quinta-feira, 31 de julho de 2008

O céu

Hoje vi um céu estrelado lindo enquanto viajava na parte de trás de um carro de um amigo. Um céu repleto de estrelas que me recordou a minha infância. Lembrei-me quando me metia a olhar para cima e toda a imensidão do universo me dava um sentimento maior, misto de medo e de saudades do futuro. Porém, hoje encontro-me no futuro e esse sentimento maior em nada mudou.
É engraçado, mas custa-me mais compreender o conceito de infinito do que de finito. E, isso leva-me sempre ao tema da morte. Porque recordo nestes momentos a efemeridade das coisas, especialmente das belas e daquelas que não queremos que acabem nunca.
No carro, ouve-se uma música agradável, qualquer coisa entre o jazz e a electrónica, qualquer coisa que combina bem com as paisagens escuras que passam em sequência cinematográfica e as estrelas que habitam o gigante nocturno.
Deixo-me embebedar por todo este cenário, enquanto tento abstrair-me da discussão do casal que vai à frente. Discussão estúpida, barata e sem sentido. Gostam-se, mas parece que fazem de tudo para se detestar. E eu, não entendo porque é que a maioria das pessoas que se amam fazem isso.
Imagino então uma curva apertada e inesperada em que o carro perde a aderência ao piso e se vira. A inevitável morte de um deles. E acredito que não deve haver algo mais frustrante que perder um amante no meio de uma discussão, perdê-lo sem ter tempo de pedir perdão.
Tocar aquele corpo inanimado, aquela alma ausente, fora do carro e já sem vida e sentir o peso na consciência de se ter menosprezado o melhor que se tinha. Olhar o céu, no auge da fúria das lágrimas incansáveis, e finalmente perceber a insignificância da existência humana... enquanto que no carro virado ainda toca o jazz dançável.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Férias

Estou de férias. Foram já quase duas semanas passadas de papo para o ar e ainda faltam mais umas duas até voltar ao escritório. Do trabalho não falo, deixo para uma futura postagem, pois é um tema complexo e que me aborrece nestes dias em que esqueço qual o toque do meu despertador.
Há muita gente que me critica estas férias, porque não planeei nada. Sacana que sou, não fui gastar o subsídio de férias que não recebo - três urras p´ros recibos verdes: urra! urra! urra! - numa viagem para um qualquer destino, daqueles que têm tanto de giro como de lotado.
Sinceramente, ir neste momento passar férias para (por exemplo) as ilhas gregas deve ser tão bom como depois da época balnear ir enfiar-me de carro às 9 horas da manhã de segunda-feira num dos acessos a Lisboa, preferencialmente a Ponte António Oliveira Salazar (desculpem, mas aquilo tem mais de ditadura do que de liberdade).
De facto, não planeei nada e nada tenho feito para que algo aconteça. Já fui a mais umas consultas ao fabuloso hospital do litoral alentejano, também ele com direito a uma postagem um dia destes; já fui ver e ouvir o grande leonard cohen; já dediquei uma semana à partilha de casa com a mamã; já passei dois dias de freak-surrealismos em sines no FMM e agora encontro-me confortavelmente instalada na casa de um namorado de um amigo, no Algarve.
Penso, portanto, que estou a ter um cheirinho de muitos e diversos produtos que nem a agência mais atenta, amiga e requintada do mundo me poderia inserir num mesmo pacote turístico de verão.
Quem ousaria meter família, amigos, música, freaks, droga, álcool, leonard cohen, saúde e gays todos juntos numa mesma viagem? Nem eu, se o tivesse planeado!!

A pedido de várias famílias...

