quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

(des)Crenças

Tenho pena (ou não), mas não acredito em nada. Nem deuses, nem espíritos nem pais natais. Nada. E tenho vivido feliz com isso, porque me sinto possuidora de uma clarividência que muitos não possuem. Sei que quem faz o nosso destino somos nós próprios e que, quando morrermos, não há anjos a entoarem cânticos celestiais nem tapetes vermelhos à porta do Inferno. Porque nada há para além daquilo que vemos. Desiludam-se, portanto.
E gabo quem acredita em algo transcendente porque, através dessa crença, a dor e o desespero são mais fáceis de suportar. Mas também acho que os crentes, no que quer que seja, são no fundo uns preguiçosos que para não agir em circunstância alguma, justificam que está tudo nas mãos Dele. Ou pior, parecem-me aqueles putos mimados que culpam sempre os outros das asneiras que fazem. Foi Ele que quis que o meu marido caísse no poço. Foi Ele que quis que a minha filha engravidasse. Foi Ele que quis que eu não tivesse um tostão... Lembro-me agora que também há uma justificação patético-crente que eu adoro: "Com a ajuda Dele, tudo se há-de resolver".
Não descuro que haja por aí bons crentes, aos molhos nas diferentes religiões que existem, mas na grande generalidade que conheço, as pessoas usam os seres superiores (anjos, deuses ou o próprio Snoopy...) como uma espécie de saco de boxe enraçado de muleta: pode-se recorrer sempre a Ele(s) como culpado(s) de tudo ou como apoio incondicional.
Desconfio que se eu acreditasse num ser superior omnipresente, omnipotente, omnisciente e, porque não, omnívero também, a vida corria-me melhor. Ou não. Acreditaria que era por vontade Dele que eu ainda não tinha arranjado um emprego, que era culpa Dele o quintal do vizinho ter descambado para cima do meu, que o zumbido que oiço no meu ouvido há cerca de um bom ano e tal, é apenas Ele a dizer-me toda a verdade do mundo em aramaico. E assim, ficaria o dia inteiro a pensar n'Ele. À espera que Ele fosse falar com o senhorio por causa do muro, que Ele fosse distribuir o meu CV, que Ele me fizesse o almoço, o jantar e mais as massagens nos pés. Que rica vida seria!
Mas não acredito nem n'Ele nem em ninguém, porque nos dias de hoje não se pode mesmo confiar em ninguém. Pé atrás com seres terrenos e celestes! Por isso, resta-me levantar o rabinho desta velha cadeira e fazer-me à vida, recordando apenas a todos os outros que ficam sentados que, como diz a Adília Lopes (salvo erro): Deus é a nossa mulher a dias. O que faz todo o sentido.

2 comentários:

António disse...

Que idade tem a cadeira?

Cristina H. disse...

Não sei precisar, só sei que é muito confortável:)