR. Questionado sobre o assunto, sugere que eu procure a actual dona do Renault 5 e que a convide a ir ao posto comigo, a fim de resolver esta situação. Eu não a conheço e sendo a multa devido a uma infracção dela, muito duvido que ela me queira acompanhar ao posto.
Finalmente, como menina do papá que sou, faço as queixinhas todas ao meu pai. Ele, que não se faz rogado a sentir-se útil nesta sociedade, principalmente quando se trata de uma filha injustiçada, pegou na minha papelada e lá foi falar com um senhor agente da autoridade, que repudiou todas as 3 anteriores sugestões dadas pelos seus colegas e o informou que "basta" enviar uma carta ao governo civil, solicitando a regularização da situação visto o carro já não se encontrar em meu nome.
Porra, que país este!!

Ainda não há muito tempo, participei numa oficina de argumento para curtas e lembrei-me deste casal. É real. É bem português. E é excusado ficcionar, porque nenhuma ficção bate o surrealismo aqui patente.

Ela é ex-toxicodependente, ou toxicodependete-comedida. É esquizofrénica. Tem apenas trinta e picos anos, mas está tão estragada que é difícil acertar-lhe na idade. Já fez trinta por uma linha e imagino as linhas que fez por uma trinta.

Ele é paraplégico. Alcoólico. Epiléptico. Enfim, tem as alegrias todas!

Chatearam-se porque ela se embebedou na casa dele e ele é que teve que limpar o vómito. Ele bateu-lhe com tudo o que tinha à mão, até com uma bengala. Ela ficou negra como nunca esteve. Apanhou-o na rua e virou-lhe a cadeira.

Toda a gente ficou muito revoltada com toda a situação. Dizem: Como é que é possível uma drogada fazer o que fez a um deficiente?

segunda-feira, 30 de junho de 2008


Este fim-de-semana, houve música pesada cá na terra graças ao festival Metal Gdl. Eu não fui, por razões muito minhas e porque este tipo de metal não é cá coisa que me faça dar um pézinho de dança.
Contudo, no trabalho ou onde quer que eu encontre alguém conhecido, sou sempre abordada da mesma forma: "Então não foste ao Metal GDL?" e quando respondo que não, vejo surgir um gigantesco ponto de interrogação, seguido de um colossal ponto de exclamação e tento responder o mais delicadamente possível e meter-me a milhas antes que tenha que explicar o porquê de trajar quase diariamente preto e não ir a um festival destes.
Quando o humor está em alta, meto-me a ouvir as conversas dos outros e as suas grandes teorias sobre tudo e eventualmente sobre aquilo que desconhecem. Há uma que eu adoro que é aquela pergunta quase retórica do "como é que eles não têm calor com aquelas roupas pretas?" e outra também muito boa é a do "Como é que eles podem chamar àquilo música?!".
Em relação à primeira, é fácil. Claro que qualquer pessoa sente calor num dia em que estão quase 40º. Claro que se estiver de preto e ao sol, ainda sente mais calor. Mas a intenção de trajar preto (independentemente da razão ou tribo) não é essa de se meter ao sol, garanto. Em relação à segunda, é daquelas coisas... chama-se música a muita coisa e não podemos desclassificar as coisas só porque não gostamos.
No fundo, deu-me um certo gostinho que neste fim-de-semana, ao contrário de todos os outros fins-de-semana, se ouvisse por toda a Vila sons guturais em vez dos típicos acordes de músicas de nobres compositores como o Quim Barreiros, interpretadas lindamente pelos artistas cá da terra.
Às vezes sinto falta de mais coisas que marquem a diferença cultural, para me sentir bem por aqui, mesmo que não participe directamente nesses eventos. Porque acho que faz falta. A uns para que salvem as suas indumentárias favoritas das ferozes traças dos guarda-fatos e a outros para terem assunto de conversa.

Será depressão?

