sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Último dia

Que esperar do último dia de trabalho? Aparentemente, nada. Não há despachos na secretária, o telefone não toca e ninguém parece se importar com a minha presença ou não-presença. Aparentemente, digamos.
Cheguei 35 minutos atrasada. Acho que bati o recorde dos últimos meses. Acho que só uma única vez consegui chegar mais atrasada que isso. Mas quem se importa com isso afinal? Preferível assim e sem barulho, do que certinha e a mandar bocas sobre a minha situação de falsos recibos-verdes.
Planos para um último dia? Aqui vai uma listinha de coisas que se não fizesse hoje provavelmente morria:

- Consultar os e-mails de trabalho e pessoais (já fiz);

- Ligar o messenger (foi logo a primeira!);

- Beber café (faço-o neste preciso momento);

- Ir à rua dar baixa de actividade nas finanças e na segurança social;

- Falar animada e descontraidamente com os colegas;

- Fazer cócó (depois do café vem mesmo a calhar).

Que mais esperar do último dia de trabalho? Aparentemente, nada.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Tiraste-me um macaco-do-nariz e mastigaste-o com tamanha satisfação que eu quase acreditei que me amavas.

Pupilos II

Soraia andava cabisbaixa. No recreio, todos gozavam com ela. Na sala de aula, era a menina que dava mais erros ortográficos nos ditados, era a única que ainda não tinha percebido muito bem como se faziam multiplicações com números com dois algarismos.
Cassandra, era uma criança adorável. Era amada por todos. Todos queriam brincar com ela e com as suas Barbies, até a professora. Nas aulas era sempre a primeira a meter o dedo no ar e a acertar todas as perguntas que lhe eram feitas. As notas mais baixas que tinha, desde ginástica a matemática, eram "bons mais".
Um dia Cassandra foi ter com Soraia no recreio e segredou-lhe: tu também podes ser assim como eu, basta que me acompanhes a um sítio depois das aulas. Soraia ficou desconfiada, mas não querendo dar parte fraca (e com medo que Cassandra lhe desse porrada) aceitou o convite.
No dia seguinte, Soraia chega à escola sorridente: já não precisava mais do aparelho ridiculo nos dentes nem dos óculos de massa fundo de garrafa que usava todos os dias. As suas Barbies tinham-se tornado as mais belas. A sua bicicleta, de alumínio brilhante, não mais precisaria das duas rodinhas pequeninas de apoio. As multiplicações, divisões e subtracções tinham deixado de ser problema e passado a ter uma solução rápida e certeira.
Nada voltaria a ser igual para Soraia. Cassandra tinha-lhe mostrado o caminho da luz naquela tarde solarenga de Outono. Depois das aulas, e antes que os pais dessem por sua falta para jantar, Soraia tinha sido iniciada na Pequena Loja por Cassandra e a partir daí, secretamente, iria amar o seu bibe maçónico mais do que a qualquer outro objecto do mundo, sonhando assim com o dia em que irá, como os grandes, vestir o avental e erguer a espada.

Pupilos

Ouvi dizer que lá no meu bairro há uma criança que já anda nas lides maçónicas. Tem para aí uns 6 anos e para além de ter desenvolvido uma obsessão com tudo o que é esquadros, compassos e aventais, já toda ela é esoterismos, brincadeiras de duplos significados e sinais secretos ao jogar à macaca.
Nunca pensei que os catraios tivessem consciência maçónica, nem muito menos que entretidos que estão em ser crianças soubessem que existem sociedades secretas... mas ele há razões que a própria razão desconhece!
Contou-me a vizinha (e só a mim porque segundo a própria eu sou "iluminada") que tudo começou quando a miúda, pelo Natal, pediu a Loja da Barbie e o Ken Grão-Mestre. Os pais perceberam nesse preciso momento que ela tinha um factor M e logo se apressaram a metê-la na Pequena Loja Maçónica, também conhecida pelo nome Os Pupilos da Maçonaria.
Uma vez iniciada, recebeu um babete maçónico (que os pais hoje em dia guardam com grande orgulho). Agora, que já lhe foi mostrada a luz e que já domina a verdade das coisas, já veste o avental como os crescidos.
Dizem que ela cresceu muito enquanto ser humano. Que não faz birras para ir à escola e que partilha tudo com o irmão mais novo. Diz que sonha ser uma grande arquitecta. E a verdade é que a Pequena Loja Maçónica lhe tem sido muito útil para arranjar as melhores amizades e os melhores brinquedos.

