domingo, 31 de maio de 2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mano

- Oh pai! Oh Mãe! Quero um mano!
- Queres um mano para quê filho?
- Quero um mano para ter com quem jogar à bola e brincar e falar!
- Com tantos manos que há pr'aí na rua, 'inda queres mais um p'ra brincar?! Vai mais é fazer os trabalhos de casa, que amanhã tens escola! - diz o pai visivelmente perturbado.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Mais

Chegados a casa, ela dirigiu-se à pilha de discos de vinil. Tirou um que se destacava dos restantes, limpou-o e meteu-o a tocar no gira-discos. Disse-lhe: Quero mais! Sempre mais! Muito mais! Tocaram os copos, no mais cúmplice dos brindes. Dar-te-ei mais, sempre mais, até que mais não te possa dar. Abraçaram-se e esqueceram as horas, dançando a música que vinha do gira-discos, mesmo depois da agulha ter percorrido a última faixa.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Pour ceux qui pensent que l'amour est seulement un mot et qu'aimer est seulement un verb

J'aime
Tu aimes
Il aime
Nous aimons
Vous aimez
Ils aiment

Et pour tous les autres qui aiment vraiment ses amis, ses familles, ses enfants, ses animaux...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Eles

Um amigo meu contara-me que eles, assemelhando-se a outros quaisquer passageiros, chegavam à estação, lavados e bem vestidos, e metiam-se a controlar o horário dos comboios através dos painéis e através dos seus relógios de pulso.
Chegada a hora do comboio, aproximavam-se da plataforma e antes que este parasse, atiravam-se para a linha. Eram perspicazes e conseguiam sempre atingir o seu objectivo à primeira: sem hesitação nem sofrimento. Restava apenas o grande transtorno daqueles que teimavam em continuar vivos, naquela estação, à espera de embarcar.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Uma tarde bem passada!

