segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Luz da Entrada

Deixei a luz da entrada acesa toda a noite. Os vizinhos devem ter estranhado, ou talvez não. Devem ter-me julgado aterrorizada pelo facto de viver sozinha, ou apenas comentado que se continuasse assim, não ganhava para a conta da luz. Ninguém suspeita que foi sem querer, porque fazê-lo involuntariamente não tem piada nenhuma. Não dá azo a comentários, nem a falatório.
Deixei a luz da entrada acesa, porque me esqueci completamente de que a tinha ligado para que tu pudesses sair, com as tuas coisas, sem tropeçar em nenhum degrau. Quando te vi passar a porta do prédio, vim para dentro e desliguei todas as outras luzes. Enterneci-me com a sensação de estar sozinha num mundo que só a mim me pertence: a minha casa. Esqueci-me de tudo o que me rodeava. Perdi a noção do tempo, sentada e estática numa qualquer divisão.
Quando acordei deste estado, era tarde e estava sozinha. Ninguém respirava por aqui. Ninguém ocupava espaço algum. Só eu e o tic-tac de um relógio velho de cozinha. Só nós os dois e um bater descompassado de coração. Inspirei o suave perfume de incenso que ainda pairava no ar e adormeci, alheia a uma luz que deixei acesa.

Um comentário:

Cristina H. disse...

Este link não era para ter ficado debaixo da letra?;)
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