segunda-feira, 28 de abril de 2008


Portas abertas fazem a fronteira entre pessoas e hábitos
Nas ruas movediças, onde caio próximo do sinal stop
Cá fora, morrem cães esfomeados
Pedem mendigos famintos
E outros, que talvez não.

Levanto-me e reparo no letreiro novo do café
Precisam de empregado ou empregada ou lá o sexo que queira ter
Não me preocupo com a sexualidade do futuro explorado
Preocupo-me antes com a memória vaga daquela que nunca tive
Mas preocupo-me pouco e esqueço-me a meio de um bafo no cigarro que ainda agora acendi

Pergunto se os encontrões dão pontos na lavagem automática
Ou descontos de não sei quantos por cento na hamburgueria
Há pessoas que têm gozo em encontrar corpos desconhecidos nesta romagem comercial
Eu não. Prefiro largueza de tacto. Estou bem com a visão e o olfacto

A prostituta muda que aqui morava morreu
Não sabia que as mulheres da vida também morriam
Mas fui devidamente informada pelo papelinho na montra da funerária
E pela imobiliária que meteu a pequena casa à venda

Declaro morte à rotina. Minha e destes transeuntes todos.
Quero um apocalipse dantesco
Que marque com chamas e cinza as imagens satélite
Que decepe sem pudor
Que mutile por amor.
Um apocalipse que combata o sofrimento com ainda mais sofrimento
Tamanho sofrimento
Que não se consiga medir com medidas conhecidas em todos os universos

Declaro morte a tudo o que me rodeia
Sinto-me Cristo o salvador e castigador de todos os mortais
Sinto-me a justiceira que nenhuma série de televisão conseguiu alguma vez argumentar
Morte à estupidez que nasce todos os dias e prolifera sem pedir licença
Declaro prisão perpétua ao preconceito e ao cochicho antecedido de uma cotovelada.
Declaro silêncio absoluto e eterno a quem não sabe falar
E a todos os que usam a retórica a fingir inteligência.
Morte por lapidação a todos aqueles que ousam trair as amizades
Quartos almofadados para todos os outros que insistem em amar quem não os ama
Auto-combustão ao fato-treino domingueiro
Crianças a correr pelas ruas sozinhas sem apoio, nem carrinhos e bonecas
Todas a morrer sem perceber. E eu quero lá saber: Nem deviam ter nascido
E o senhor doutor, não morre? Claro que sim.
Crucificado num auto de fé bem ateado com despachos e formalidades cagalhonas
Vão-se todos foder. Quero lá saber. Já cá não fazem falta, se é que alguma vez fizeram.

Regresso a casa e procuro o meu chicote no guarda-fato. Sei que o vou encontrar

2 comentários:

Anônimo disse...

Quartos almofadados para todos os outros que insistem em amar quem não os ama


Gostei tanto***

Anônimo disse...

Foda-se tinhas um chicote e não partilhaste essa informação? Such a bad bad bad Girl! Tau tau! ai ai! Love is PAIN. :D

Miss(tress)CArla