terça-feira, 24 de junho de 2008

O Escritório I

Trabalho num escritório das 9h às 17h30. Trabalho por assim dizer. De vez em quando, interrompo o messenger e a pesquisa de coisas parvas na net para fazer algo que me peçam ou para falar com algum senhor doutor ao telefone. Outras vezes, é mesmo o descalabro e acabo como me encontro: blog aberto, janelas do messenger a piscar e telemóvel à mão, não vá alguém muito interessante e pouco importante ligar.

A nossa vida durante o horário de trabalho não pode ser apenas vista como enfadonha, há que pensar no lado positivo da coisa. Observando os colegas, podemos especular sobre as suas vidas e os seus pensamentos. Muitas vezes ocorre-me perguntar: Será que eles continuam assim, tal como os vejo no escritório, fora dele? Será que há alguém que por engano (ou não!) diga "Ó senhor doutor!" ao marido enquanto atinge o orgasmo? Alguém que quando lhe pedem qualquer coisa, desde um pequeno favor de "passa aí os amendoins" até um empréstimo colossal, responde prontamente "Irei proceder em conformidade!"? Claro que não.

As pessoas vestem máscaras para parecer mais fortes e intocáveis. O senhor doutor que usa um fato e gravata apertados ao final do dia, com a orelha vermelha de tanto falar ao telemóvel e com uma dor nas costas terrível, só lhe ocorre meter-se em cuecas no sofá, com o gato aos pés. No entanto, antes disso, ainda vai ter que passar no lidl para comprar umas coisas para o jantar e ouvir as queixas da mãe sobre as dores que a mudança de tempo lhe causa nas pernas..

A senhora doutora, por sua vez, mantém a sua máscara até à linha imaginária que separa o mundo exterior da sua casa. Até lá, toda ela é roupas compradas na La Redoute, é unhas arranjadas na manicure, é cabelos lavados duas vezes por semana na cabeleireira mais in das redondezas. É um tom de voz bem colocado e que impõe um certo respeito e distanciamento, apesar da utilização de "a gente" como primeira pessoa do plural. Contudo, é uma infeliz que ainda não percebeu muito bem o que faz neste mundo. É alguém que sabe muito sobre a vida dos outros, mas que não entende a sua. É alguém que chora porque sente a sua cama ausente de amor e porque cada vez que se admira ao espelho descobre mais uma ruga que tem que atascar com base, mais uma variz que não lhe vai ficar bem com a saia nova.

E eu própria, sempre que batem as 17h30 não penso em mais nada se não chegar a casa e poder finalmente ter uma conversa decente com o meu cão...

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