quinta-feira, 26 de junho de 2008

Saudades

Tenho saudades. Hoje fui assaltada por esse tão belo sentimento, que os portugueses reclamam como exclusivo seu. Não sei se o é, para além da palavra, mas curiosamente sou portuguesa e sinto-o hoje, mais do que nunca, como ninguém.
Sinto saudades que são sentidas como uma força maior, que me sai do coração e me corre vincadamente nas veias e que me chega à garganta e a mete num nó, saindo então do corpo e abraçando este espaço, onde me encontro, como que a implorar que não as deixem morrer, as saudades.
Tenho saudades das pessoas que me fizeram sorrir. Sobretudo essas. E dessas acima de quaisquer outras. As suas palavras foram aquilo que ainda hoje incessantemente procuro, como se nunca tivesse tido. As suas faces. Os seus receios. Os seus cheiros. E sobretudo, aquilo que me diziam e que eu só agora compreendo.
Tenho saudades de tudo aquilo que ainda tenho para viver. No entanto sei que vou chegar ao futuro com saudades do passado, do presente onde me encontro. E isso leva-me a crer que todas as saudades são falsas memórias, que se destinam simplesmente a camuflar algo superior, que é a nossa vida tal como ela é e todos os caminhos tomados tal como os escolhemos.
Mas para quê tentar ser racional, se tudo o que esta falsa memória nos apela é para que os olhos nos brilhem, o coração nos palpite e se recorde, com nostalgia em demasia, aquilo que foi e já não é, aqueles que foram e já não são. E para tal, as saudades não implicam necessariamente que se caia em tristezas profundas e arrependimentos extremos. Antes pelo contrário, as saudades estão cá bem portuguesas ou internacionais, para nos dar conta do sangue que nos corre nas veias e do, tantas vezes negligenciado, coração que nos bate no peito.

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