Um breve resumo para os meus queridos amigos:

Todos os desenvolvimentos desse dia faziam-me crer que não iria chegar ao concerto viva... Entre outras peripécias, eram 20h e estávamos nós de carro parado antes da portagem da ponte 25 de abril porque a máquina que nunca falha decidiu aquecer com tanto arranca-pára... E um reboque-abutre queria-nos rebocar, pois sabe bem receber umas massas à pala de desgraçados como nós...
Chegámos às 21h03m ao recinto, depois de um hamburguer apressado num macdonalds em Algés, e o grande senhor já terminava a primeira música: dance me to the end of love.
Lá nos misturámos pelo público, repleto de anónimos e estrelinhas bem à moda portuguesa (políticos de esquerda-chique e pseudo-cantores) e, graças a um intervalo em que toda a gente saiu da plateia para ir buscar cerveja (ó vício maldito!!), conseguimos chegar lá bem à frente.
A voz, a postura, a simpatia, a lua, o silêncio e os aplausos pareciam perfeitos. Foi um concerto que muito significou para mim, não fosse o I'm your man o album que tocava obsessivamente no leitor de cassetes da Diane sempre que ia para a praia com a minha mãe, quando era pequenina e pouco percebia de música para além dos queijinhos frescos, onda choc e umas quantas anas farias...
Num ano em que tive oportunidade de ver Portishead, The Cure e Nick Cave, este foi sem dúvida e de longe o melhor concerto e olhem que os outros não foram nada maus!:)

sábado, 19 de julho de 2008

I'm your man - Leonard Cohen



É já daqui a umas horas que eu o vou ver. Nunca pensei que acontecesse em Algés. Sempre me imaginei num Coliseu ou num Casino a pagar uma pipa de massa. Mas Algés é para as massas. E eu não me importo.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Não me conheces, pois não?

Não me conheces, pois não? Nem tu nem ninguém, pelos vistos. Sei que é triste e que me entristece, porque penso que todos me conhecem minimamente bem para saberem do que sou ou não capaz de fazer. Penso erradamente, pois então.
Não me conheces a música favorita. Aquela que me agita e me põe a dançar. Não me conheces nua, nem que pêlos me fazem enlouquecer. Não me conheces o gosto pelos animais, pelos velhotes e por todos aqueles que não se sabem defender. Mas eu amo-os e choro em silêncio com medo de os perder.
Não me conheces as fobias, que são muito mais que o simples medo de bichos rastejantes e de temporais. Tenho medo da morte. Um medo tamanho que me mete a tremer que nem uma louca antes da injecção calmante. O medo da perda de alguém que se ama, de um pai, de uma mãe e de um irmão. De um amante. Nunca compreenderei a injustiça da mortalidade.
Não me conheces os sonhos. Não sabes quantas vezes os tenho maus e acordo transpirada nem as outras tantas em que acordo apaixonada, por um desconhecido, por um amigo, por um beijo. Não me conheces os sonhos de pequenina, de querer ser bailarina, de querer ser estilista mas também actriz.
Não me conheces as frustrações. A de não ter saído daqui. A de não ter estudado artes e outras coisas que me pareceram razoáveis na altura. A de ter tirado um curso que nada me diz e de ter um emprego que mata aos bocadinhos aquela pessoa sonhadora que ainda sobrevive dentro de mim.
Não conheces o brilho dos meus olhos quando alguém gosta de mim ou quando apenas reencontro um velho amigo. Os meus olhos brilham se vejo as estrelas deitada na areia da praia ou se consigo juntar todos aqueles que amo numa mesma mesa. Brilham e sorriem com todas as coisas pequenas que me fazem enormemente feliz.
Não me conheces a paixão pela solidão, pelo meu espaço. O conforto que me dá fechar-me no meu quarto a ler e reler todos os meus papéis, todas as minhas cartas. Ouvir compulsivamente todos os discos da minha banda favorita. Cantar e desafinar e inventar letras e palavras em inglês. Comer o que me apetece e quando me apetece. Deitar-me sozinha ou com o cão e o gato. Dormir sem horas para acordar e sem ninguém ao lado. Admirar-me ao espelho e achar que não há ninguém mais perfeito que eu. Fartar-me da solidão e encher a casa de amigos e música alta.
Mas tu não me conheces, porque se o fizesses nunca teria eu que escrever assim.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Voltas...

Há dias em que acordo de manhã e desato a trautear a música da Volta a Portugal em Bicicleta, enquanto me despacho para vir trabalhar. Estranhamente, nesses dias, tendo a vestir-me de amarelo, a trazer a bicicleta para o trabalho e a parar no supermercado para comprar isostar, pois sabe mesmo bem borrifar-me com essa bebida enquanto mando e-mails enfadonhos aos senhores doutores.

