quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Eu sabia que isto ia acontecer II

Eu sou uma pessoa especialmente paranóica. Não relativamente a atentados terroristas nem a invasões extraterrestres, mas sim relativamente ao paranormal.
Não acredito em espíritos e rio-me de crenças antigas sobre assombrações, visitas e outras acções levadas a cabo por entes queridos já mortos, por crianças esquartejadas em pleno mato, por noivas decapitadas em véspera de casamento e por tantos outros desgraçados do além.
Ultimamente, passo dias inteiros a pesquisar sobre quadros de meninos que choram, sobre o seu suposto autor e sobre todos os mitos que se criaram em seu torno. Culpa do post anterior. Ante-culpa do senhor Bruto e dos seus simpáticos comentários.
Resultado: sei que afinal não há só um menino a chorar, mas sim cerca de 27 diferentes. Que todos os meninos pintados escondem histórias de "horror", maldições, pactos com o diabo e mensagens subliminares nas suas próprias telas. Que o autor é um tal de um italiano chamado Bruno Amadio e que assinou todos os quadros com diferentes nomes e que eu, por muito que reflicta sobre o senhor em questão, não percebo se é um mau pintor armado em parvo ou, por outro lado, um grande humorista dos anos 70/80.
Conclusão da história: passo os dias a ver links e a rir-me a "bandeiras despregadas" (bela expressão idiomática que julgo ser a primeira vez que escrevo) e as noites de luzinha acesa para conseguir dormir em paz, pois lembro-me de todas as coisas que li durante o dia e começo a fazer filmes de terror na minha cabeça.
Contudo, hoje consegui rir-me com a minha própria paranóia: imaginei um menino que chora gigante a descer as escadas da minha casa. Assim bem ao estilo dos cabeçudos de um qualquer carnaval português. Com a sua lágrima realista e o seu arzinho de quem foi assaltado por um chupa-chupa-jacker. O pior é que à noite não vou achar muita piada à ideia e, quando tiver que passar pelas escadas e estas estiverem às escuras, vou fazer muita força para não dar a entender que estou a tremer de medo...

P.S. - Haverá sinal mais evidente de esquizofrenia do que inventar coisas que numa determinada altura fazem-nos dar gargalhadas e noutra fazem-nos ter medo? Pensem nisso...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O menino que chora

A propósito de um comentário ao "post" anterior, fiz uma pesquisa sobre o quadro do menino que chora e encontrei várias coisas interessantes, entre as quais uma teoria que diz que se invertermos o quadro poderemos ver a imagem do demónio (algo que dá alguma razão àquilo que penso sobre as criancinhas, mesmo aquelas que não consigo virar de cabeça para baixo).
Aqui está o quadro invertido, para que todos possamos ver o demónio. Uma singela homenagem a duas coisas distintas: o meu amigo Bruto que não se cansa de deixar comentários que me fazem sorrir (pelo menos!) e à casa amarela onde vivi em Beja que, entre outros detalhes demoníacos, tinha este menino a chorar no hall de entrada.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Recado num guardanapo de papel

Por aqui vai tudo na mesma: uma alma desassossegada dentro do corpo de uma criança sonhadora.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Trinquei uma maçã