Dedicatória

A todas as pessoas que me amam e a todas as pessoas que me odeiam, aqui me encontro hoje rendida a dedicar-lhes a minha vida.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Um cliché

Só temos uma vida. Uma única, que ainda por cima não sabemos quanto dura, quando acaba. Por isso penso: porquê passá-la a fazer coisas de que não gostamos? Porquê gastar horas com pessoas que não amamos? Porquê vivermos em sítios feios? E porquê abdicarmos dos nossos sonhos?
Há coisas na nossa vida que não têm preço. Eu sei de duas: sanidade mental e satisfação pessoal. E hei-de lutar por elas até ao fim. Porque não faz sentido viver infeliz e maluquinha, só porque sim ou só porque a sociedade nos impõe. Notícia de última hora: Ninguém nos impõe nada, nós é que inventamos imposições para justificar a nossa inércia.
Esta é a minha última semana no meu trabalho. Decidi sair e não me arrependo, antes pelo contrário: estou feliz. Não tenho ainda nada em vista, mas sei que irei ter e sei que irei seguir um rumo melhor do que este que estava a seguir. Sinto a sensação de liberdade que é ter tudo em aberto outra vez.
E sinto-me tão mais viva por saber que de vez em quando ainda consigo controlar a minha própria vida!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Yes, I do.

(imagem: http://www.depechemode.com/)

Menos azul

Hoje a minha casa ficou menos azul. A minha periquita morreu. Fecha-se assim um ciclo de periquitos e gaiolas e sementes que já durava há mais de 20 anos. Há uns bons 24, julgo eu.
Tudo começou com um periquito azul-clarinho, tinha eu uns 5 anos. Pensei que tudo tinha acabado há 3 anos, quando morreu a minha favorita: uma periquita branquinha que matou o seu cônjuge e viveu feliz e cantarolante durante mais de 10 anos.
Tudo recomeçou com esta periquita azul que apenas comprei para fazer companhia a um periquito cinzento que me deixaram lá em casa. Não se deram bem, o macho foi dado e ela ficou, a perder penas e a meter ovos todas as primaveras.
Bateu a asa esta madrugada, a pobre desgraçada pequenina e azul. Diria mesmo que era uma boa periquita-poedeira. Que era simpática, nervosinha e que sofria de queda de penas. E que eu, impotente, já não sabia mais que lhe fazer.

Acabou-se a passarada lá em casa. Acabaram-se a milhentas histórias que podia contar acerca destes bichos, desde o momento em que eu, pequenina e sonhadora, olhei para uma gaiolazinha e fiquei apaixonada pelo pequenino macho azul clarinho que piava lá dentro.

Acabou-se tudo, felizmente. Porque eu não suporto mais a dor de ver estes pequeninos bichos a sofrer.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ismos

Estava eu prestes a reprovar no 12.º, quando fui ter em desespero de causa (ou então na brincadeira...) com o meu professor de filosofia e pedi-lhe clemência (leia-se: um 10), argumentando que caso ele me reprovasse eu iria passar o resto da minha vida a vender fios de missangas pelo mundo fora. Ele respondeu-me que se assim fosse me invejaria a sorte.
Passados uns tempos, volto a encontrá-lo. Na conversa de circunstância surge a tal da pergunta da praxe (ou da calhandrice) em que interessa mesmo é obter informação sobre o que eu ando a fazer e eu respondo que me licenciei e trabalho em turismo. Ele responde-me, em jeito de brincadeira ou pura filosofia de algibeira, que turismo rima com terrorismo.
Hoje, a menos de uma semana de sair de livre e espontânea vontade do meu local de trabalho, sem perspectivas de emprego e sem saber o que a vida me reserva, compreendo as suas duas respostas: Não teria sido mesmo preferível ter ido correr o mundo a vender as minhas missangas? E estudar e trabalhar numa área que não se gosta não será no fundo um acto do mais puro auto-terrorismo?
Pensem nisso, que eu também.

Vingança do Século

Meus senhores, qual é afinal a grande vingança do século XXI? Qual é o acto qual é ele que demonstra melhor o ódio sentido por um semelhante? Qual a via para eliminar para sempre alguém da nossa vida?
A melhor forma de nos vingarmos de alguém é sem dúvida utilizando ferramentas como o Hi5 ou o messenger. Apenas fica a dúvida: seremos mais odiados por quem nos bane do seu grupo de amigos do Hi5 ou, por outro lado, seremos declarados oficialmente escumalha quando bloqueados no messenger de alguém?
A verdade é que, tanto numa como noutra, somos atingidos e morremos virtualmente para esse alguém. No Hi5, nunca mais nos verão num determinado grupo de amigos, nunca mais poderemos ver o perfil da pessoa que nos baniu (caso ela o tenha restrito). No messenger, nunca mais veremos o seu bonequinho verde, nunca mais lhe iremos ler a sua frase pessoal e nunca mais lhe poderemos enviar um "oix" ou responder-lhe a qualquer coisa engraçada com um "lol".
Ficaremos mais infelizes e seremos menos um bonequinho verde, menos um amigo num perfil. Morreremos virtualmente ou faremos morrer. Contudo, fica-nos a certeza que qualquer uma das duas são armas muito mais eficazes do que as vinganças "old fashion" que usávamos nos tempos de escola, tais como a pastilha elástica no cabelo, o papel colado nas costas a dizer "chama-me estúpido" ou "dá-me pontapés no rabo" ou ainda o chamar "caixa de óculos" ao puto estúpido da carteira do lado.

