terça-feira, 25 de agosto de 2009

Pensamentos

As pessoas detêm-se no passeio, a olhar para o carro que está a ser rebocado pela polícia. Ao cimo da rua, surge uma ambulância. Alguém menos atento, pensa que a mesma vem em socorro do carro rebocado e dos prováveis mortos resultantes do acidente contra a montra da loja chinesa. E excita-se.
Aquele taxista qualquer dia vê quem é que manda aqui, murmura o sem-abrigo e atravessa apressadamente a rua, quase derrubando três adolescentes muito produzidas. Do outro lado, espera-o um copo cheio de tinto: o primeiro da manhã. Ai como o primeiro me sabe bem!
Os pensamentos ouvem-se alto. Ouvem-se e confundem-se com as conversas de esquina, das mulheres das mercearias, dos homens das drogarias. Os pensamentos tristes sobem pelo ar e ficam presos nos fios de electricidade, à espera que alguém os chame de novo para mais uma volta. Os pensamentos felizes, sorriem nos lábios das pessoas, nos olhos brilhantes, nas mãos dadas que transpiram.
Algumas pessoas, aprendem a viver com os seus pensamentos e outras ignoram-nos, acreditando que nunca pensam em nada. Estas últimas, acreditam também que nada as detém e nada as atormenta. Como se não pensar em nada fosse uma dádiva, à semelhança do que acontece quando nos livramos de uma quinquilharia que temos a mais na sala.
Combatendo o descuido dos seus donos, os pensamentos esquivam-se e vivem por aí nas ruas, ao deus-dará. A mendigar amor e compreensão. A chorar e a rir e a fazer de conta que está tudo bem.
No entanto, basta uma sirene soar no ar ou um guinchar de pneus para que as pessoas voltem a pensar, sobretudo se a desgraça for das boas. E basta que a sirene se desligue e o carro continue a sua marcha, para que voltem a deixar escapar os seus pensamentos e regressem leves às suas rotinas.

8 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom. É o bom, e o bonito. Juntos.

Cristina H. disse...

"Anônimo", obrigada! :)

Anônimo disse...

Hoje apanhei na rua um pensamento que não era meu. Estava húmido e sôfrego, nada saudável. Não me soube dizer de quem era. Tinha-se perdido quando se soltou de um dos intervenientes de uma qualquer conversa de esquina. Era um pensamento escondido, daqueles que não se verbalizam, por vergonha, incúria, regra social. Olhei-o de alto a baixo e evitei-o. Fingi que não o vi e mudei de passeio. Afinal, nunca se sabe por onde é que estes pensamentos desconhecidos andaram antes.E hoje em dia toda a gente pensa na gripe.. Sei lá se não estará contaminado.

Mais uma vez, és grande. E não precisas de ler como uma escritora quando escreves como escreves. RESPECT!
Ass: Party Pooper

Anônimo disse...

(ah, olhar de alto a baixo e fingir que não se vê algo é possivel - basta ver o que o sócrates faz com a crise...)

Party Pooper

Cristina H. disse...

Party Pooper,
Irei ler como uma escritora. Aliás, já comecei. É sempre bom aprender. E eu sinto tanta necessidade de o fazer (sabes aquela sensação de que ainda não sabes nada? É essa mesma!)...
Tu é que és grande, muito grande, e também um grande amigo!:)
bjs

Cristina H. disse...

(e pela amostra, não me pareces nada party pooper, antes pelo contrário;))

Anônimo disse...

Para mim é impossível deixar o pensamento de lado. O pensamento reflexivo parece ser constante. Ás vezes é de mias porque penso burrices. Tirando esses excedentes, não me importo de pensar.

Cristina H. disse...

Obrigada Vagabundo pela 'achega'!
Recomendo o "penso que penso" dos Mão Morta.
Abraço.