Trinquei uma maçã que me soube exactamente àquelas tardes frias e solarengas de Inverno da minha infância. Do tempo em que eu saía do refeitório do ciclo a mastigar maçãs enormes para as minhas mãos e seguia em direcção de mais uma tarde livre de aulas.
Trinquei uma maçã que me soube tão bem a férias de Natal. Ao cheirinho a lareira acesa que invadia a rua onde eu morava. À cor da caruma dos pinheiros do pinhal lá de trás, onde eu ia excitada apanhar cogumelos com o meu pai.
Trinquei uma maçã que me soube àquelas brincadeiras inventadas entre a rua em que morava e o prédio da minha melhor amiga. À loja de roupa que nos oferecia bonecas de pano e cromos de uma caderneta colorida só porque insistíamos muito, com os nossos olhos meninos e essa inocência muito infantil. Muito nossa.
Trinquei uma maçã que me levou até à sala de aula onde aprendi a escrever todas as palavras que hoje sei e mais aqueles poemas que entretanto perdi, mas que eram feitos de quadras compostas por versos todos eles com a mesma métrica, para que tudo soasse como deve ser.
Trinquei uma maçã que me recordou festas de aniversário feitas por adultos, mas nunca o calor de um aniversário comemorado em pleno Agosto. De meias sandes mistas e de bolos de bolacha escrupulosamente distribuídos em cima da mesa.
Trinquei uma maçã que me fez sentir a textura das plantas daquele canteiro, de onde eu resgatava caracóis para brincarem aos reis e rainhas em casas construídas por nós, meninas arquitectas de reinos felizes.
Trinquei uma maçã que me soube à sensação de revêr a minha bisavó nas férias, que me devolveu a vontade de correr juntamente com o meu irmão em direcção daquele forno branco que ela utilizava apenas para guardar caixas de fósforos vazias, que nós obviamente transformávamos em combóios de brincar.
Trinquei uma maçã que me recordou a tia-avó que me levava o lanche à escola primária e que, depois das aulas, passeava comigo pela cidade que eu nunca gostei, mas da qual nunca esquecerei o cheiro a maresia e a flores cor-de-rosa escuras, as mesmas que nós apanhávamos e que eram um chamariz perfeito para as formigas.
Trinquei uma maçã e senti o sabor do sal que fazíamos improvisadamente no terraço a partir da água do mar que trazíamos à hora de almoço nos nossos baldes de brincadeira.
Trinquei uma maçã que me fez percorrer uma vila no meu traje emprestado de dama antiga. Que me fez pedalar na minha bicicleta vermelha juntamente com os restantes catraios do bairro, que fez os meus pés sentirem de novo o conforto das botas de borracha, as poças de água; o jogo do mundo brincado na areia com um pau; a macaca e mais o elástico.

Trinquei uma maçã que me recordou que nada volta a ser como foi.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Quando um dia tiver saudades das coisas que aos poucos e poucos fui deixando pelo caminho, é sinal que me esqueci dos motivos fortes que me fizeram um dia abandoná-las em vez de as carregar comigo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A primeira coisa não escrita por mim que aqui meto

Este comentário merece um post. Obrigada Mistress C!

"Anônimo disse...
Não podia estar mais de acordo ctg, mas isso também tu já sabes. Mas mesmo que não estivesse continuaria a entender o teu ponto de vista ou pelo menos respeitaria.Só quero ainda acrescentar que a maternidade ainda não é obrigatoria, valha-nos isso...E já agora que aqui estou,aproveito para desabafar: Sabes que acredito piamente que o amor universal é que é a grande arma humana para todas as eventualidades,inclusive para amares filhos quem não nascem do teu corpo,e temos exemplos disso todos os dias,isso sim faz-me crer que afinal ainda há alguma bondade e altruismo no ser humano. Resumindo e baralhando creio que o que faz de nós seres humanos iluminados é a nossa capacidade ilimitada de amar seja quem for, ou o que for.Com isto tudo o que eu quero dizer é que não me sinto "menos" por não querer ser mãe,ou sequer ponderar essa hipotese.... por ultimo mesmo, Sabes o que me chamam lá no trabalho os meus "filhos"? Maezinha...Terei mesmo razoes para me sentir "menor"??Mistress C"

Não vou ser pai

No seguimento do post "Não vou ser mãe", venho por este meio informar a todos quantos me lêem (dois amigos, um deles com quatro ou cinco identidades) que também não vou ser pai.
É a maior verdade de todas, apesar de saber que esta custa a acreditar a muita gente. Porque sei que houve muito boa gente a pensar: "Ela está com estas coisas de não querer ser mãe, mas se se descuida ainda é é pai!"
Pois é, sábios leitores, também não vou ser pai. E digo-o com a certeza de quem também não quer ser mãe. Não vou ser pai, por todas as coisas que me levam a não querer ser mãe (àparte, claro está, da gravidez e do parto) e mais estas:
- Não quero que o meu filho ande chateado comigo por andar a comer a mulher que ele ama (para os mais desatentos, falo do complexo de Édipo);
- Não quero passar uma vida a encontrar semelhanças dos putos com o preto que encontrei no outro dia escondido no guarda-fato do quarto;
- Não sei nem gosto de jogar futebol (muito menos com crianças);
- Não quero trabalhar uma vida inteira que nem um camelo para sustentar as minhas crias para depois, no final dos meus dias, ainda me arriscar a ouvir dizer que fui um "pai ausente";
- E, nem que me paguem, me visto de vermelho e meto umas barbas postiças no Natal.
Posto isto, digam o que disserem, pensem o que pensarem, não vou ser pai. Contudo, ainda não pus de lado a hipótese de um dia vir a ser tetra-avó. A ver vamos!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Maria Felismina
Como foste nessa
De te meteres à pressa
Na heroína?
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Não vou ser mãe

