quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Para não dizerem que nada escrevo, escrevo nada.

Mando em média dois curricula por dia desde o antes do dia em que me despedi. Pacientemente, deixo os curricula ganharem asas e voar e aguardo que algum deles, tal como um pombo-correio, regresse com notícias. Daquelas que espero, sem desesperar.
Informo-me sobre aulas de yoga e ballet perto da minha casa nova. Há de tudo, como seria de esperar de um grande centro urbano. Valha-me isso! E com um sorriso nos lábios, faço pim-po-ne-ta entre elas, pois acho que não consigo decidir sem hesitar.
Mato saudades dos amigos de sempre com cafés, jantares e larachas. Sinto-me desterrada aqui, mas também ali. Pergunto-me: onde moro afinal? Onde é a minha casa? Onde me sinto abrigada? Pelo menos uma certeza me resta: o meu coração tem morada fixa, dentro de mim.
Páro e respiro fundo. O importante é não perder a calma e não perder a força também. Continuarei a lutar por aquilo que sou e que pretendo não deixar de ser, hoje exactamente como ontem e incessantemente até ao fim. Não há lugar para medos e frustrações. Nada de hastear bandeiras brancas. Nada de me vergar porque, sobretudo, ainda acredito em mim.
E uma frase, daquelas que invento enquanto caminho por aí, fica hoje estacionada aqui: Um dia colherei belezas onde outrora semeei tristezas.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Saudades

Só me dou verdadeiramente conta de que sou portuguesa, não sentindo vergonha de tal constatação, quando sinto saudades.
As saudades são das mais belas invenções e são nossas, bem portuguesas. Inventadas não sei quando nem por quem, têm sido o soldado mais fiel a esta pátria cada vez mais descambada.
Ao contrário do amor e de outros sentimentos, tê-las é belo, matá-las idílico. E eu tenho-as e ostento-as todos os dias. E mato-as, sempre que posso. Em público. Em privado. Pena que, por muito que as apunhale, sobrem sempre algumas vivas.
Tenho saudades de ti. Deles. Do futuro e do passado. Saudades que pretendo esventrar uma por uma até me esquecer do dia em que fui portuguesa.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

As cidades...

... são campos de cultivo de cães de trela obesos e amores quase perfeitos.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Indícios e Concertos

Tenho tido ultimamente vários indícios de que estou a entrar numa nova idade. No último concerto que fui, tive mais um desses estranhos e cada vez mais recorrentes indícios: achei fantástica a ideia dos lugares sentados. Apesar de gostar imensamente de dar um pezinho de dança e abanar a anca com as músicas que mais me agradam, começo a achar altamente desconfortável ver concertos de pé. Ora são as dores nas costas, ora são os cabeçudos que em vez de terem ido para um qualquer Carnaval português, se vão enfiar mesmo à frente do meu metro e sessenta e um calçado com uns rasteiros sapatos dr. martens.
Por falar em concertos, aviso desde já dois ministérios - o da cultura e o da saúde - de que desconfio que há propagação de H5N1 nos espectáculos a que assisto. Não por a passarinha que aqui debita palavras estar presente, mas sim pelo facto de que assim que há uma música mais calma ou uma parte mais parada, o público desata logo a tossir. Ora lá atrás, ora ali mesmo ao meu lado esquerdo. Toda a minha gente tosse e, se não se trata de um caso de saúde pública, trata-se certamente de um desconforto generalizado perante o silêncio. Pois meus amigos com problemas de garganta, de tosse seca ou com expectoração, se tivessem o mesmo ruído constante nos vossos ouvidos que eu tenho nos meus (ruído esse também conhecido por ser um dos indícios que me avisam que a idade já é outra), nada vos deixaria mais gratos que um bocadinho de silêncio para aproveitar uma música calma ou umas palavras sensatas.
Para terminar, queria avisar aqueles gajos chatos que começam a berrar em direcção do palco na esperança que os artistas lhes respondam, que gritam nomes de músicas e que fazem "ÚUUUuuu!!!!" quando começa a favorita deles, que isso tudo é bastante ridículo. Bastante mesmo. E que, não sendo nada comigo, até coro de tão envergonhada que fico. Pois por falar de indícios, esses actos são fortes indícios de demência humana ou de pré-adolescência mal resolvida (o que é bem pior que adolescência mal resolvida). Tratem-se ao som dos vossos discos favoritos e fechem-se bem fechados nos vossos quartos. Comigo resultou e passei sem problemas à idade seguinte. Convosco não será diferente, haja esperança.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Passe Social

E porque estamos resvés Dia de São Valentim, aqui fica o bonito e curto relato do meu dia de ontem, falado na terceira pessoa à boa moda futebolística:
Cerca das 17 horas do dia 12 de Fevereiro, Cristina encontra o seu Passe Social no guichet da Estação do Rossio. Olham-se por breves instantes e a cerimónia inicia-se. A celebrá-la, estava o funcionário da CP com mais cara de parvo de que há memória. Como testemunhas, duas ou três pessoas dos Concelhos de Sintra e da Amadora que ali se encontravam a fim de tirar bilhete ou fazer alguma reclamação.
A Cerimónia, breve, decorreu sem incidentes e não há memória de um sorriso tão desenhado de felicidade no rosto de Cristina. Daquele momento em diante, poderia agarrar, beijar, usar o seu passe. Sem remorsos, sem ter que esconder de ninguém. Aliás, ostentá-lo-ia com orgulho. Com amor.
Cristina e o Passe, finalmente a sós, fizeram a linha de Sintra numa viagem que tão bem irão recordar e repetir vezes e vezes sem conta. A noite de núpcias foi em Queluz, não na Pousada, mas num modesto apartamento. O Passe, também ele muito satisfeito, adormeceu feliz e quentinho dentro da carteira de Cristina.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Como boa desempregada que sou, vou mas é sair e registar o Euromilhões.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Queria, mas não consigo.

