terça-feira, 9 de julho de 2013

Preciso do certo e do errado
Para tomar balanço e saltar.
Isto de se tomar consciência do que se é,
Um ser indubitavelmente errático,
Com pernas, com pés,
Com cara de parvo,
Não é fácil.

É piscar os olhos e perceber que lá dentro há qualquer coisa,
Que vai e vem.
Que o cérebro  se apaga, à mínima martelada,
Mas que é preciso martelar-se muito na vida
Se se quer ser alguém.

Preciso do certo em certa medida,
Do errado, em certa outra.
Não estou bem em lado nenhum,
Mas também já percebi que isso a poucos importa.

O que importa é se há pompa e circunstância,
Nas anormalidades que pratico.
Se no dia do juízo final
Existe alguém que perca a cabeça
E o juízo.

Se as flores estão baratas e se há jazigo
O canto certo, nas medidas certas
Para todos em coro aplaudirem e dizerem:
- Ah, assim está bem!
Que isto de se enterrar quem cá não faz falta,
Dá um trabalho do caraças, mas compensa.

Oh se compensa!
A florista, o cangalheiro,
Todos ganham, mas ninguém esfrega as mãos de contente
Não à frente de toda a gente,
Só lá em casa à hora do jantar.

Não sei afinal,
Se preciso de ter conhecimento e proporções ideais
De certo e de errado,
De tomada de consciência da inconsistência que tudo isto é.
Talvez devesse apenas,
Encorajar alguns a irem ao meu funeral,
Suborná-los com bebidas,
Mostrar-lhes o corpo,
Escrever-lhes versos
E ser patética, como sempre,
A fingir que sou gente,
Sem grandes filosofias
E deixando de parte a sinceridade
E a vontade de pagar
As pequenas dívidas

Que não parei de acumular.