Serei eu um dia mãe? Não serei? São questões existenciais com as quais me debato há já algum tempo. Quer dizer, questões com as quais me deveria debater há já algum tempo (desde a primeira menstruação), mas que sinceramente não dou assim grande importância e, no final de contas, percebo que a resposta é tão clara como água e tão certa como estas linhas terem sido escritas por mim: não vou ser mãe.
E não tenho pena nenhuma de tal facto, antes pelo contrário: parece-me razoável e coerente decidir não ser mãe. Mais do que o contrário, pois então.

Há muita gente que me pergunta quando é que eu tenho um filho, que me tenta persuadir com a questão da idade. Mas eu, pff, estou nas tintas para isso. Se um dia mais tarde me arrepender, arrependo-me das minhas próprias decisões e não me arrependo de ter sido levada pela conversa dos outros. Amén.

Sinceramente, uma gravidez não me seduz. Não gosto de ter cuidados com dietas, álcool e tabaco. Não gosto de enjoos. Não gosto de ir ao médico. E sobretudo: não gosto de dor!...
Não era mais fácil os putos virem mesmo de Paris, trazidos pela cegonha? Quem é que foi que acabou com esta tradição e instituiu a treta dos partos naturais e mais a balela dos partos em piscinas?... (aposto que é o mesmo gajo que pediu para a Tourada ser tradição e para os actores-mortos-vivos terem o direito de comentar a vida dos outros na TV)

E o que é isso do relógio biológico? Que horas tem? Quando toca? Serve de despertador? Alguém já viu o relógio biológico? É de que cor? Usa-se no pulso ou no bolso?
Realmente, que treta de argumento é essa do apelo dado pelo dito relógio biológico? Não consigo alcançar, mas acho que há por aí gajas que argumentam isso na hora de engravidar. O engraçado é que esse objecto invísivel de relojaria só afecta quem vive à conta do marmanjo ou quem acabou de ficar efectivo na empresa onde trabalha... Estranho, não é? Será que é por não viver à pala de ninguém e por estar a trabalhar a recibos-verdes que não pressinto o meu? Ou será que o meu parou por falta de pilha ou por mera avaria? É que já vamos com quase trinta anos meus caros!!

Não me vejo confinada a uma criança. Não tenho condições nem psicológicas nem financeiras, muito menos afectivas. Acho que a grande generalidade das crianças começam a revelar-se abortos espontâneos a partir do momento em que começam a abrir a boca para falar. Acho que os miúdos são todos parentes muito próximos dos Gremlins, pequenos monstros fofinhos. Com a agravante de não serem ficção. Com a agravante de que a partir do momento em que nascem começam a depender de nós e nós, com a desculpa do amor de pais, deixamos tudo para trás das costas e passamos a viver em prol destas criaturas.
E eu, tenho tanto para viver antes que comece a ter a alucinação hormonal do tal fatal objecto de relojaria!!!


Por outro lado, detesto "Happy-families" e acho-as uma péssima publicidade para captar adeptos para essa coisa da procriação. As carrinhas familiares e os simbolos colados no vidro traseiro com avisos de "bébé a bordo" dados pelo Vitinho, assustam-me de morte. Os pais que só sabem falar dos filhos e que metem fotografias dos mesmos nos computadores de trabalho, têm os olhos às cores e andam com os braços espetados para a frente, tal e qual os zombies do Thriller do Michael Jackson, com o senão de provavelmente não saberem dar o passito de dança à "eighties"...
Os pais que fazem as vontadinhas todas aos pequenos em vez de lhes darem uma valente palmada no rabo quando os putos repetem pela terceira vez que querem ir embora ou que querem um ovo kinder, quando já lhes foi dito que não duas vezes, deviam ser processados. Na verdade, estas pequenas atitudes são as mais preponderantes no crescimento intelectual de um futuro ditador, pois criam-lhe a sensação de que tudo se pode manipular e que em todos se pode mandar.

