segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Arrastar

Acho melhor não. O vento que se faz sentir, gela-me os ossos. As mãos, incapacitadas que estão, tremem na perspectiva insensata de um novo amor que não chega. Não conheço nada que não seja o caminho pisado pelo enforcado, todos os dias, a todas as horas. O mesmo caminhar, o mesmo pecar, o mesmo fim. A mesma mulher, a chorar, arrastando consigo a penúria e o lamento desse tormento que é perder alguém, agarrando a esperança que lhe resta ao terço que gira e rodopia e dança nos seus dedos.
Suponho que o fiz. Desejei um espaço imaculado, livre do desassossego e do burburinho, daqueles que me pretendiam velar. Arrastei os pés e as pernas e as memórias que se arrastavam a si próprias, para dentro de um buraco manifestamente puro, possivelmente falso. E por lá me deixei estar.
Agora estática. Sorumbática. Apática. A pessoa que fui, está lá encostada à pedra tumular. Observando o ritual negro de quem chora, de quem se despede, de quem leva flores e de quem as rouba no final. A pessoa que achava melhor não, que suponha o que fazia, deteve-se. Corrigiu um erro grave nas palavras de despedida. Riu-se. Tanto perfeccionismo de nada serviu à eternidade. Rosto fechado, pele morta. Agora dorme e não te esqueças.