terça-feira, 18 de novembro de 2008


Vozes

"Change everything you are" dizem-me as vozes que moram na minha cabeça. Tento obedecer-lhes. Torna-se difícil quando estamos tão enraízados num determinado sítio, tão apegados a determinadas coisas e pessoas... mas prometi-lhes: "i will". Elas sossegaram e responderam-me com um "you are beautiful".
Prefiro estas vozes àquelas que antes habitavam a minha cabeça. Estas pelo menos são encorajadoras e falam em inglês. Às vezes, dizem-me coisas que eu não percebo muito bem. O que me leva a nem sempre fazer aquilo que elas me ordenam. O que me leva a acreditar que não sou totalmente dependente delas.
As outras, as portuguesas, eram chatas. Mandavam-me ir comprar pão e lavar o carro. Em certos dias, quase me convenciam que o melhor era meter termo à vida. Ofendiam-me com insultos que só lembram mesmo a quem domina o calão português.
Felizmente, apareceram as vozes inglesas e, em menos de dois "fuck you", meteram as portuguesas a andar.

Recado no frigorifico

Hoje de manhã, quando saires, deixa a janela do quarto aberta e fecha com força a porta da rua. Se não o fizeres com força suficiente, é muito provável que fique aberta. Gosto muito de ti e espero encontrar-te mais logo para um café e um cigarro.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Bloqueio II

Bloqueio quando percebo que há gente, que estando num estado de total sobriedade, consegue ter exactamente as mesmas conversas estúpidas e sem sentido que eu tenho quando me encontro num estado de total bebedeira (estado esse dominado pelo álcool que me palpita nas veias e pela sensação alegorico-surrealista que o mesmo me provoca).
Tudo me leva a crer que o organismo dessas pessoas produz substâncias que têm efeitos semelhantes àqueles que o excesso de álcool provoca. Excluindo talvez os enjoos e as ressacas.

Bloqueio

Bloqueio quando leio o que os outros escrevem, seja em blogues, revistas ou livros. Se uns há que escrevem espectacularmente bem, reflectindo uma sensibilidade literária nunca vista e uma cultura fora de série, outros há que até me fazem sentir envergonhada, por tanto escreverem e nada dizerem.
Por não me sentir inserida nem num nem noutro grupo de escritores. Por não me sentir suficiente para me considerar escritora também, só posso deixar aqui esta notícia de última hora: bloqueei.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Uma certeza

Havemos de brindar com copos cheios de nada ao futuro sem hora marcada.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Contudo sei quem sou

Porque não sou mais nem menos do que as outras pessoas?
Porque me deleito com pensamentos obscenos,
Que toda a gente tem?
E porque transpiro eu embaraçada ao pensar na coisa vaga de ser descoberta nas intermitências da vergonha?
Serei mais do que os outros,
No sentido de sentir e perceber que aquilo que sou está errado?
Serei eu menos que os outros,
Ao pensar que todo o meu pensamento é leviano e descurado?
Não me compreendo esta natureza que nada me traz de novo.
Não me necessito decifrada quando eu sei que já me decifrei na pele dos outros.
Na pele, na razão e no pecado.
Daquele que mora ao lado, mas daquele que também nos arromba o coração,
Que nos parte os telhados de vidro com pedras anteriormente arremessadas por nós.
Serei eu louca e imprudente, incoerente e insuficientemente esperta nesta arte de existir?
Questionarei eu demais coisas inquestionáveis?
Barrarei eu a entrada à razão livre de explicações maiores do que aquela caixa que encerra o meu coração?
Porque me escrevo em palavras que não compreendo?
E porque me gritam em silêncio obstruções à minha felicidade?
A verdade é que eu sou um trapo.
Que é mais trapo do que aqueles que se dizem velhos em sabedorias populares.
Mas não sou nem mais nem menos do que aqueles que encontro todos os dias.
Não sou mais nem menos do que todos os outros trapos.
Sou um mero trapo.
Daqueles que nos limpam o pó, que nos tapam a loiça e que nos servem de nada.
Serei apenas diferente, por me considerar ausente na forma que o meu corpo tomou?
Por achar a minha essência longe das tarefas que desempenho,
Das gargalhadas que convoco para a mesa de café?
Por dissertar sobre meros temas que a ninguém interessam
E por compreender desconfiada aquilo que me entra pelos ouvidos?
Contudo sei quem sou.
Apesar das dúvidas, dos medos e das frustrações.
E deambulo acertadamente pela via errada da minha vida.

domingo, 2 de novembro de 2008

Ex.mo Sr. Senupe

Digam-me lá se esta fotografia não faz lembrar as fotografias oficiais dos nossos chefes de estado? Porém, a diferença não está nem na espécie animal nem na pose, mas sim no facto de eu não poder votar no Senupe nas próximas eleições.