terça-feira, 25 de novembro de 2008

Pupilos II

Soraia andava cabisbaixa. No recreio, todos gozavam com ela. Na sala de aula, era a menina que dava mais erros ortográficos nos ditados, era a única que ainda não tinha percebido muito bem como se faziam multiplicações com números com dois algarismos.
Cassandra, era uma criança adorável. Era amada por todos. Todos queriam brincar com ela e com as suas Barbies, até a professora. Nas aulas era sempre a primeira a meter o dedo no ar e a acertar todas as perguntas que lhe eram feitas. As notas mais baixas que tinha, desde ginástica a matemática, eram "bons mais".
Um dia Cassandra foi ter com Soraia no recreio e segredou-lhe: tu também podes ser assim como eu, basta que me acompanhes a um sítio depois das aulas. Soraia ficou desconfiada, mas não querendo dar parte fraca (e com medo que Cassandra lhe desse porrada) aceitou o convite.
No dia seguinte, Soraia chega à escola sorridente: já não precisava mais do aparelho ridiculo nos dentes nem dos óculos de massa fundo de garrafa que usava todos os dias. As suas Barbies tinham-se tornado as mais belas. A sua bicicleta, de alumínio brilhante, não mais precisaria das duas rodinhas pequeninas de apoio. As multiplicações, divisões e subtracções tinham deixado de ser problema e passado a ter uma solução rápida e certeira.
Nada voltaria a ser igual para Soraia. Cassandra tinha-lhe mostrado o caminho da luz naquela tarde solarenga de Outono. Depois das aulas, e antes que os pais dessem por sua falta para jantar, Soraia tinha sido iniciada na Pequena Loja por Cassandra e a partir daí, secretamente, iria amar o seu bibe maçónico mais do que a qualquer outro objecto do mundo, sonhando assim com o dia em que irá, como os grandes, vestir o avental e erguer a espada.

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