Apanho o autocarro na estação da Amadora. Eis-me bem sentadinha no 137, quem diria! 137 é um autocarro da Vimeca. Vi... Meca. Não vi Meca, mas vejo os fabulosos bairros sociais do Concelho. Algo muito mais valioso que o euro e noventa que paguei de bilhete. E assim, comodamente sentada junto à janela, vou admirando os gajos que passam os dias encostados aos pilares dos prédios, a enrolar ganzas e a brincar com os telemóveis. Vou contando os polícias que fazem patrulhas e os outros que fingem fazê-las, rezando para que nada aconteça.
Chego ao meu destino: dolce vita tejo. O novo centro comercial que abriu para estes lados. Não tenho visto televisão, mas aposto que alguém do governo se terá referido a ele como a prova de que a crise está a passar e como investimentos destes são importantes para o crescimento económico do país. Aposto, só. Espero que não tenha sido dito pelo gajo da voz anasalada, que eu já não posso com ele.
Tenho agendada uma entrevista de emprego, numa sapataria em que o preço de cada par de sapatos (por muito minimalista que seja) ronda os 100 euros. Como chego uma hora antes, trato de me entreter por ali. Páro numa espécie de café e peço um espresso e um bolo. A forma como os clientes são tratados, irrita-me. Depois percebo que este estabelecimento pertence a uma cadeia americana e compreendo o porquê do tratamento e também o porquê da quantidade de coisas pouco saudáveis à venda. Não sei se estou ensonada e a ver mal, mas toda a minha gente puxa do cartão para pagar, nem que seja apenas um café. Sou a única que paga com dinheiro vivo. Combatamos a crise com o endividamento das famílias, meus senhores! (leia-se com voz anasalada, por favor!)
A entrevista corre inesperadamente mal, para o entrevistador. Não está munido do meu curriculum e esqueceu-se por completo que a tinha marcada. Fala comigo à porta da loja, num gesto pouco profissional a meu ver. Dou-lhe uma cópia do meu curriculum e ele olha, mas vê-se perfeitamente que não lê nada. Pergunta se tenho experiência em atendimento ao público e diz-me que depois contacta-me para futura entrevista.
Garanto aos meus leitores que não sou nenhum quasimodo, nem nenhuma Maria de Lurdes Rodrigues, mas parece-me que nestes sítios não vão à bola comigo. E eu, depois destas entrevistas amadoras, fico com uma péssima imagem das empresas e esforço-me por falar mal delas a toda a gente. É a minha pequena vingança pessoal. É o meu orgulho e a minha forma de sobreviver às coisas.
Nisto, recordo que tive resvés para ir trabalhar numa livraria que abriu também neste centro comercial. A entrevista correu muito bem e notei que eles simpatizaram comigo. Prometeram contactar-me, mesmo que fosse para me dar más notícias. Ficaram satisfeitissimos por saberem que eu gostava de ler e escrever. Disseram-me mil maravilhas e que a ideia era ser um sítio muito cool, com sangue novo, assim à semelhança do pessoal que trabalha na fnac. Pois, pois...
Eu e a minha curiosidade mórbida fomos passear e encontrámos a livraria em questão. Desde os livros ao pessoal que lá trabalha, tudo me pareceu bafiento, mofento, entediante. Tinha prometido puxar-lhe fogo, mas achei que se aquilo começasse a arder, mais mal cheiraria. Guardei o isqueiro e as acendalhas e observei bem as caras de quem me ficou com o emprego: saí vitoriosa!
Por onde ando, há mil e um cristianos rolnados e até um elemento verdadeiro daquela defunta ""banda"": os d'zert. Os cristianos rolnados, versão Concelho da Amadora e arredores, são, tal como o original, uns belos pategos: mal penteados, mal vestidos e com brilhantes falsos a infectarem-lhes as orelhas. Ainda por cima não conseguem arranjar Merches nem Nereidas, ficando-se pelos trambolhos mais mal esgalhados da freguesia, daqueles que aos 16 anos começam a parir, engordar e "entrambolhar" ainda mais.
Dolce vita não faz sentido, passados cinco minutos lá dentro, percebo isso. Está cheio de gente durante a semana, às quatro da tarde. Cheio de gente desempregada, cartões de crédito e miúdos que fizeram gazeta à escola. É o fare niente português, é mais um circo para entreter o povo e os media. É mais um lixo, daqueles que não faziam falta nenhuma a este país, mesmo apesar dos não-sei-quantos empregos que veio trazer à região.
Sinceramente, vou propôr à direcção mudar o nome para Dolce Mitra Tejo. É um nome mais realista e divertido, a meu ver.

Depois não digas que não te avisaram!

"Na entrada para o combóio, tenha atenção ao espaço entre a porta e a plataforma"

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tédio

Tédio.
Tédio de adormecer antes de amanhecer.
Tédio de acordar quando tem que ser.
E ser. Ser. Ser.
Ser o que sou sem deixar de parte aquilo que fui.
Que fui.
Tédio.
Da madrugada fugaz que passei nos teus olhos.
Honrada por ser tua. Toda tua. Por breves instantes.
Breves Instantes, sem tédio. Breves instantes, que logo se foram.
Tédio de correr atrás de horas que passam num minuto.
Tédio de ter sonhado ontem. E ontem já ter sido há vinte anos.
Vinte anos que passaram e já não voltam.
Vinte anos que já foram e vinte anos que virão e se multiplicarão, eternamente.
Eternamente, tédio.
Tédio de chegar a hora de te ires embora.
De teres que passar aquela porta. E continuares aqui. Ao meu lado. À minha frente.
Tédio de não conseguir que o espaço e o tempo se fundam.
Ou, pelo menos, se confundam.
Tédio de ser matéria numa atmosfera e não ser o contrário.
Nem massa que justifique a sua ocupação espacial.
Nem física que justifique todos estes vectores.
Tédio de me perder por assuntos que não compreendo.
E fingir a inteligência que não tenho. Parecer esperta. Quando não o sou.
E nunca o fui.
Porque se o fosse, este tédio seria outro tédio.
Tédio útil que utilizaria em meu abono.
Tédio que me aborreceria doutra forma.
Ou sem forma de me aborrecer.
De tédio.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Morte


A propósito de uma amiga que não tem medo dela. E de outra que acabou de me dizer que o namorado morreu.