quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Tratado

Assino o tratado contigo. Renego aquilo que gostaria de ter tido, possuído, levado para um lado, só meu, no mapa do meu coração. Metade que te escondo, dizendo que não é nada, que é tão pouco e que a mim me basta, contudo percebendo os tesouros que se escondem, sedas, especiarias, incenso, em terras distantes que tu jamais saberás da sua existência. Até um dia. Aquele dia indiferente, Outono talvez, que me apanharás feliz, carregando ouro e diamantes, no olhar, no sorriso, nos pensamentos longinquos que me acompanham. Até esse dia, não saberás porque escolhi ficar no lado de cá, onde gente desonesta percorre as ruas, antevendo a morte e a má sorte de todos os outros que se arrastam, por ali, enquanto padecem de défice de caridade.
Mas eu sei porque fiquei, eu sei porque escolhi esta parte incerta. Eu sei porque assinei, mas já não me recordo porque estava farta de ti.

4 comentários:

nilson disse...

Eu não sei. Não sei quando dos nossos inteiros as pessoas que amamos e desamamos terão pelo menos metade. Se importam tão pouco. Não percebem que ficam com o resto, com a sobra, com o mínimo de nossas almas. E continuamos na esperança desse ouro, desse brilho de vida que tanto almejamos.

Linda poesia. Linda.

Cristina H. disse...

Obrigada Nilson :)

Almeida Escarret disse...

armisticios são bonitos.
fazer as pazes também.
se partilhas as medidas
as caridades vão prá c*na da mãe,
essa é de uma vez
que nos põe cá pra fora
sem nos perguntar porquê
mas "que seja uma boa hora".

Cristina H. disse...

Obrigada pelo contributo caro poeta.