terça-feira, 15 de setembro de 2009

Pombos

Nesta cidade, os pombos andam por toda a parte mas têm lugar certo para morrer. Assim como eles, também os homens vagueiam pelas ruas e estão por toda a parte. Os seus rostos multiplicam-se por outros rostos. E é fácil encontrá-los, seja na rua mais suja, seja no autocarro. Aos homens e aos pombos.
E, tal como todos os outros seres, morrem. Em lugar certo e previamente escolhido. Mesmo que inconscientemente, todos eles - homens e pombos - sabem onde querem morrer e onde lhes é dada essa oportunidade. Chegados a hora e local certos, dão o último suspiro e deixam que o resto aconteça: um carro lhes passe por cima, o coração pare, a doença vença.
Dos pombos, jazem os seus corpos cinzentos-escuros de poluição nos canteiros do jardim, junto a alguma tampa de esgoto ou num qualquer carril ferroviário. Dos homens, jazem os seus corpos descolorados em cemitérios que antes fossem jardins ou esgotos.
Pouco ou nada os distingue ou os separa, aos homens e aos pombos. Ambos preenchem as cidades, os jardins. Ambos transmitem doenças e ambos deambulam na vida com semelhantes certezas e demandas de quem vive por instinto.

2 comentários:

joao disse...

sobre pombos, homens e morte:

http://www.youtube.com/watch?v=POETrEiJrao

acho q complementa o texto.

Cristina H. disse...

Obrigada João pelo teu complemento!
take care**