Queria escrever, mas oiço uma música tão linda que me capta os sentidos todos, até aqueles que não se usam quando se ouve música. Quem conhecer os solos de piano do Philip Glass, saberá do que falo.

Duas semanas

Passaram duas semanas desde que peguei no cão e nalgumas coisas de valor e vim. De todos os dias recordo a angústia que predomina no coração de quem decide mudar. Sem rede. Sem chão à vista. Demasiado arriscado para quem aspirava glórias e só tem encontrado fracassos.
Mas hoje não. Hoje foi diferente. Hoje comemoraram-se duas semanas com sol na cara, coisas novas em casa, mensagens de amigos e nada de interrogações, nem minhas nem de quem me quer bem. Hoje percebi e percebemos que alguns dias são melhores que outros, que a nossa felicidade e que os nossos sorrisos não podem ser comandados pelas coisas que nos correm menos bem. Se nestes dias me tenho aborrecido por ainda não ter arranjado uma ocupação, muitos outros virão em que a ocupação me vai aborrecer e acinzentar o espírito. Por isso, há que perceber que há partes vivas em nós, quando outras parecem ter morrido um bocadinho. Porque tudo o que nos entristece hoje, será provavelmente uma ninharia comparando com aquilo que nos entristecerá no futuro.
Nada mais tenho a dizer, que não sejam frases feitas, lugares comuns, clichés. Como lhes queiram chamar. Mas não poderia dizê-lo doutra forma, porque é a verdade.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Já deixei de usar pinça

O meu sonho é um dia ter uns bigodes maiores que os do meu gato para, sempre que o apanhar a dormir, os roçar no seu focinho para ver se ele gosta!

Eu tenho um. E tu?

A parte boa de se ter um amigo imaginário é que, quando não nos apetece, sempre temos alguém que cozinha por nós. A parte má é que os amigos imaginários são umas grandes melgas que nunca se mancam e, muitas das vezes, assumem que a nossa casa é a casa deles também.

Procuro.

Acordo hoje com esperança de nunca ter saído de ontem. Abro a janela e procuro, para além do que a vista que me colora os olhos de azul me mostra, pedaços de mim por entre os destroços do dia que eu nunca quis abandonar.
E nada encontro.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

(des)Crenças

Tenho pena (ou não), mas não acredito em nada. Nem deuses, nem espíritos nem pais natais. Nada. E tenho vivido feliz com isso, porque me sinto possuidora de uma clarividência que muitos não possuem. Sei que quem faz o nosso destino somos nós próprios e que, quando morrermos, não há anjos a entoarem cânticos celestiais nem tapetes vermelhos à porta do Inferno. Porque nada há para além daquilo que vemos. Desiludam-se, portanto.
E gabo quem acredita em algo transcendente porque, através dessa crença, a dor e o desespero são mais fáceis de suportar. Mas também acho que os crentes, no que quer que seja, são no fundo uns preguiçosos que para não agir em circunstância alguma, justificam que está tudo nas mãos Dele. Ou pior, parecem-me aqueles putos mimados que culpam sempre os outros das asneiras que fazem. Foi Ele que quis que o meu marido caísse no poço. Foi Ele que quis que a minha filha engravidasse. Foi Ele que quis que eu não tivesse um tostão... Lembro-me agora que também há uma justificação patético-crente que eu adoro: "Com a ajuda Dele, tudo se há-de resolver".
Não descuro que haja por aí bons crentes, aos molhos nas diferentes religiões que existem, mas na grande generalidade que conheço, as pessoas usam os seres superiores (anjos, deuses ou o próprio Snoopy...) como uma espécie de saco de boxe enraçado de muleta: pode-se recorrer sempre a Ele(s) como culpado(s) de tudo ou como apoio incondicional.
Desconfio que se eu acreditasse num ser superior omnipresente, omnipotente, omnisciente e, porque não, omnívero também, a vida corria-me melhor. Ou não. Acreditaria que era por vontade Dele que eu ainda não tinha arranjado um emprego, que era culpa Dele o quintal do vizinho ter descambado para cima do meu, que o zumbido que oiço no meu ouvido há cerca de um bom ano e tal, é apenas Ele a dizer-me toda a verdade do mundo em aramaico. E assim, ficaria o dia inteiro a pensar n'Ele. À espera que Ele fosse falar com o senhorio por causa do muro, que Ele fosse distribuir o meu CV, que Ele me fizesse o almoço, o jantar e mais as massagens nos pés. Que rica vida seria!
Mas não acredito nem n'Ele nem em ninguém, porque nos dias de hoje não se pode mesmo confiar em ninguém. Pé atrás com seres terrenos e celestes! Por isso, resta-me levantar o rabinho desta velha cadeira e fazer-me à vida, recordando apenas a todos os outros que ficam sentados que, como diz a Adília Lopes (salvo erro): Deus é a nossa mulher a dias. O que faz todo o sentido.