Felizmente, agora estou melhor e só me ocorre dizer: Tour de France!... Tour de France!...

Anda ver o pôr-do-sol por entre os destroços de guerra!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Fazer pela Vida

Atrás de mim oiço a voz de uma senhora chateada, como aquelas que vão refilar para a televisão por tudo e por nada, mas especialmente porque o estado lhes derruba as barracas e não lhes dá casa. O filho dela foi apanhado a conduzir sem carta. Ai que drama! Ai que drama!
O drama, propriamente dito, não foi conduzir sem carta mas sim os senhores agentes da autoridade não perceberem que uma pessoa tem que fazer pela vida. Palavras dela.
Resta-me perceber porque perdi eu tempo a tirar a carta e porque gasto eu dinheiro com os seguros, impostos, inspecções e outras balelas, se no fundo tudo isso é para andar por aí a fazer pela vida.

terça-feira, 8 de julho de 2008

A consulta

"Vamos amor!", diz-lhe ela apressada. Já falta pouco para a hora da consulta de ginecologia no Centro de Saúde. Ele pede-lhe ajuda para ajeitar a camisola. Ela ajuda-o um pouco atabalhoadamente. Não está muito interessada nisso das camisolas e das calças e mais dos peúgos e cuecas, só tem cabeça para aquela consulta. A consulta.
São oito da manhã. O movimento na rua é estranho: Há pessoas que se levantaram cedo para comprar o pão e levar os miúdos à escola, outras há que ainda não se deitaram. Nas pastelarias e cafés, os balcões estão apinhados de gente que trinca desalmadamente o pastel de nata enquanto engole a meia de leite sem qualquer tipo de sentimento. Cá fora, debaixo dos toldos, fumam-se os primeiros cigarros da manhã e contam-se histórias da noite anterior ou as últimas peripécias do filho mais pequeno.
Estas duas personagens, ele e ela, sobem apressada e alegremente a rua, compondo este cenário matinal, tornando-o ainda mais colorido e estranho. Ela vai à frente, sorrindo para tudo e para todos. Passa num toldo e pede um cigarro a um estranho que a trata por tu. Olha para trás. Lá está ele a tentar apanhar-lhe o ritmo com aquele ar de quem a discrimina por causa do vício. Discrimina-a mas nunca, mesmo nunca, a deixa de amar.
No centro de saúde, depois de muito alarido a cumprimentar todos os funcionários, desde os administrativos à classe médica, tiram finalmente uma senha e sentam-se a aguardar a sua vez. A vez dela. É hoje o dia em que tudo vai mudar, pensa para com os seus botões. Pensa nisso e em como cravar mais um cigarro.
Às dez, ouve finalmente o seu nome e entra. E pede que ele a acompanhe. "Vim aqui por causa do diafragma, Doutor. Quero tirá-lo porque quero engravidar". O médico fica incrédulo. Mas não se desfaz. Examina-a, pede-lhe que ele se retire e arranja uma forma de fingir que extrai o maldito aparelho. Aparelho que não existe, que nunca existiu. Laquearam-lhe as trompas quando teve o primeiro filho, porque souberam o que lhe esperava caso não o fizessem.
Ela sai toda contente no final da consulta. Besunta a cara do médico com tanto beijo de agradecimento. A seguir, besunta a cara dele e empurra-lhe a cadeira com o maior carinho do mundo.
Foi melhor assim. Se soubesse a verdade não suportaria, teria ataques, voltaria às crises. Assim acredita que vai conseguir ser mãe outra vez. Que ela, toxicodependente esquizofrenica, conseguirá constituir uma família com o seu namorado paraplégico, tal como os comuns mortais. E não há nada mais valioso do que a felicidade dessa ilusão.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Finalmente percebi o significado dos comentários. Até à data, confesso que não percebia muito bem porque é que existia necessidade de se comentar o que quer que fosse na internet.
Hoje, finalmente percebi! Foi o sorrizinho que esbocei timidamente, enquanto lia um comentário de um amigo, que mo disse.

