terça-feira, 19 de outubro de 2010

Deixo aqui Saudades

Deixo aqui saudades, na rua em que caminho e onde me é possível distinguir o fumo das chaminés do fumo das castanhas acabadas de assar. Deixo aqui saudades, num parapeito ao sol de tarde sujeito, onde vagueiam silhuetas felinas e rostos talhados pelos anos que passam. Onde se debruçam os cabelos brancos que - escassos e resistentes - enaltecem e reinventam uma distante juventude.
Deixo aqui saudades, do Outono das nossas vidas, da pessoa que fui, da pessoa que teimo em ser e da pessoa que um dia serei. Deixo aqui saudades, no conforto de um abraço dado por uns grossos braços de lã. Onde se respira relva acabada de cortar, onde se é atacado pela ternura de um grupo de petizes nos seus bibes, de par em par. Deixo aqui saudades, onde o frio se confunde com o aconchego e o aconchego se funde com o apego que tenho à terra que um dia irei deixar.
Hoje aprendi a escrever saudade: tem sete letras e mora em todo o meu coração.

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