Hoje sinto-me cansada, apesar das quase 10 horas que passei na cama. No ouvido, um ruído ensurdece-me há mais de dois meses. Os médicos consultados, também eles dois, não me receitaram nada para isso. Ignoraram. Deram-lhe pouca importância. Passaram à frente.
As minhas mãos estão enrugadas, bem parecidas com as da minha avó, que já passa dos oitenta anos. Queria usar anéis. Queria pintar as unhas. Mas quanto mais as atenções chamar, mais se vão notar as rugas que eu tanto quero camuflar.
Ao espelho, o rosto transforma-se. E sempre para pior. Estou diferente daquilo que era há apenas três ou quatro anos. A cara envelheceu. Os olhos entristeceram-se e perderam o azul brilhante que ostentavam. A boca rodeia-se de marcas estranhas. Não me reconheço.
Na rua, invejo os mais novos e comovo-me com os mais velhos. Nos mais novos, vejo a adolescência que desperdicei num abrir e fechar de olhos, de tão entretida que andava a beber amêndoas amargas e a fumar Águia de enrolar. Na velhice, vejo a ingratidão desta vida que não nos leva para nenhum porto seguro. Que ainda nos pune no final disto tudo.
No trabalho, sinto-me como uma palavra indevidamente empregada numa qualquer frase que se pretende clara. Desenquadrada. Fora de contexto. Não gosto do que faço, não gosto da área que estudei. Mas era preciso um canudo. E cada vez tenho mais a certeza que isto está longe das minhas, cada vez menores, potencialidades. Pior, sempre tive a certeza. Mas arrasto-me por aqui. Deixo-me levar. Deixo-me levar pela "corrente" mas também pelas velhas balelas do "não há mais nada" ou "preciso do dinheiro".
Em casa, instalei uma rotina que não consigo, nem à força de golpe de estado, destronar. Chego, como, durmo uma sesta, levanto-me, faço o jantar, fumo um cigarro, vejo televisão, preparo o que há a preparar e deito-me. Vivo sozinha, mas a casa e as coisas que por lá preenchem os cantos não são minhas, àparte livros, discos e outras ninharias. Não me sinto em casa e não encontro casa. Ciclo vicioso esse.

São quase 29 anos e nada se passou digno de registo.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Saudades

Tenho saudades. Hoje fui assaltada por esse tão belo sentimento, que os portugueses reclamam como exclusivo seu. Não sei se o é, para além da palavra, mas curiosamente sou portuguesa e sinto-o hoje, mais do que nunca, como ninguém.
Sinto saudades que são sentidas como uma força maior, que me sai do coração e me corre vincadamente nas veias e que me chega à garganta e a mete num nó, saindo então do corpo e abraçando este espaço, onde me encontro, como que a implorar que não as deixem morrer, as saudades.
Tenho saudades das pessoas que me fizeram sorrir. Sobretudo essas. E dessas acima de quaisquer outras. As suas palavras foram aquilo que ainda hoje incessantemente procuro, como se nunca tivesse tido. As suas faces. Os seus receios. Os seus cheiros. E sobretudo, aquilo que me diziam e que eu só agora compreendo.
Tenho saudades de tudo aquilo que ainda tenho para viver. No entanto sei que vou chegar ao futuro com saudades do passado, do presente onde me encontro. E isso leva-me a crer que todas as saudades são falsas memórias, que se destinam simplesmente a camuflar algo superior, que é a nossa vida tal como ela é e todos os caminhos tomados tal como os escolhemos.
Mas para quê tentar ser racional, se tudo o que esta falsa memória nos apela é para que os olhos nos brilhem, o coração nos palpite e se recorde, com nostalgia em demasia, aquilo que foi e já não é, aqueles que foram e já não são. E para tal, as saudades não implicam necessariamente que se caia em tristezas profundas e arrependimentos extremos. Antes pelo contrário, as saudades estão cá bem portuguesas ou internacionais, para nos dar conta do sangue que nos corre nas veias e do, tantas vezes negligenciado, coração que nos bate no peito.
Confronto dois seres
E uma alma,
A minha.
Confronto o azul que via nas tardes da minha infância
E o cinzento que os meus dias primaveris instituíram.

Não sei com que valores hei-de lutar,
Se os teus,
Se os meus,
Se os de Deus dará.
Há coisas bem mais complicadas, mas bem mais simples
de resolver.
Não sei se me entendes.
E não sei sequer se quero a tua compreensão.
Porque tudo passa - inevitavelmente - por uma sessão
de psicoterapia.
Ou talvez,
Pela nossa própria aceitação dos factos.
Porque tudo é tudo aquilo que nós pretendemos ser,
Ou talvez não.

Confronto dois seres.
O meu e o teu.
A minha alma que dá solavancos de cada vez que te
pressente,
A tua alma que me arromba a fechadura do coração, de
cada vez que lhe apetece.
E fico com a indefinida sensação,
De que nada acontece sem razão.

(Um dia houve alguém que me disse que tinha gostado deste poema e eu, corei...)

terça-feira, 24 de junho de 2008

O Escritório I

Trabalho num escritório das 9h às 17h30. Trabalho por assim dizer. De vez em quando, interrompo o messenger e a pesquisa de coisas parvas na net para fazer algo que me peçam ou para falar com algum senhor doutor ao telefone. Outras vezes, é mesmo o descalabro e acabo como me encontro: blog aberto, janelas do messenger a piscar e telemóvel à mão, não vá alguém muito interessante e pouco importante ligar.

