quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Contudo sei quem sou

Porque não sou mais nem menos do que as outras pessoas?
Porque me deleito com pensamentos obscenos,
Que toda a gente tem?
E porque transpiro eu embaraçada ao pensar na coisa vaga de ser descoberta nas intermitências da vergonha?
Serei mais do que os outros,
No sentido de sentir e perceber que aquilo que sou está errado?
Serei eu menos que os outros,
Ao pensar que todo o meu pensamento é leviano e descurado?
Não me compreendo esta natureza que nada me traz de novo.
Não me necessito decifrada quando eu sei que já me decifrei na pele dos outros.
Na pele, na razão e no pecado.
Daquele que mora ao lado, mas daquele que também nos arromba o coração,
Que nos parte os telhados de vidro com pedras anteriormente arremessadas por nós.
Serei eu louca e imprudente, incoerente e insuficientemente esperta nesta arte de existir?
Questionarei eu demais coisas inquestionáveis?
Barrarei eu a entrada à razão livre de explicações maiores do que aquela caixa que encerra o meu coração?
Porque me escrevo em palavras que não compreendo?
E porque me gritam em silêncio obstruções à minha felicidade?
A verdade é que eu sou um trapo.
Que é mais trapo do que aqueles que se dizem velhos em sabedorias populares.
Mas não sou nem mais nem menos do que aqueles que encontro todos os dias.
Não sou mais nem menos do que todos os outros trapos.
Sou um mero trapo.
Daqueles que nos limpam o pó, que nos tapam a loiça e que nos servem de nada.
Serei apenas diferente, por me considerar ausente na forma que o meu corpo tomou?
Por achar a minha essência longe das tarefas que desempenho,
Das gargalhadas que convoco para a mesa de café?
Por dissertar sobre meros temas que a ninguém interessam
E por compreender desconfiada aquilo que me entra pelos ouvidos?
Contudo sei quem sou.
Apesar das dúvidas, dos medos e das frustrações.
E deambulo acertadamente pela via errada da minha vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Ao fim e ao cabo,
podemos ouvir as histórias mais intimas dos outro,
mas só com espírito imbuido de respeito,
de delicada e arguta simpatia
para com essa coisa que luta e sofre:
uma alma humana.
Porque até mesmo a sátira é uma forma de simpatia."
D.-H Lawrence

Bom dia Cristina
Anónima: Iolanda