Divertimentos Paixão


sexta-feira, 4 de julho de 2008

Não gosto do que escrevo. Não escrevo aquilo que gosto. Tudo o que transmito por esta via, soa-me a pouco. Não chega aos calcanhares daquilo que sinto e daquilo que quero transmitir. Por isso, tenho uma vergonha enorme de dar a conhecer este blogue a quem quer que seja.

Porque o faço então?

Amizade

Hoje apetece-me falar sobre a amizade. Um sentimento que cada vez mais me intriga. No entanto, não sei se consigo transmitir o que quero sem cair no discurso teenager de quem escreve umas frases feitas nas paredes da casa-de-banho.
Em tempos tive uma melhor amiga, daquelas a quem tudo se conta, com quem tudo se partilha. Durante anos assim foi. Unha e carne. Pré-adolescência, adolescência e idade adulta. Nada parecia ser capaz de derrubar os tão sólidos alicerces da nossa amizade.
Depois veio a maturidade (ou a falta dela). A minha amiga foi em direcção de Lisboa, à procura de algo melhor. Eu fiquei. Ainda a visitei várias vezes. Ainda lhe escrevi cartas e e-mails contando tudo e mais alguma coisa. Depois, sem perceber muito bem, ela deixou de me falar.
Dessa amizade, ficou uma ex-colega de casa e um ex-namorado dela. Pessoas que hoje muito prezo e que muito prazer me dá chamá-los de amigos, com todas as letras mas também com todo o sentimento.
Há pessoas, que apesar de algumas diferenças, provaram ter mais para dar e receber do que qualquer outra pessoa a quem eu possa apelidar de "melhor" amigo. Até porque não há melhores, há apenas pessoas que nos aceitam ou não, pessoas que demonstram o afecto mais entusiasticamente do que outras, pessoas que nos choram no ombro e outras que nos deixam chorar.
No entanto, tenho pena que nesta vaidade da super-amizade dos "melhores amigos" sejam tantas vezes neglicenciados os outros amigos, que tantas vezes dão provas mais do que suficientes da sua capacidade em honrar a amizade.

Não podemos menosprezar nenhum dos nossos amigos, porque todos são os melhores na sua maneira de ser e todos nos fazem falta, porque todos preenchem cantinhos muito especificos do nosso coração.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Hoje, foi um dia especial. Deixei cair o telemóvel dentro do galão. Retirei o telemóvel já sem vida, apliquei-lhe algumas técnicas de reanimação e, sem resultados, guardei-o desmembrado na minha mala.
Agora, está ali ao sol numa tentativa frustrada de lhe devolver vida.
O galão, por sua vez, manteve-se morninho durante todo este aparato e soube-me mesmo bem.

