sexta-feira, 31 de julho de 2009

Mr. Cohen, I'm your fan!

Quando dei por mim, tinha-me levantado da cadeira e, com os polegares enfiados nos bolsos da saia, balançava o meu corpo suavemente para a esquerda e para a direita ao som duma das minhas músicas favoritas: "First we take manhattan".
Dando-me conta que estava a fazer exactamente aquilo que noutros concertos via os trintões e trintonas fazer, percebi que estou prestes a fazer os trinta e que a idade traz-nos destas coisas. Ainda enfiei mais dedos nos bolsos, mas já não consegui disfarçar: assumi-me esta noite pré-trintona com orgulho!
Mas não era isto que queria contar. Queria falar do grande senhor que é Leonard Cohen e como ele consegue surpreender, mesmo quando um concerto é praticamente igual ao que se viu há um ano atrás em Algés. Mas isso já toda a gente sabe ou, pelo menos, deveria saber.
Sala cheia. Lugares sentados. Uma plateia Vip cheia de caras de gente desconhecida, pelo menos para mim. Actrizes de novelas da TVI que só a muito custo consigo dizer "aquela cara não me é completamente estranha" enquanto tento focar a vista e me cruzo com um Pedro Abrunhosa vaidoso, de calças brilhantes e óculos muito escuros que, certamente, vive invejoso de ver alguém aos 74 anos ser conhecido para lá de Badajoz.
Da pequenez artística existente em Portugal, não falo. Deixo para depois. Apesar de não me referir à mesma no sentido de achar os nossos músicos maus, antes pelo contrário: há muitos bons músicos em Portugal, incluindo o Abrunhosa. O problema reside em viverem um eterno complexo "Peter Pan" e não conseguirem lidar com isso de maneira nenhuma.
Passando à frente: este foi, muito possivelmente, o último concerto que vi de Leonard Cohen. Mas para quem pensava, há meia dúzia de anos, que nunca o iria ver ao vivo, imaginando-o reformado a ler o jornal à beira-mar, sinto-me privilegiada. Muito mesmo. E mais ainda se deve sentir a minha amiga que o viu o ano passado quando, poucos meses antes, o julgava morto.
Há artistas que com o passar dos anos perdem os seus dotes vocais, mas o senhor Cohen não. Ganha-os. Se ele continuar a fazer concertos, espero vê-lo daqui a 10 anos, para comprovar esta minha teoria. Para isso e para matar saudades de um homem extremamente simpático e humilde em palco, que tira o chapéu quando ouve os outros músicos e a quem brilham os olhos quando recebe uma ovação.
Num ano em que não fui a muitos concertos e que sofri na pele um segundo cancelamento dos Depeche Mode, sinto-me mesmo assim feliz e completa, muito graças ao concerto desta noite. Thank you, Mr. Cohen! I'm your fan!

P.S. - O palco estava coberto com tapetes, deixando deste modo uma ideia/conselho para o Dave Gahan dos Depeche Mode: aprende com os mais velhos e mete tapetes no palco para evitar essas tristezas que te têm acontecido ultimamente! Raio dos putos!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Estive Ausente

Porque com a ameaça mundial - e quem sabe até interplanetária! - de Gripe A, fiquei com medo de morrer e preferi evitar a contaminação blogosférica (nunca se sabe quem é que visita o nosso blogue). Entretanto, aproveitei este tempo para assinar contrato com o jovem (senti-me tentada a tratá-lo por "jovem promessa") que irá mascarar-se de soldado nazi e fazer caniches com balões no meu funeral.
Escolhi um jovem de 9 anos de idade, que vive isolado num monte alentejano, nunca foi à escola e só se alimenta do que a terra dá. Há fortes probabilidades de, mesmo que a gripe não me ataque e eu morra de velha, este jovem continuar vivo e poder cumprir o meu desejo surrealista mais votado neste blogue.
Entretanto, reparei que perdi um seguidor. Fiquei triste, mas a vida continua. Afinal de contas, decidiu seguir-me durante este período em que desenvolvi a gripafobia, tendo sido - obviamente!! - o momento menos oportuno para o fazer. Devia ter aguardado mais uns dias, mas a vida agitada de seguidor é assim mesmo. Adeus Ed Costa e descansa em paz, onde quer que estejas!
A todos os outros, as minhas desculpas por esta ausência e o meu agradecimento pelos votos no "gajo mascarado de soldado nazi a fazer caniches com balões". Da minha parte, prometo ser mais assídua e desejo, do fundo do coração, que a comunicação social se recorde da Casa Pia ou doutros casos escandalosos do nosso país e se deixe de notícias alarmistas sobre pseudo-pandemias.

Cultura Pop

Quase que aposto que o vizinho que está a ouvir um dos mais complexos temas do Emanuel, o "Pimba Pimba", é o mesmo que logo a seguir à morte do Michael Jackson ouviu sem parar o "Thriller".

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A poesia das pequenas coisas

Repara na poesia das pequenas coisas. No pequeno Santiago que não quer dar a mão à mãe e na pequena Beatriz que está desejosa de chegar a casa para dormir uma sesta. Nos nomes e nos rostos destes, que se repetem e se multiplicam por milhares, nas creches e nos lares. Repara na senhora que traz um lenço na cabeça e que lê um pequeno livro com caracteres que desconheces o significado: será um romance ou um policial?
Repara no teu rosto ausente, reflectido nas montras. Nos teus pequenos olhos, assustados e ao mesmo tempo curiosos. No teu corpo ainda jovem, fardado para a vida com a mesma farda que usaste tantas vezes, em pequenas grandes guerras, reclamando paz. Repara nos pequenos sinais que a tua pele ostenta. Nas pequenas cicatrizes. Nos pequenos recantos, outrora beijados por grandes seres.
Repara no pequeno fio de luz que inunda o teu quarto de manhã. Como ele te acorda anunciando que é mais um dia e que tu estás cá para o contemplar. No sabor da água quente que no banho escorre pelo teu rosto. No cheiro do teu perfume misturado com o perfume de quem te abraça e te dá os bons dias.
Repara na voz de quem te liga, só para saber se estás bem ou por onde tens andado. E nada mais. Nas pequenas frases simples que não querem dizer nada mas que significam muito mais do que a própria explicação dos sentimentos.
Repara em tudo, não negligencies nada. Tudo o que de mais pequeno te possa parecer, é muito. É grande. As tuas pequenas coisas, são versos, pequenos versos, que rimam entre si e que juntos se transformam num grande poema: a tua vida.