Vivo nos subúrbios. Onde se cozinham racismos e xenofobias. Onde se praticam crimes e preconceitos. Onde se fabricam garotos auto-suficientes e descrentes de todo o potencial que encerram.
Vivo nos subúrbios. Onde param comboios com destino certo. Onde se assiste à miséria com a mesma impavidez que se assiste à riqueza. Onde se crê que nada para além disto existe, nem para o bem, quanto mais para o mal.
Vivo nos subúrbios. Onde a brisa fresca da tarde tresanda a álcool fétido e a suor nervoso de mais um dia de trabalho. Onde as discussões começam quando as portas e as janelas se fecham. Onde vidas mandam noutras vidas, até as anularem.
Vivo nos subúrbios. Onde tento abstrair-me da solidão que me cerca.
2 comentários:
Vivo no arrabalde. Ao redor da democracia. No arredor da maresia.
Um facto consumado, um saco bem
embalado. No arrabalde não há lugar
para os sonhos. Apenas para a descrença e o cansaço.
No arrabalde onde me encontro, sou o
desencontro de todas as pessoas que não se conhecem nem sequer comunicam.
No arrabalde, sou um lixo pronto a existir no consumo da máquina enorme e sistemática que nos devora
No arrabalde, resta-me a minha solidão feliz de ainda ter algo com que me contentar.
No arrabalde, faço e aconteço, mas
ninguém liga e sabe disso.
No arrabalde só posso ser um individualista de merda contra tudo e desconfiado de todos.
No arrabalde compito com a banalidade e quero chegar ao
altar da inteligência.
Talvez aí me considerem gente. Talvez use os meus conhecimentos para expor a diferença.
No arrabalde olho de viés a ruína
dos bairros.
No arrabalde, só quero sair daqui
o mais rápido que possa!
Grande poeta!;)
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