terça-feira, 17 de junho de 2008


Estou completamente estática a olhar através desta janela suja para a chuva lá fora. Alguém me disse que eu devia ir, mas ninguém me disse para onde. Então, fiquei neste impasse que, aos poucos e poucos, tomou conta de mim e enfiou-me nesta inércia inexplicável, incontornável.
Apetecia-me fumar um cigarro. Um daqueles introspectivos, que só fumamos em ocasiões tão especiais como a depressão. Mas não fumo há uma semana. E chove. E alguém que eu não conheço muito bem diz para eu não sair, que me posso constipar. Então, deixo os cigarros para depois, talvez para um dia em que já não me apeteça fumar, mas que apareça alguém com muito bom ar a oferecer-me um cigarro dos seus.
Entrei num ridículo tal, que visto o pijama sem cuecas por baixo. Se ficar dez dias em casa, são dez dias certos em que o meu cabelo não verá champô e os meus dentes escova. É difícil estimar o desleixo que me assalta e penetra e me manipula nestes dias. Não me visto, guardo a roupa religiosamente para uma cerimónia que eu sei que não irá acontecer. Durmo sem horas para acordar. Como e durmo e acordo para comer e como para voltar a dormir. A juntar a isso, às vezes mijo-me quando me peido. E como não será difícil calcular, a coisa torna-se um pouco deprimente.
Sonho em ser bonita e ir lá para fora brilhar, seja à chuva ou ao sol. Mas guardo-me para não sei bem o quê e entretanto os anos passaram e eu não passo de um trapo mijão que sonha com o passado que já foi e o futuro que nunca será.

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