sexta-feira, 29 de abril de 2011

terça-feira, 26 de abril de 2011

Podias

Podias ter corrido para o outro lado da janela. Esperar que os pombos acabassem as suas tarefas lá em baixo e dizer olá. O mundo acaba quando pensas que vais só ali. De dentro dos teus olhos, não são só lágrimas que saem, mas também raios de luz que tu descontente pensas (mal) em guardar para ti.
Podias ter corrido, travessa acima, travessa abaixo, por debaixo de um guarda-chuva gigante, que ali passeava, nas mãos de um desconhecido.
Podias ter encontrado aquela moeda que tanta falta te fazia para comprar um maço de cigarros. Bastava-te tropeçar, se tu em vez desse estúpido teletransporte alucinado que usas, tivesses ousado calçar aquelas botas-com-falta-de-graxa e saído de casa, descido a rua, virado à esquina… et voilá!
Estupidamente, podias ter feito coisas muito menos estúpidas do que o somatório das horas em que vestiste a tua própria pele, masturbando-te orgulhoso diante do espelho. Podias ter vestido um fato corriqueiro e ter encontrado a magia de um certo dia que é diferente de um certo outro. Ali ao lado, do outro lado da janela, podias ter encontrado a alegria, enquanto exclamavas por ela!

As pessoas mortas, nas suas campas, riem-se de ti. As tuas desculpas são quase tão ridículas como as flores que trazias no dia do teu próprio funeral. Encenado, com certeza, que a tua vaidade não te permitiria morrer a sério.