terça-feira, 1 de julho de 2008

A multa

No outro dia, estava eu toda contente a enxotar Dicas e afins da caixa do correio, quando me deparo com um postal para levantar uma carta registada, cuja única e amável coisa que dizia era GNR no remetente.
Ui, medo! Pânico! O que é que eu fiz desta vez? Roubei? Estrangulei? Fui apanhada numa falcatrua? Espera aí... eu não me meto nessas coisas, o que quererão "ELES" de mim?
Confesso que ainda me ocorreu que fosse o Rui Reininho, mas desfiz logo essa dúvida, pois ele não deve gostar de alentejanas, muito menos daquelas que nasceram em Lisboa.
Graças a isto, passei uma tarde de nervosismos e ansiedades, especulando sobre qual teria sido o meu crime: excesso de velocidade? Manobras perigosas? Duplos continuos? Atropelamento?
Chegam as 17h30 e meto-me a alta velocidade na minha bicicleta em direcção aos correios. Chego, tiro a senha e aguardo pacientemente pela minha vez. Como eu suspeitava, o Rui Reininho não gosta de alentejanas e a carta vinha mesmo do posto da GNR.
A carta era composta por 3 páginas. Não percebi nada. Da primeira página, acho q só li o assunto. Da segunda pouco percebi para além do meu nome e do valor a pagar. Até que encontrei o motivo, denominado por "descrição sumária", manuscrito pelo agente da autoridade da seguinte forma: "Porquanto no dia, hora e local acima mencionados o referido veiculo encontrava-se estacionado não respeitando a indicação dada pelo sinal (...)" blá, blá, blá. A nova geração sabe palavras giras. "Porquanto" é palavra que eu acho que nunca escrevi, a não ser hoje para contar esta história. Já estou desejosa da chegada da geração GNR com K's e X's com fartura. Aí sim vou fazer os possíveis para receber cartas registadas todas as semanas, para continuar a não perceber peva até à descrição sumária.
Fico intrigada. Leio mais acima, conforme sugere a descrição e encontro o nome da avenida onde trabalho. Estranho. Eu quase nunca estaciono ali. Melhor, eu raramente levo carro para o trabalho. Até que diante dos meus olhos aparece a matrícula do meu ex Renault 5, carro que tantas alegrias me deu mas, devido à sua morte iminente, já não me pertence há mais de um ano.
Dirijo-me ao posto da GNR e explico a situação e o senhor agente que me atende sugere, sem mais nem ontem, a apreensão imediata da viatura. Eu, que sou mais pela paz, digo que vou pensar no assunto, investigar o que se passou e logo decido o que fazer.
O rapaz, a quem eu dei o carro por ter a amabilidade de o rebocar da minha porta de casa para bem longe dali, arranjou-o, disfarçou o que havia a disfarçar e vendeu-o a uma rapariga. Segundo a repartição de finanças, a rapariga em questão registou o carro em seu nome em Agosto do ano passado.
Volto ao posto da GNR. Explico que o carro afinal já não é meu e que tenho um papel das finanças que o prova, pelo que quero devolver uma multa que só me veio parar por engano. Então, o senhor agente de serviço na recepção diz-me para eu pagar a multa e depois proceder ao envio, em carta registada, da reclamação, explicação do sucedido e exigência do reembolso do valor pago para a entidade que substitui a DGV, pois esta última não terá actualizado devidamente os dados da viatura.
Confesso que fiz uma cara semelhante àquela que faço quando vejo as caretas dos actores e actrizes dos malucos do riso quando terminam um sketch. O agente pergunta-me se eu não percebi. Claro que percebi, não entendo é porque tenho que ser eu a dispender do meu tempo e dinheiro por causa de uma coisa que eu nem sequer tenho a culpa, mas enfim...
O filho de uma colega também é GNR. Questionado sobre o assunto, sugere que eu procure a actual dona do Renault 5 e que a convide a ir ao posto comigo, a fim de resolver esta situação. Eu não a conheço e sendo a multa devido a uma infracção dela, muito duvido que ela me queira acompanhar ao posto.
Finalmente, como menina do papá que sou, faço as queixinhas todas ao meu pai. Ele, que não se faz rogado a sentir-se útil nesta sociedade, principalmente quando se trata de uma filha injustiçada, pegou na minha papelada e lá foi falar com um senhor agente da autoridade, que repudiou todas as 3 anteriores sugestões dadas pelos seus colegas e o informou que "basta" enviar uma carta ao governo civil, solicitando a regularização da situação visto o carro já não se encontrar em meu nome.
Porra, que país este!!

Ainda não há muito tempo, participei numa oficina de argumento para curtas e lembrei-me deste casal. É real. É bem português. E é excusado ficcionar, porque nenhuma ficção bate o surrealismo aqui patente.

Ela é ex-toxicodependente, ou toxicodependete-comedida. É esquizofrénica. Tem apenas trinta e picos anos, mas está tão estragada que é difícil acertar-lhe na idade. Já fez trinta por uma linha e imagino as linhas que fez por uma trinta.

Ele é paraplégico. Alcoólico. Epiléptico. Enfim, tem as alegrias todas!

Chatearam-se porque ela se embebedou na casa dele e ele é que teve que limpar o vómito. Ele bateu-lhe com tudo o que tinha à mão, até com uma bengala. Ela ficou negra como nunca esteve. Apanhou-o na rua e virou-lhe a cadeira.

Toda a gente ficou muito revoltada com toda a situação. Dizem: Como é que é possível uma drogada fazer o que fez a um deficiente?