Posto isto, não vou ter filhos. Tenho plena consciência da minha opção. Tenho plena noção de que o mundo cá fora não está para brincadeiras. Tenho a certeza absoluta que grande parte das pessoas nunca devia ter sido pai ou mãe, porque há por aí muita gente mal-educada e sem formação que já foi em tempos o bébé de alguém.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Eu sabia que isto ia acontecer

Estou a sentir-me esquizofrénica. Finalmente percebo a necessidade de se usar drogas para acalmar os nervos e sobretudo as paranóias.
1 - Neste momento, escrevo para dois blogues. Quando penso que finalmente tenho o "post" ideal para um deles, descubro que no outro esse mesmo "post" enquadrava-se perfeitamente. Conclusão: não tenho escrito nem num nem noutro e sinto um completo vazio por não conseguir dar o contributo de duas linhas a cada um deles.
2 - Tenho duas identidades no "blogger". Se aqui sou a Cristina (personalidade que, vai na volta, mais se assemelha à minha pessoa), no outro blogue sou quem eu não posso dizer e, se pensar muito no caso, sou quem eu não conheço lá muito bem.
Para além da questão "blogoesférica", tenho antecedentes de paranóia. Comecei a aceitar que tinha um problema quando percebi que não era normal acreditar que o senhor da rodoviária me tinha deixado de falar por eu ter comprado carro e, consequentemente, ter deixado de apanhar o expresso ao domingo à noite e à sexta à tarde...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Eles

Eles brincam com os teus sentimentos
Como brincam com um naco de papel enrolado nos dedos,
Ensopado na boca e amachucado no chão.

Eles brincam com as palavras que tu soletras,
Como se fossem falsas pistolas de água sempre prontas a molhar alguém.

Eles brincam com os teus secretos olhares
Simulando uma cabra-cega em recreio escolar.

Eles brincam com...

Eles brincam com...

Eles brincam com...

Eles brincam com...

Eles brincam com...

Eles brincam com...


... E tu, deixa-los brincar.

Rotina

Acordo com o telemóvel a vibrar na mesa-de-cabeceira. Ao meu lado, ele dorme satisfeito e nem dá pela minha fúria matinal. O que hei-de vestir? Penso. Penso também que estratégia utilizar para não mais chegar tarde ao trabalho; para não mais acordar ao lado dele; para nunca mais ser aquela que encontro hoje diante do espelho.
Tomo o banho de sempre, visto o mesmo de sempre. Pego numa maçã e enfio-a na mala. Prendo a mala à bicicleta. Conduzo a bicicleta até ao trabalho. Chego ao trabalho com vontade de voltar a pegar na bicicleta e rebobinar tudo até antes do telemóvel ter começado a vibrar. Mas não consigo.
Passa-se um dia de tarefas repetitivas que acentuam ainda mais a minha saturação, que me frustram. Passa-se um dia a pensar que tudo tem que mudar. Que é hoje o último dia que aqui estou e que sorrio às pessoas só por saber que é a última vez.
Mas o tempo passa, e esta segunda-feira transforma-se em sexta-feira. E este princípio do mês, transforma-se em final do mês. E este Verão, transforma-se em época natalícia. Tudo igual, sempre e para sempre. Ou por aquele tanto tempo que a mim me parece eternidade.

Acordo sobressaltada com a vibração do telemóvel na mesa-de-cabeceira. E a quem dorme ao meu lado, aparece mais um cabelo branco.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O meu olhar londrino


(Esta é uma foto que tirei numa noite de sábado e que perdi quando estupidamente formatei o cartão da máquina numa tarde de domingo. Felizmente, hoje existem programas que permitem recuperar fotos apagadas ou até mesmo fotos de cartões formatados. É a esses programas que eu deixo o meu mais sincero agradecimento)