quinta-feira, 21 de julho de 2011

Entre o cais e o comboio

Entre o cais e o comboio, há um homem que morre. Aflito na sua vergonha, seguro na sua certeza. Há um homem, que sacode a água do capote, desse dia cheio de chuva, e deita-se à linha como se mergulhasse no mar, jovem e belo, naquele outro tempo que agora recorda com saudade. Há um homem que, num milésimo de segundo, revisita toda a sua vida e não se arrepende de nada. Deixando-se cair, deixando-se morrer. Abandona-se despreocupado, entre o cais e o comboio.

2 comentários:

Pedro disse...

O tempo nas estações e não nos comboios. A espera é mais profícua que a viagem, sobretudo quando se espera pela viagem? Ou a viagem está à espera de ser contada?

(se o arrependimento matasse, morria. A vida é uma aprendizagem,lenta, e ainda mais quando se é néscio como me assumo. E com o tempo aprendemos onde erramos e a quem faltámos. Dito isto, desculpa qualquer coisa. Continua.)

Cristina H. disse...

Obrigada pelo desabafo. Não te sei responder, meu caro. Também eu ando às aranhas com viagens e com esperas e com estações, cheias de gente e pombos e saudades e arrependimentos.
Que mais te posso escrever? Se o arrependimento matasse, talvez não estivesse morta, mas muito provavelmente, estaria ligada a uma máquina, respirando artificialmente.
Somos novos para estas coisas, dos arrependimentos e dos erros e mais as faltas. Deixemos isso para um tempo futuro, onde estejamos a sós com os nossos pensamentos e as nossas fotografias dos entes queridos defuntos, à espera 'dela', num qualquer depósito de humanos devolutos.
Volta sempre meu caro. Um beijo nessa cara.