A nossa vida durante o horário de trabalho não pode ser apenas vista como enfadonha, há que pensar no lado positivo da coisa. Observando os colegas, podemos especular sobre as suas vidas e os seus pensamentos. Muitas vezes ocorre-me perguntar: Será que eles continuam assim, tal como os vejo no escritório, fora dele? Será que há alguém que por engano (ou não!) diga "Ó senhor doutor!" ao marido enquanto atinge o orgasmo? Alguém que quando lhe pedem qualquer coisa, desde um pequeno favor de "passa aí os amendoins" até um empréstimo colossal, responde prontamente "Irei proceder em conformidade!"? Claro que não.

As pessoas vestem máscaras para parecer mais fortes e intocáveis. O senhor doutor que usa um fato e gravata apertados ao final do dia, com a orelha vermelha de tanto falar ao telemóvel e com uma dor nas costas terrível, só lhe ocorre meter-se em cuecas no sofá, com o gato aos pés. No entanto, antes disso, ainda vai ter que passar no lidl para comprar umas coisas para o jantar e ouvir as queixas da mãe sobre as dores que a mudança de tempo lhe causa nas pernas..

A senhora doutora, por sua vez, mantém a sua máscara até à linha imaginária que separa o mundo exterior da sua casa. Até lá, toda ela é roupas compradas na La Redoute, é unhas arranjadas na manicure, é cabelos lavados duas vezes por semana na cabeleireira mais in das redondezas. É um tom de voz bem colocado e que impõe um certo respeito e distanciamento, apesar da utilização de "a gente" como primeira pessoa do plural. Contudo, é uma infeliz que ainda não percebeu muito bem o que faz neste mundo. É alguém que sabe muito sobre a vida dos outros, mas que não entende a sua. É alguém que chora porque sente a sua cama ausente de amor e porque cada vez que se admira ao espelho descobre mais uma ruga que tem que atascar com base, mais uma variz que não lhe vai ficar bem com a saia nova.

E eu própria, sempre que batem as 17h30 não penso em mais nada se não chegar a casa e poder finalmente ter uma conversa decente com o meu cão...

terça-feira, 17 de junho de 2008


Estou completamente estática a olhar através desta janela suja para a chuva lá fora. Alguém me disse que eu devia ir, mas ninguém me disse para onde. Então, fiquei neste impasse que, aos poucos e poucos, tomou conta de mim e enfiou-me nesta inércia inexplicável, incontornável.
Apetecia-me fumar um cigarro. Um daqueles introspectivos, que só fumamos em ocasiões tão especiais como a depressão. Mas não fumo há uma semana. E chove. E alguém que eu não conheço muito bem diz para eu não sair, que me posso constipar. Então, deixo os cigarros para depois, talvez para um dia em que já não me apeteça fumar, mas que apareça alguém com muito bom ar a oferecer-me um cigarro dos seus.
Entrei num ridículo tal, que visto o pijama sem cuecas por baixo. Se ficar dez dias em casa, são dez dias certos em que o meu cabelo não verá champô e os meus dentes escova. É difícil estimar o desleixo que me assalta e penetra e me manipula nestes dias. Não me visto, guardo a roupa religiosamente para uma cerimónia que eu sei que não irá acontecer. Durmo sem horas para acordar. Como e durmo e acordo para comer e como para voltar a dormir. A juntar a isso, às vezes mijo-me quando me peido. E como não será difícil calcular, a coisa torna-se um pouco deprimente.
Sonho em ser bonita e ir lá para fora brilhar, seja à chuva ou ao sol. Mas guardo-me para não sei bem o quê e entretanto os anos passaram e eu não passo de um trapo mijão que sonha com o passado que já foi e o futuro que nunca será.

Sei que é ele quem governa o mundo!




quarta-feira, 4 de junho de 2008

Não é, joão?

Dei por mim a reparar que o tempo passa excessivamente depressa.
Ainda ontem estava com 19 anos a ver Portishead na Zambujeira e é já este ano que faço os 29.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Bonito não é.


Porque não consigo eu separar-me de um sinal de nascença?

Fugi

Fugi de ti como um violino foge de uma nota grave.
Como esta orquestra fingida que é o meu coração foge do sangue que lhe corre.
Como esta pausa de ansiedade que me dá na música que compus para nós.
Fugi e fingi.
Fingi que te era alheia nesta sórdida sensação de amar.
Fingi a valentia de um guerreiro de busto erguido.
Fugi mais depressa que a presa foge do seu predador.
Fugi para mais longe que o além sol.

