sexta-feira, 18 de julho de 2008

Não me conheces, pois não?

Não me conheces, pois não? Nem tu nem ninguém, pelos vistos. Sei que é triste e que me entristece, porque penso que todos me conhecem minimamente bem para saberem do que sou ou não capaz de fazer. Penso erradamente, pois então.
Não me conheces a música favorita. Aquela que me agita e me põe a dançar. Não me conheces nua, nem que pêlos me fazem enlouquecer. Não me conheces o gosto pelos animais, pelos velhotes e por todos aqueles que não se sabem defender. Mas eu amo-os e choro em silêncio com medo de os perder.
Não me conheces as fobias, que são muito mais que o simples medo de bichos rastejantes e de temporais. Tenho medo da morte. Um medo tamanho que me mete a tremer que nem uma louca antes da injecção calmante. O medo da perda de alguém que se ama, de um pai, de uma mãe e de um irmão. De um amante. Nunca compreenderei a injustiça da mortalidade.
Não me conheces os sonhos. Não sabes quantas vezes os tenho maus e acordo transpirada nem as outras tantas em que acordo apaixonada, por um desconhecido, por um amigo, por um beijo. Não me conheces os sonhos de pequenina, de querer ser bailarina, de querer ser estilista mas também actriz.
Não me conheces as frustrações. A de não ter saído daqui. A de não ter estudado artes e outras coisas que me pareceram razoáveis na altura. A de ter tirado um curso que nada me diz e de ter um emprego que mata aos bocadinhos aquela pessoa sonhadora que ainda sobrevive dentro de mim.
Não conheces o brilho dos meus olhos quando alguém gosta de mim ou quando apenas reencontro um velho amigo. Os meus olhos brilham se vejo as estrelas deitada na areia da praia ou se consigo juntar todos aqueles que amo numa mesma mesa. Brilham e sorriem com todas as coisas pequenas que me fazem enormemente feliz.
Não me conheces a paixão pela solidão, pelo meu espaço. O conforto que me dá fechar-me no meu quarto a ler e reler todos os meus papéis, todas as minhas cartas. Ouvir compulsivamente todos os discos da minha banda favorita. Cantar e desafinar e inventar letras e palavras em inglês. Comer o que me apetece e quando me apetece. Deitar-me sozinha ou com o cão e o gato. Dormir sem horas para acordar e sem ninguém ao lado. Admirar-me ao espelho e achar que não há ninguém mais perfeito que eu. Fartar-me da solidão e encher a casa de amigos e música alta.
Mas tu não me conheces, porque se o fizesses nunca teria eu que escrever assim.

2 comentários:

odeusdamaquina disse...

De facto não te conheço.
Mas ainda és muito nova para deixar os sonhos caírem por terra.
Sê a artista que mereces, faz coisas, procura amigos e amigas para fazerem coisas novas e surpreendentes.
Quanto for ter contigo, hei-de
dar-te tudo aquilo que mereces!
Há já muito tempo!
Apesar de não te conhecer.

Anônimo disse...

Olá. Sou eu. O eu que te conhece um nadinha. Que sabe porque escreves. Porque vês coisas que mais ninguêm vê. Que sabe porque sonhas. Porque passa tudo através de ti. Que se torna melhor. O ser gordo e mau coberto de pêlo branco e saliva de Cristo. O eu que faz assim o seu primeiro comentário a um blog. ;)