segunda-feira, 30 de junho de 2008

Será depressão?

Hoje sinto-me cansada, apesar das quase 10 horas que passei na cama. No ouvido, um ruído ensurdece-me há mais de dois meses. Os médicos consultados, também eles dois, não me receitaram nada para isso. Ignoraram. Deram-lhe pouca importância. Passaram à frente.
As minhas mãos estão enrugadas, bem parecidas com as da minha avó, que já passa dos oitenta anos. Queria usar anéis. Queria pintar as unhas. Mas quanto mais as atenções chamar, mais se vão notar as rugas que eu tanto quero camuflar.
Ao espelho, o rosto transforma-se. E sempre para pior. Estou diferente daquilo que era há apenas três ou quatro anos. A cara envelheceu. Os olhos entristeceram-se e perderam o azul brilhante que ostentavam. A boca rodeia-se de marcas estranhas. Não me reconheço.
Na rua, invejo os mais novos e comovo-me com os mais velhos. Nos mais novos, vejo a adolescência que desperdicei num abrir e fechar de olhos, de tão entretida que andava a beber amêndoas amargas e a fumar Águia de enrolar. Na velhice, vejo a ingratidão desta vida que não nos leva para nenhum porto seguro. Que ainda nos pune no final disto tudo.
No trabalho, sinto-me como uma palavra indevidamente empregada numa qualquer frase que se pretende clara. Desenquadrada. Fora de contexto. Não gosto do que faço, não gosto da área que estudei. Mas era preciso um canudo. E cada vez tenho mais a certeza que isto está longe das minhas, cada vez menores, potencialidades. Pior, sempre tive a certeza. Mas arrasto-me por aqui. Deixo-me levar. Deixo-me levar pela "corrente" mas também pelas velhas balelas do "não há mais nada" ou "preciso do dinheiro".
Em casa, instalei uma rotina que não consigo, nem à força de golpe de estado, destronar. Chego, como, durmo uma sesta, levanto-me, faço o jantar, fumo um cigarro, vejo televisão, preparo o que há a preparar e deito-me. Vivo sozinha, mas a casa e as coisas que por lá preenchem os cantos não são minhas, àparte livros, discos e outras ninharias. Não me sinto em casa e não encontro casa. Ciclo vicioso esse.

São quase 29 anos e nada se passou digno de registo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Conheceste-me... e isso é, sem dúvida, digno de registo...