As velhas lambiam desalmadamente os seus santinhos agradecendo a absolvição de pecados já esquecidos. Os filhos agrediam os pais por não haver mais escola até segunda-feira. As criadas afoitas choravam depois de mais um par de testes de gravidez negativos. Os barcos ancoravam-se e apodreciam dentro do peixe que não tinha sido pescado. Os bêbedos reencontravam-se e bebiam largos goles de bebidas ácidas procurando a sobriedade prometida. As televisões retomavam as suas emissões a preto-e-branco para gáudio dos revivalistas. As aves retomavam os seus voos migratórios em busca doutros dias da semana, talvez dois ou três domingos. Os sapatos desprendiam-se dos pés e aconchegavam-se nas bermas das estradas, enquanto miravam enternecidos os acidentes rodoviários. As noivas rezavam terços e aguardavam sempre virgens pelo dia seguinte. Os retratos permaneciam amarelecidos nas suas molduras empoeiradas sobre os eternos napperons. Os homens puxavam cigarros e os cigarros deixavam-se fumar. As portas dos lares fechavam-se e lá dentro pessoas-animais gritavam.
Tinha chegado sexta-feira.