Violinos ripando notas agudas e aflitas,
Repetidas num refrão que não percebi.
O amor era a parte esquerda do corpo morto na morgue.
A paixão era uma autópsia lenta e sanguinária.
E eu, o bisturi.

Tu… quem eu não sei ainda.
Que parte te pertence, que parte te sobra.
Que sensação terás ao desvendar esse corpo frio e inabitado.
Que instrumento tocarás para que tudo deixe de ficar igual.

Lágrimas de olhos mortos e vazios de azul.
Sangue escorrendo o pouco vermelho que sobeja em si.
A própria criação da arte na carne putrefacta do depois de amanhã.
A simulação de um orgasmo rígido em ritual solitário.
Os punhos cerrados, fortes e másculos, secos e frios.

Foi esta parte que eu ouvi lá fora alguém gritar
Em desatino de amante não convencido com a morte que nos assombra,
Não satisfeito com o beijo molhado da despedida.
Horrorizado com a ideia da sua cama continuar por estrear.

E os violinos, ardem de tanta nota repetida em desatino de compositor.
Será que eu pedi para repetirem este refrão até que a luz me venha à cabeça?
Será que a voz rouca que me segreda ao ouvido não farás ainda é a do meu pai?
Ou será que o bagaço deu para apagar na sua cabeça a dor de me perder?
Ou será que outro copo me faz alucinar com vozes que já não mais pertencem à razão?
E o que é certo e coerente afinal?

Fugi quando queria ficar mais um bocadinho.
Fingi quando queria dizer-te que te queria de todas as formas possíveis e imaginárias.
Cubos, círculos, triângulos, pentágonos…
Espirais de sentimentos e fervor.
Incerteza de até quando.
Incoerência na definição do tempo presente,
Na definição de depois.
E sem mas que modifique o significado e importância daquilo que ficou.

Portas abertas fazem a fronteira entre pessoas e hábitos
Nas ruas movediças, onde caio próximo do sinal stop
Cá fora, morrem cães esfomeados
Pedem mendigos famintos
E outros, que talvez não.

Levanto-me e reparo no letreiro novo do café
Precisam de empregado ou empregada ou lá o sexo que queira ter
Não me preocupo com a sexualidade do futuro explorado
Preocupo-me antes com a memória vaga daquela que nunca tive
Mas preocupo-me pouco e esqueço-me a meio de um bafo no cigarro que ainda agora acendi

Pergunto se os encontrões dão pontos na lavagem automática
Ou descontos de não sei quantos por cento na hamburgueria
Há pessoas que têm gozo em encontrar corpos desconhecidos nesta romagem comercial
Eu não. Prefiro largueza de tacto. Estou bem com a visão e o olfacto

A prostituta muda que aqui morava morreu
Não sabia que as mulheres da vida também morriam
Mas fui devidamente informada pelo papelinho na montra da funerária
E pela imobiliária que meteu a pequena casa à venda

Declaro morte à rotina. Minha e destes transeuntes todos.
Quero um apocalipse dantesco
Que marque com chamas e cinza as imagens satélite
Que decepe sem pudor
Que mutile por amor.
Um apocalipse que combata o sofrimento com ainda mais sofrimento
Tamanho sofrimento
Que não se consiga medir com medidas conhecidas em todos os universos

Declaro morte a tudo o que me rodeia
Sinto-me Cristo o salvador e castigador de todos os mortais
Sinto-me a justiceira que nenhuma série de televisão conseguiu alguma vez argumentar
Morte à estupidez que nasce todos os dias e prolifera sem pedir licença
Declaro prisão perpétua ao preconceito e ao cochicho antecedido de uma cotovelada.
Declaro silêncio absoluto e eterno a quem não sabe falar
E a todos os que usam a retórica a fingir inteligência.
Morte por lapidação a todos aqueles que ousam trair as amizades
Quartos almofadados para todos os outros que insistem em amar quem não os ama
Auto-combustão ao fato-treino domingueiro
Crianças a correr pelas ruas sozinhas sem apoio, nem carrinhos e bonecas
Todas a morrer sem perceber. E eu quero lá saber: Nem deviam ter nascido
E o senhor doutor, não morre? Claro que sim.
Crucificado num auto de fé bem ateado com despachos e formalidades cagalhonas
Vão-se todos foder. Quero lá saber. Já cá não fazem falta, se é que alguma vez fizeram.

Regresso a casa e procuro o meu chicote no guarda-fato. Sei que o vou encontrar